Crise climática: alimentação terá participação maior na inflação deste ano, diz especialista
Para o economista e coordenador do IPC da FGV, apesar do impacto, o cenário pode se mostrar melhor do que o esperado
“Não há dúvida de que a alimentação vai ter uma participação maior na inflação deste ano do que teve no ano passado”. É o que afirma ao Terra o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz.
Isso porque com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, a produção é afetada e os alimentos acabam ficando mais caros para o consumidor final. Mas, mesmo assim, ele avalia não ser uma inflação que vai afetar o ano de 2024 todo.
Braz pontua que, ano passado, a “agricultura salvou a inflação”, com safras que fizeram com que o preço de alimentos importantes ficasse mais estável. “Só que o El Niño não prorrogou essa boa fase da agricultura para 2024”, complementa.
A crise climática, neste início de ano, contribuiu para a queda da safra de culturas importantes no Sul do País como a soja e o milho - o que afeta a cadeia de derivados e, principalmente, a criação de animais: “A criação de aves, por exemplo, demanda um investimento maior em rações à base de milho, o farelo de soja. E isso pode encarecer a carne de frango, ovos e assim vai”.
Grandes vilões da inflação
No início deste ano, como aponta o especialista da FGV, os ‘grandes vilões’ foram os alimentos in natura -- que são os produtos de feira livre, hortaliças, legumes e frutas. Apesar de ser comum que estes itens subam de preço nessa época do ano, como um efeito sazonal que se repete todo verão, o desafio foi mais forte desta vez por conta dos impactos do El Ninho.
A partir disso, ele elenca que não faltam exemplos de itens registraram altas nos preços. “A batata inglesa, por exemplo, subiu 26,64 % segundo o IPC 10 da FGV de fevereiro. A cenoura subiu 49 ,6%. O repolho, 15,4%. Entre as frutas, o abacaxi subiu 10%, a banana prata aumentou 8% e a laranja pera, 11%”.
Cenário deve melhorar
A boa notícia, segundo o especialista, é que essa influência dos alimentos in natura na inflação tende a ser “devolvida” no outono, quando as condições climáticas são propícias ao cultivo de hortaliças, legumes e frutas. Dessa forma, ao longo dos meses, o aumento dos preços pode ser revertido.
A última atualização semanal do IPC, divulgada no dia 22, já registra esse cenário de melhora. As taxas dos preços do setor Alimentação tiveram decréscimo de 1,38% para 1,18%. Dentro dessa classe de despesa, as hortaliças e legumes foram de 9,81% para 7,45%.
“Não é uma inflação que vai afetar o ano de 2024 todo. Ela afeta mais o início do ano e depois uma parte dela é devolvida. O que preocupa mais é a inflação de culturas de ciclo mais longo. Tudo que é derivado do milho, da soja, do trigo, do café e de outras culturas, cujos itens acabam virando produtos de primeira necessidade, itens da cesta básica. E nesse contexto, a gente não pode esquecer o arroz e feijão, que são itens que estão subindo”, reforça Braz, que caracteriza que a situação não está tão grave quanto imaginavam.
Além da alimentação
A questão climática também influencia outros setores, além da alimentação. Ao Terra, o André Almeida, gerente do Índice de preços ao consumidor (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) citou, por exemplo, o ar-condicionado.
“As ondas de calor em diversas regiões do país e também a seca que afetou a produção de indústrias no Amazonas são fatores que afetaram o preço deste produto. O preço do ar condicionado subiu 4,22% em novembro, 8,56% em dezembro e 2,45% em janeiro. Uma alta acumulada de 15,91% nos últimos 3 meses”, explica.