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Veja como a queda da bolsa de Xangai pode afetar o Brasil

Nesta quarta-feira, o pregão chinês fechou em queda de 5,9%, após abrir com perdas de 8%

8 jul 2015 - 19h11
(atualizado em 9/7/2015 às 07h43)
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Ações na bolsa de Xangai caíram 30% em três semanas
Ações na bolsa de Xangai caíram 30% em três semanas
Foto: BBC

O terremoto financeiro que está ocorrendo na China poderá ter efeitos significativos no Brasil, segundo economistas consultados pela BBC Brasil.

A bolsa de Xangai caiu 30% nas últimas três semanas, acumulando perdas de mais de US$ 3 trilhões - cerca de 10 vezes o PIB da Grécia.

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Nesta quarta-feira, o pregão chinês fechou em queda de 5,9%, após abrir com perdas de 8%. Foi um dia de "pânico" nos mercados chineses. No total, as negociações dos papéis de 1,3 mil empresas já foram suspensas.

Segundo especialistas, o mercado brasileiro pode ser afetado por essas turbulências principalmente de duas maneiras.

De um lado, a queda da bolsa chinesa contribuiria para aumentar a percepção de risco no mercado internacional, já abalada pela crise na Grécia.

"Como resultado, os investidores tendem a fugir dos mercados emergentes ou a cobrar um preço maior para colocar dinheiro nesses países", diz Marcel Caparoz, economista da RC Consultores.

A queda do real frente ao dólar nesta quarta-feira já seria um reflexo desse movimento de fuga dos ativos e moedas emergentes.

Em meio ao temor de um colapso no mercado chinês, a moeda americana chegou a R$ 3,23, maior valor em três meses. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, também fechou em baixa de 1,07%.

"Além disso, dependendo do modo como a crise afetar a economia chinesa, podemos ter um impacto importante sobre o preço das e as exportações brasileiras no médio prazo", diz Caparoz.

Ele ressalta que, hoje, o minério de ferro, a soja e seus derivados representam um quarto das vendas externas do Brasil - e a China é, de longe, o principal mercado para esses produtos.

"Por isso, essas turbulências podem atrapalhar a recuperação da balança comercial brasileira em um momento em que o país procura retomar o crescimento", concorda André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

"Na realidade, empresas que produzem minério de ferro (como a Vale) já estão sofrendo com uma queda do preço do produto em função do desaquecimento chinês e essa queda no mercado chinês certamente não vai ajudar."

Novo 'crash'?

Para Perfeito, porém, algumas análises sobre as possíveis repercussões da queda da bolsa chinesa são exageradas.

O economista da Gradual diz que o mercado já estava monitorando os papéis chineses e esperando uma dinâmica de 'estouro da bolha'.

"É claro que essa queda preocupa e deve ser monitorada, mas também não deve ser nenhuma tragédia, nenhum 'crash de 1929' chinês", afirma.

Foto: BBC

Desde o início do ano, as ações das empresas listadas na bolsa de Xangai tiveram alta de mais de 140%, apesar da economia do país estar desaquecendo.

Muitos chineses chegaram a tomar empréstimos para comprar ações nesse período de bonança.

"Houve um descolamento entre o que ocorria na bolsa e os fundamentos da economia real, então era natural que alguma hora os papéis começassem a cair", diz Caparoz.

Isso ocorreu em meados de junho, quando os investidores começaram a achar que já estava na hora de vender seus papéis e realizar seus lucros.

Para conter a queda das ações, o governo anunciou um pacote de medidas.

A agência que supervisiona as maiores estatais do país, por exemplo, disse tê-las aconselhado a não vender ações "para garantir a estabilidade do mercado".

"Mas essas medidas parecem ter aumentado o medo de um colapso na bolsa e os papéis caíram mais ainda", diz o analista da RC Consultores.

Robert Peston, editor de economia da BBC, explica que o "terremoto financeiro chinês" até agora vinha causando menos alarme no cenário internacional que a crise grega porque esse prejuízo de "US$ 3 trilhões está sendo dividido entre cerca de 90 milhões de chineses em vez de apenas alguns governos europeus."

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"Mas não se pode diminuir a importância política de 90 milhões de chineses se sentindo bem menos ricos", diz ele. "Até por isso, o governo chinês está tentando de tudo para encontrar uma saída para a crise, embora esteja fracassando em suas tentativas."

Peston dá como exemplo a determinação de que 1,3 mil companhias tenham a comercialização de suas ações suspensa.

"A lógica é que isso impediria o preço das ações destas empresas de cair ainda mais, já que esses papéis não podem ser comprados ou vendidos. Mas, isso significa que outros US$ 26 trilhões em riqueza, ligados a essas ações, estão completamente congelados."

Para Peston, o colapso também prejudica os esforços do governo chinês de fortalecer o setor privado no país.

"O setor público é, mais uma vez, o 'todo poderoso' da China", diz ele. "E se a queda dos mercados levar a mais uma grande desaceleração no crescimento da segunda maior economia do mundo, todos vamos sentir as ondas de choque."

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