Como um projeto de revitalização de trilhas na Mata Atlântica quer fomentar pequenos negócios
Negócios rurais fazem parte de projeto que abrange 71 quilômetros no litoral de Santa Catarina
Depois de anos trabalhando em uma multinacional em São Paulo, o advogado Enedir Diehl começou a dar uma guinada na vida. Em 2005, sua mãe foi diagnosticada com um câncer de mama e a família resolveu mudar o estilo de vida e passar a se alimentar somente de produtos orgânicos.
Na época, o mercado brasileiro do segmento era menos organizado - e com menos credibilidade -, o que levou Diehl e os pais a comprarem um sítio em uma área de Mata Atlântica, em Santa Catarina, com o objetivo de produzir orgânicos para o consumo da família.
Ele começou com pouco. No sítio, que foi batizado de Viveiro Três Riachos, além da horta, passou a criar algumas galinhas. E delas uma pequena produção de ovos caipiras foi surgindo.
À época, ele ainda equilibrava os cuidados com a propriedade e sua carreira corporativa em São Paulo. Em uma ocasião, ao levar ovos de seu sítio aos colegas de trabalho, percebeu que ali havia um negócio em potencial, pois passou a receber encomendas. "Comecei a aumentar o número de galinhas para atender essa demanda", conta.
Poucos anos depois, Diehl resolveu deixar seu emprego para se dedicar ao seu negócio. Na medida que ia investindo na revitalização da floresta com o plantio de árvores, percebeu mais um potencial negócio: o turismo rural. "O dia a dia das aves acabou gerando uma curiosidade e começarmos a receber visitantes, alguns ex-colegas de trabalho. Aí pensei: temos um outro negócio", afirmou.
A ideia a partir daí foi construir um quiosque, para ser um ponto de apoio aos visitantes, inclusive aqueles que chegavam por trilhas próximas de seu sítio. Outras propriedades vizinhas, cada uma com um tipo de negócio, começaram a fazer o mesmo e uma troca de visitantes se tornou constante.
O negócio rural do Diehl é um dos 14 que fazem parte de um projeto de revitalização de trilhas da Mata Atlântica que abrange 71 quilômetros no litoral de Santa Catarina. Hoje, turistas utilizam a região para a prática de caminhadas e montanhismo. O trecho onde está o sítio de Diehl integra o Caminho da Mata Atlântica, trajeto de 4 mil quilômetros criado para conectar o Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, ao Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro.
O projeto nacional é liderado por Instituto Chico Mendes (ICMbio), Instituto do Meio Ambiente (IMA) e Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
"Temos como um pilar no instituto educação e empreendedorismo e incluímos essas questões dentro do projeto para criar um vínculo de preservação do bioma e as famílias", afirma Bárbara Bueno, diretora executiva do Instituto Camargo Corrêa, um dos parceiros nas recuperação das trilhas em Santa Catarina.
No projeto, as trilhas foram redefinidas, sinalizadas e limpas, juntamente com ações destinadas ao fomento ao empreendedorismo, com o desenvolvimento de negócios locais como o estacionamento para recepção dos turistas. Dentre os locais que receberam apoio, a aldeia Yguá Porã, em Biguaçu (SC), passou a oferecer um espaço para camping, alimentação e vivências culturais para os visitantes.
Preparação
Empreendedores locais de oito estabelecimentos participaram de workshops de negócios e também receberam investimento para construção de estacionamento, sanitários e quiosques, como o de Enedir, para a recepção de caminhantes.
Também foi feito um workshop de turismo receptivo, o que fomentou o ingresso de 20 jovens na cadeia produtiva do ecoturismo, um concurso de desenho com o tema Mata Atlântica (com a participação de 632 alunos e alunas do quinto ano de escolas públicas e privadas) e uma competição de fotografia voltada para professores, que contou com 117 docentes dos 24 municípios da grande Florianópolis.