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Contrariando projeções, Guedes fala em inflação controlada

Avaliação otimista do ministro destoa de uma parte dos analistas, que avisam para o risco de estagflação no País

10 set 2021 - 14h00
(atualizado às 15h21)
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Paulo Guedes
Paulo Guedes
Foto: Dida Sampaio

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira, 10, que o Brasil atualmente passa pelo pior momento da inflação, que deve terminar o ano entre 7,5% e 8%, mas que a alta dos preços será controlada em 2022, quando o índice oficial deve fechar próximo de 4%, dentro da meta a ser perseguida. O ministro ainda afirmou que está confiante em um crescimento "robusto" no ano que vem, quando o presidente Jair Bolsonaro tentará a reeleição.

A avaliação de Guedes destoa de uma parte dos analistas de mercado que veem, na verdade, o risco de a economia brasileira passar por uma estagflação, combinação de fraqueza econômica e preços em alta.

Para o ministro, no entanto, a independência formal do Banco Central tem o objetivo de controlar a "inflação transitória". Mesmo independente, porém, o BC não cumprirá a meta da inflação deste ano, como reconhecem o próprio órgão e o ministro. O centro da meta para o ano é de 3,75%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).

A outra parte do trabalho, segundo Guedes, é feita pelo Ministério da Economia, que tem "lutado uma batalha diária a favor do compromisso fiscal". "Acho que vamos ser bem sucedidos em conter inflação. Também temos gatilhos fiscais em todos os entes federativos", afirmou durante evento do Credit Suisse, sem explicar a quais gatilhos se referiu.

A inflação acumulada em 12 meses até agosto chegou a 9,68%, segundo dados do IBGE. Alguns itens, no entanto, subiram muito acima dessa taxa. Entre eles, os combustíveis e alguns alimentos.

Na análise de Guedes, sua equipe foi bem sucedida em não transformar os gastos transitórios com a pandemia de covid-19 em permanentes. Segundo ele, os gastos em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) devem terminar o governo em 17,5%, nível menor do que no início do governo. Quanto ao déficit primário em relação ao PIB, Guedes repetiu que deve terminar este ano em 1,5% e 2022 em 0,3% ou "até mesmo zero".

Guedes afirmou que é esperada uma desaceleração do crescimento após a recuperação em 'V' da economia, mas que está confiante de que as "reformas estruturais" vão garantir um crescimento "robusto" para 2022. A maioria de uma centena de analistas consultados pelo BC, no entanto, projetam expansão de menos de 2% do PIB no ano que vem.

Segundo o ministro, a economia brasileira está passando por uma transição gradual do crescimento baseado no consumo, que contou com a ajuda das transferências governamentais, para um crescimento sustentável guiado pelos investimentos. "Estamos lutando pelo crescimento sustentável guiado pelo investimento."

Um dia depois de o presidente Bolsonaro divulgar uma "Declaração à Nação" na qual afirma que nunca teve "intenção de agredir quaisquer dos poderes", Guedes aposta suas fichas na pacificação do País e na continuidade das discussões de reformas. "A iniciativa do presidente ontem colocou tudo de volta aos trilhos", afirmou.

De acordo com o ministro, a manifestação divulgada na quinta-feira deixou claro que Bolsonaro está jogando dentro das regras e que qualquer excesso verbal foi um "mal entendido". "O presidente não sinalizou em nenhum momento que descumpriria as regras democráticas. Nosso presidente merece respeito, ganhou a eleição com mais de 60 milhões de votos", afirmou. "Nunca aposte contra a democracia brasileira, vamos sempre surpreender."

Em ato político na última terça-feira, 7, em São Paulo, Bolsonaro afirmou que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que é inconstitucional. "Dizer a vocês que, qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais", declarou Bolsonaro na Avenida Paulista.

Estadão
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