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Como um grupo de investidores está ganhando dinheiro com o funk brasileiro. Entenda

Primeira empresa no País a investir em royalties musicais, Hurst Capital adquiriu direitos de sucessos do funk nacional e sempre que a música é executada, em shows ou no streaming, o investidor recebe um valor; retorno anual projetado está na casa dos dois dígitos

18 fev 2021 - 17h06
(atualizado em 19/2/2021 às 17h38)
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BRASÍLIA - Com 318 milhões de execuções somente na plataforma de vídeos YouTube, a música Parado no Bailão é um dos sucessos recentes do funk nacional. E pelos próximos três anos, sempre que a música passar por execução pública, como em shows ou casas noturnas, ou digital, como em plataformas de streaming, um grupo seleto de investidores receberá os royalties ligados a seus direitos autorais.

Isso porque a música que explodiu na interpretação de MC Gury e MC L da Vinte faz parte de um catálogo da gravadora CP9/Akira, referência no funk brasileiro, que foi negociado com a Hurst Capital.

Fintech de São Paulo especializada em investimentos alternativos, a Hurst é a primeira empresa brasileira a estruturar operações com royalties musicais, um mercado que começa a ganhar corpo também no exterior. O negócio consiste em adquirir ativos reais - como os direitos de obras musicais - e repassar esses recebíveis a investidores.

A Hurst Capital adquiriu os direitos do funk 'Parado no Bailão', interpretado por  MC Gury e MC L da Vinte e parte do catálogo da gravadora CP9/Akira.
A Hurst Capital adquiriu os direitos do funk 'Parado no Bailão', interpretado por MC Gury e MC L da Vinte e parte do catálogo da gravadora CP9/Akira.
Foto: Reprodução/YouTube / Estadão

Nesse caso específico, a Hurst adquiriu os direitos de obras de compositores ligados à CP9/Akira, como Parado no Bailão, além dos royalties de músicas a serem lançadas no futuro. A entrega mínima é de 22 novas músicas por mês. A CP9/Akira atua em gêneros musicais como funk, trap, hip hop/rap e regional mexicano.

Com os direitos em mãos, a Hurst estruturou a operação no formato de crowdfunding (investimento coletivo). Por meio dele, interessados podem investir a partir de R$ 10 mil para receber, em troca, os royalties das músicas. Após três anos, os direitos serão revendidos.

Toda vez que a música é executada publicamente, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável pelo recolhimento e distribuição dos direitos autorais das músicas no Brasil, envia à Hurst e aos investidores os valores referentes aos royalties. Quando a música toca em plataforma digital - como YouTube, Spotify e Deezer - a União Brasileira de Editoras de Música (Ubem) é a responsável pelo envio de royalties.

Para atuar como plataforma de crowdfunding, a Hurst tem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Operações como a de royalties de músicas também precisam obedecer à Instrução CVM nº 588, que trata de crowdfunding de investimento. Ao Estadão, a CVM confirmou que Hurst está autorizada a operar nesse formato e disse que não há denúncias, reclamações ou investigações contra a empresa.

"Fundamos a empresa em 2017 ao vermos o movimento que estava ocorrendo em outros países. Nos Estados Unidos e na Europa, havia trilhões de dólares aplicados em juros negativos. Então, grandes fundos institucionais estavam migrando parte de suas carteiras para ativos alternativos", explica Arthur Farache, presidente e um dos fundadores da Hurst. Advogado com passagens pelo Citibank e pelo escritório Machado Meyer, Farache fundou a fintech em sociedade com Leonardo Viana, ex-Starwood Capital e Brookfield, e Carlos de Carvalho, com passagens por IBM e B3.

Segundo Farache, a busca por aplicações alternativas abriu oportunidades também no Brasil. "Olhamos o cenário e vimos que se o País elegesse um presidente alinhado com o mercado, teríamos uma queda na taxa de juros. Isso acabou acontecendo", afirma.

Alternativas à taxa de juros baixa

Com a Selic (a taxa básica de juros) em 2% ao ano, no menor nível da história, parte dos investidores passou a buscar alternativas para fazer render suas carteiras. A aplicação em royalties de músicas é uma das novidades. A Hurst também formata operações ligadas a créditos de ativos judiciais e precatórios (valores devidos a pessoas físicas ou jurídicas após sentença definitiva na Justiça).

O cenário base da operação de funk da Hurst projeta um retorno de 15,75% ao ano (fora taxas, mas sem considerar o pagamento de impostos). No cenário pessimista - que pressupõe menos execuções que o esperado nos próximos três anos - o retorno projetado é de 11,13% ao ano.

Retornos assim são, atualmente, superiores aos da renda fixa tradicional. No ano passado, os fundos de renda fixa registraram ganho médio de 2,37% ao ano no Brasil e a caderneta de poupança rendeu 2,12% ao ano.

Ao montar as operações, a Hurst considera o histórico de reprodução das obras nos últimos cinco anos. Após lançada, uma música atinge picos de veiculação e, depois, costuma deixar de ser tão buscada em plataformas de streaming. Isso é mais intenso no caso do funk - gênero que possui sucessos passageiros e volume grande de lançamentos. Por esse motivo, a Hurst decidiu adquirir também os direitos de músicas a serem lançadas.

Caso surja um grande sucesso, os retornos podem ser até maiores. Em operações anteriores, foram adquiridos apenas royalties de músicas já existentes - algumas delas clássicas.

Antes do funk, a startup adquiriu os direitos de obras do cantor Paulo Ricardo, ex-RPM e ícone do rock nacional. Estão na lista de 590 obras sucessos como Rádio Pirata, Olhar 43 e Vida Real, música de abertura do Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo. A operação ligada a Paulo Ricardo captou R$ 1,5 milhão em investimentos.

A fintech também captou R$ 2,5 milhões em investimentos ligados à obra do pianista João Luiz de Avellar, compositor de MPB e bossa nova, e R$ 1,899 milhão em operação vinculada ao compositor Philipe Pancadinha, autor de músicas sertanejas e pagodes. É dele o sucesso Largado às Traças, dos sertanejos Zé Neto e Cristiano, com 798 milhões de visualizações apenas no YouTube. A operação ligada à CP9/Akira já captou R$ 1,280 milhão.

Os valores ainda são baixos para o mercado brasileiro, mas a experiência internacional sugere que há espaço para crescer. Lá fora, algumas operações com royalties de músicas já movimentam milhões de dólares.

Um dos exemplos envolve o compositor Bob Dylan - ícone norte-americano e vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 2016 -, que no fim de 2020 vendeu seu catálogo de músicas para a Universal. O valor da operação foi estimado em mais de US$ 300 milhões.

No ano passado, o Hipgnosis Songs Fund, fundo de investimentos voltado para a aquisição de royalties e propriedades intelectuais, arrecadou no Reino Unido 236 milhões de libras na venda de ações, com o objetivo de financiar a compra de músicas. Na plataforma Royalty Exchange, também é possível comprar e vender royalties ligados a artistas internacionais.

Investimento em royalties de músicas

O que é?

O investimento em royalties de músicas tem crescido em outros países e já pode ser feito no Brasil. A operação consiste na compra dos direitos que recaem sobre a obra (composição) e o fonograma (gravação). Os interessados podem aplicar recursos nesses direitos por meio de crowdfunding (investimento coletivo).

Qual o retorno?

O retorno dos investidores está ligado ao pagamento pela veiculação da música em locais públicos e por meio de plataformas digitais. Assim, quanto mais tocada uma música no Spotify ou no Deezer, por exemplo, maior o repasse. Algumas operações projetam retorno anual na casa dos dois dígitos.

Qual o risco?

O risco das operações é o de propriedade intelectual. Entre os fatores que podem influenciar o retorno estão: possibilidade de surgirem novos métodos de pirataria e falsificação; mudanças da política de remuneração do Ecad; execuções em número menor que o esperado; alterações no cenário econômico que reduzam o número de eventos culturais.

Diversificação

O investimento em ativos alternativos - entre eles, os royalties de músicas - tem riscos diferentes dos envolvidos em aplicações como fundos de renda fixa ou ações. Por isso, essa possibilidade tem sido acessada em outros países por quem deseja diversificar suas aplicações.

Estadão
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