Conta de luz deve vir com bandeira amarela em janeiro
Executivos do mercado de energia acreditam que uso das termoelétricas ainda será necessário no primeiro mês de 2021, mas que a partir de fevereiro, com a volta das chuvas, a bandeira deve ficar verde
Após um dezembro marcado pelo acionamento da bandeira vermelha patamar 2, em janeiro a cobrança deve se arrefecer, mas pode ainda não ser zerada. Especialistas no mercado de energia apontam para a perspectiva de que pelo menos a bandeira amarela seja acionada, já que ainda deve ser necessário o uso de algumas usinas térmicas. Com isso, a taxa adicionada à conta de luz deve diminuir dos atuais R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos para R$ 1,343 a cada 100 KWh.
Depois de observar as condições ruins dadas pelos baixos níveis dos reservatórios, associados à previsão de chuvas abaixo da média histórica, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu na semana passada retomar antecipadamente o sistema de bandeiras. O mecanismo havia sido suspenso em maio devido à pandemia do novo coronavírus, quando agência determinou acionamento da bandeira verde, sem cobrança de taxa extra, até o fim deste ano.
Mas a visão do mercado de energia é de que a decisão refletiu o pico do cenário crítico de hidrologia e que o pior já passou. "Hoje, quando fazemos a projeção, já temos uma expectativa de que para janeiro tenha bandeira amarela, e para fevereiro, com o retorno das chuvas para os níveis médios, a bandeira fique verde", afirmou a gerente da consultoria Thymos Energia, Ana Carolina Silva.
O cenário leva em consideração que o chamado preço spot de energia, tecnicamente conhecido como preço de liquidação das diferenças (PLD), já está baixando, após ter atingido o pico de R$ 559,75 por megawatt-hora (MWh), o valor máximo estabelecido para este ano. "O PLD do início de dezembro foi resultado das condições que já não estavam tão boas nos meses antes, mas agora a tendência é melhorar", afirmou Silva.
O presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri, considerou que, se continuar chovendo, a tendência é que haja menor utilização de termoelétricas em relação à operação atual, que conta com 100% do parque gerador térmico em operação. "Mas certamente dezembro e janeiro vai ter um uso forte de térmicas, porque o reservatório está muito baixo, precisa recuperar", disse a jornalistas.
Segundo ele, se em janeiro houver chuvas intensas, acima da média histórica, o cenário muda. Ele considera que o uso de termoelétricas será intenso pelo menos na primeira quinzena de janeiro, e pode reduzir a depender da precipitação.
Conta mais cara em janeiro
O diretor presidente da Trinity Energia, João Sanches, também considera a perspectiva de bandeira tarifária amarela ou até vermelha, patamar 1, em janeiro, tendo em vista a situação crítica dos reservatórios, especialmente do Sudeste e do Sul. "Mesmo com o início das chuvas, o armazenamento dessas regiões foi muito depreciado, porque teve um período seco muito severo nos últimos meses e normalmente nesse período já começam as chuvas e o reservatório começa a ficar estável, e não continua a cair", disse.
Sanches lembrou que a previsão é chegar ao fim de dezembro com um dos piores armazenamentos da história - o subsistema Sudeste/Centro-Oeste opera, hoje, com 16,45% da capacidade e perspectiva de chegar a 17,6% no encerramento do mês. "Isso pode implicar que, mesmo com preços não tão altos, termelétricas sejam acionadas para que se consiga preservar e recuperar os reservatórios para o próximo período seco, porque como estão muito depreciados e as chuvas estão atrasadas, não teremos muito tempo para que reservatórios se recuperem, mesmo com boas chuvas, e isso pode, sim, provocar acionamento de bandeiras."
A diretora executiva da Escopo Energia, Lavinia Hollanda, também considera que a tendência é de bandeira amarela acionada em janeiro. Para ela, a bandeira vermelha patamar 2 não foi uma surpresa. Ela cita a condição dos reservatórios e fato de que tem havido crescimento da carga acima do esperado. "Toda vez que se fala em bandeira tarifária, aponta-se como uma notícia negativa, mas é um mecanismo de sinalização de que os reservatórios estão mais vazios e produzir energia está mais caro, o que pode gerar impacto para consumidor na frente e gerar problema de caixa para as distribuidoras. É uma oportunidade para o consumidor otimizar e estudos mostram que gera reflexos", avalia.
Na mesma linha, o presidente da PSR, Luis Barroso, comenta que considera natural o acionamento da bandeira tarifária com a piora hidrológica, já que é uma sinalização econômica para o consumidor sobre o custo mais elevado da energia. "Cada KWh economizado é um KWh caro de térmica", disse. Na sua avaliação, a bandeira poderia estar mais elevada desde agosto não fosse a decisão inicial da Aneel, tomada no fim de maio, de manter a bandeira verde. Ele disse considera natural a bandeira permanecer com cobrança mais elevada por mais tempo, a depender da hidrologia.