Crise grega é fruto de má gestão, diz Nobel de Economia
Em entrevista à DW, economista Christopher Pissarides afirma que votaria "sim" no referendo do próximo domingo. Para ele, negociar é fundamental para manter a Grécia na zona do euro.
Com um calote técnico no Fundo Monetário Internacional (01/07), a Grécia vive o auge de uma crise que já se estende desde 2009. Em entrevista à DW, o Nobel de Economia britânico-cipriota Christopher Pissarides diz quea situação é fruto de má gestão e garante que votaria "sim" no referendo do próximo domingo.
DW: O sistema bancário grego foi fechado e o controle de capitais foi ativado a partir do momento que a crise grega se agravou nos últimos dias. Você imaginava que a situação poderia chegar a esse nível?
Christopher Pissarides: Na verdade, eu pensei sim. Quando eu vi a corrida para os bancos depois que o governo começou a dizer “não” e não pareceu estar querendo negociar algo que o manteria firmemente no euro. De fato, eu acho que eles cometeram um erro atrasando o controle de capitais por tanto tempo. Como resultado, agora, ele tem de ser muito mais severo do que teria de ser. No Chipre, que é o único outro exemplo que nós tivemos na zona do euro, eles foram muito eficazes, mas as restrições de saque de dinheiro chegaram a 300 euros por dia, enquanto na Grécia é de 60 euros. Os cipriotas também foram muito mais lenientes com o uso dos cartões de crédito no exterior, permitindo que o dinheiro enviado para fora do país fosse destinado a cuidados médicos, educação, etc, enquanto os gregos não têm isso. Eles foram forçados a desativar tudo agora. Mas, diante das circunstâncias, esta foi a única coisa que poderia evitar a bancarrota nesta semana.
Há algum precedente histórico para esta situação extrema e complexa vivida pela Grécia?
Até onde eu sei, não. O único outro exemplo é a Argentina, há mais de dez anos. Eu não sei detalhadamente como eles agiram , mas naquele momento houve má gestão. Eu tenho de confessar: agora, vendo todo o desenvolvimento da política econômica grega desde a eleição do Syriza em janeiro, é realmente uma longa história de má gestão econômica. Eu não estou dizendo que eles deveriam ter concordado imediatamente com o que lhes foi oferecido na ocasião, mas jogar com seus prazos. Não esperar eles declararem inadimplência, chamar um referendo uma semana depois e pedir uma extensão.
O que aconteceu errado nos últimos meses?
Eles pediram por varias extensões de prazo, é claro – pelo menos duas ou três vezes, mas não juntas. Agora, com a percepção de todo o acontecimento, toda a questão foi obviamente mal conduzida pelo governo grego, e assim é como nós chegamos a esta situação. Eu espero que o voto no referendo seja um sonoro “sim”, para mostrar que os gregos querem continuar com o euro e querem sentar-se à mesa de negociações e construir alguma coisa viável para o benefício tanto da Europa quanto da Grécia.
Você mencionou má gestão por parte do governo grego. A Alemanha, maior economia da Europa, também desempenha um papel importante na gestão desta crise. Como você avalia esse papel?
Eu não concordo realmente com a política que foi exigida da Grécia. De fato, eu acho que os gregos deveriam negociar fortemente contra algumas das medidas – contras as altas taxas, contra a austeridade.
Mas há uma diferença entre o que você está propondo, como você está negociando e como você está abordando essa negociação. Em janeiro, quando o novo governo grego foi eleito, eu escrevi um artigo no Financial Times com Joseph Stiglitz e outros economistas dizendo que nós não concordamos com o programa apresentado ao governo grego e que deveria haver uma melhor indicação sobre o que vai ser feito com o débito e como essas propostas poderão ter efeito sobre o desemprego.
Mas o que nós estávamos esperando ver era um tipo de programa bem elaborado de negociações e contrapropostas por parte do governo grego, que apontasse para reformas que iriam ser levadas a cabo para melhorar o desempenho da economia. Como resultado, seria mais fácil pressionar a Alemanha e os outros parceiros da União Europeia a dizer algo mais sobre a dívida.
Ao invés disso, o que nós vimos do lado institucional europeu – com o apoio dos alemães – foi uma insistência em certas políticas que não são necessariamente boas para a Grécia, e os gregos abordando isso de forma desestruturada, às vezes dizendo “não” para isso ou “não” para aquilo, fazendo então uma pausa de semanas sem dizer nada. É isso que eu quero dizer com má gestão. Eu acho que os gregos tinham algo forte para se manter firmes, tendo em vista as propostas em janeiro, mas eles não negociaram da forma que poderiam. Eles poderiam ter o que queriam e ter evitado esta crise de agora.
O que precisa ser feito agora para encontrar uma saída?
Agora a única coisa que precisa ser feita – e eu estou realmente esperando por isto – é que o “sim” vença. A única coisa que poderia nos fazer mover em uma direção boa é o “sim” e um governo forte para renegociar algumas partes do programa e nós avançarmos a partir daí. Eu não consigo ver como a vitória do “não” poderia ajudar de alguma forma agora.
Então você definitivamente votaria “sim”?
Eu votaria “sim” e incentivaria todos que eu puder a votarem “sim” porque um “não” seria um beco sem saída que nos levaria eventualmente ao “Grexit” – a saída da zona do euro. Nesse caso, eu não consigo ver como você pode ficar no euro e esperar ter suficiente liquidez do Banco Central Europeu para gerir um sistema bancário, levar a economia a uma recuperação e a se mover novamente. A Grécia iria andar para trás e recuaria para mais recessão.
Você acha que a Grécia vai conseguir se manter na zona do euro?
Se o “sim” vencer, eu acho que a Grécia vai definitivamente continuar na zona do euro. Se o “não” vencer, há chances de que ela saia. Há uma chance muito pequena que eles consigam trabalhar algo que eventualmente não os leve para fora da zona do euro. No meu ponto de vista – uma combinação de expectativa e esperança – os gregos vão ver que existe muita propaganda política sendo atirada neles atualmente pelo governo. Com os bancos fechados, eles vão ver como seria difícil gerir um sistema bancário e prosseguir com seus negócios normais sem o apoio do Banco Central Europeu. Então eu espero que eles votem “sim” no domingo. E então, na segunda-feira, nós comecemos um novo ano com o comprometimento da população grega para querer fazer os sacrifícios necessários para permanecer com o euro.