Credit Suisse: entenda crise em banco europeu que impactou a Bolsa no Brasil
Banco suíço teve mínima recorde nesta quinta-feira, 15, após declaração negativa de principal acionista
Após os bancos estadunidenses Silicon Valley Bank e Signature Bank quebrarem e, com isso, causarem uma turbulência no mercado de ações internacional, foi a vez do Credit Suisse causar desconfiança e temor em investidores e acionistas. O banco suíço é um dos cinco maiores de toda a Europa e sua insolvência pode trazer grandes impactos negativos no sistema financeiro de todo o mundo.
Só nesta quarta-feira, 15, por exemplo, a desconfiança em relação aos bancos internacionais fez com que o índice do setor bancário recuasse 7,1%, e registrasse a maior perda diária em mais de um ano. No Brasil, o Ibovespa, principal indicador da B3, caía 0,95% às 14h08, indo para 101.953,09 pontos.
No pior momento, o Ibovespa chegou a 100.959,97 pontos, em sessão também marcada pelo vencimento de opções sobre o índice. O volume financeiro somava R$ 3,2 bilhões.
No mesmo ritmo, as bolsas de Londres, Frankfurt, Paris, Milão e Madrid caíam mais de 2%. Na contramão, nos Estados Unidos, o dólar subia 0,99% às 14h22, para R$ 5,3093.
"Hoje realmente é um dia de aversão a risco nos mercados. Essa narrativa da falência de bancos segue ganhando força, em meio a temores de um risco sistêmico", avalia Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3.
O que está acontecendo no Credit Suisse
Desde o ano passado, o banco suíço enfrenta forte crise causada por uma sequência de escândalos e questões legais. Duas empresas, em ocasiões diferentes, deram prejuízo de US$ 15 bilhões (equivalente a R$ 79,4 bilhões na cotação atual) ao falirem após tomarem recursos por empréstimos com o Credit.
Pouco tempo depois, investigações internas concluíram que houve falhas na gestão de riscos da instituição, o que causou demissões de funcionários e uma nova onda de escândalos. O banco registrou um prejuízo líquido de quase 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,917 bilhões, ou R$ 41,9 bilhões) em 2022.
O pior, porém, ainda estava por vir. Na última terça, 14, o Credit Suisse informou em seu relatório anual de 2022 que a PwC (PricewaterhouseCoopers), auditoria estatutária do banco, identificou "fragilidades materiais" em seus relatórios financeiros dos últimos dois anos.
Como consequência desta revelação, investidores viram as ações do banco como um mau negócio e os papéis despencaram 6%, alcançando uma mínima histórica ao serem negociadas por 2,12 francos suíços (R$ 12,10 na cotação atual) na SIX Swiss Exchange, principal bolsa de valores da Suíça.
Relação com banco saudita
Em outubro de 2022, na tentativa de resgatar a operação do Credit Suisse após as primeiras crises, o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, comprou uma fatia de 10% do banco, se tornando o maior acionista do suíço. A cereja do bolo que fez o mercado global de ações passar por mais uma turbulência nesta semana veio justamente de declarações dadas por Ammar Al Khudariy, presidente do Saudi.
Ao ser questionado pela Bloomberg TV sobre um eventual pedido de nova injeção de investimentos pelo Credit nesta crise, o executivo descartou qualquer possibilidade de mais recursos.
"A resposta é absolutamente não, por muitas razões, além da mais simples que é regulatória e estatutária. Não podemos porque chegaríamos a mais de 10% de participação", enfatizou o executivo.
A resposta do mercado global não poderia ser mais clara. Nesta quarta-feira, 15, os papéis do Credit Suisse despencaram cerca de 30%. No pior momento, chegaram a 1,57 franco suíço (R$ 8,96).