Crise grega: os próximos possíveis capítulos
O futuro econômico da Grécia será decidido nos próximos dias.
Em meio a um impasse nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia, o país irá às urnas no domingo para um referendo em que o governo do premiê Alexis Tsipras perguntará à população se aceita ou não um pacto de medidas de austeridade imposto pelos credores internacionais como condição para a liberação de mais empréstimos - um pacote que inclui aumento de impostos, cortes nos gastos públicos e uma reforma na previdência social.
Tsipras faz publicamente campanha por uma rejeição das propostas e disse que poderia renunciar ao cargo que assumiu há apenas cinco meses, quando sua frente de partidos de esquerda, a Syriza, venceu as eleições parlamentares gregas.
Diversos líderes europeus classificaram o referendo como uma chance para a Grécia decidir se fica ou não na chamada zona do euro (os países da UE que adotam a moeda única).
Mas quais são os possíveis cenários para a crise grega?
Acordo de última hora
Essa rota é a preferida pelos credores da Grécia - os países da zona do euro, o FMI e o Banco Central Europeu - e envolveria um acordo sob o qual a Grécia permaneceria usando o euro e pagaria suas contas (o país deve mais de 300 bilhões de euros).
O problema é que nos últimos meses as partes não chegaram a um acordo. Nesta terça-feira, por exemplo, vence o prazo para o pagamento de uma parcela de 1,6 bilhão de euros ao FMI, e o cumprimento parece virtualmente impossível.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, teria feito uma oferta de última hora ao premiê grego caso ele publicamente apoiasse o voto no "sim", mas Atenas teria recusado.
Para qualquer acordo ser realizado, os países da zona do euro teriam que concordar em estender o plano de ajuda financeira a Grécia, cujos termos também vencem nesta terça-feira. Muitos governos teriam que enfrentar divergências políticas locais em relação à liberação de mais fundos para a Grécia.
O voto pelo 'sim'
Uma vitória do "sim" no referendo de domingo criaria um problema político para o governo grego, e não apenas pelo seu apoio público ao "não". Tsipras e o Syriza venceram as eleições com a promessa de reverter as medidas de austeridade impostas à Grécia desde 2010, quando o país começou a receber fundos emergenciais da UE e do FMI.
Mas, pelo menos de acordo com as pesquisas, a maioria dos gregos poderá votar contra o governo - algumas medições falam em 65% dos gregos apoiando o "sim" -, com medo de um aprofundamento da crise.
O problema é que a vitória do "sim" poderia provocar a renúncia de Tsipras e criar um problema político.
O voto pelo 'não' e uma saída complicada do euro
Esse cenário criaria um longo período de incerteza e levaria à saída da Grécia da zona do euro e um retorno a sua antiga moeda, o dracma. Isso provavelmente também resultaria no Banco Central Europeu fechando as linhas de crédito para os bancos gregos.
Tal medida levaria o governo grego a impor controles ainda maiores às contas bancárias - na segunda-feira, Atenas anunciou o fechamento dos bancos por uma semana e restringiu retiradas. Isso pode transtornar ainda mais a economia da Grécia, que entre 2008 e 2013 sofreu um encolhimento de 25% do PIB.
Restaurado, o dracma possivelmente perderia em valor, o que resultaria em inflação e aumento nos preços de produtos importados. Sem falar que disputas judiciais surgiriam em volta dos contratos previamente assinados em euros.
O voto pelo 'não' com uma saída organizada
Uma saída negociada do euro seria menos conturbada. Mas ainda teria correntistas gregos vendo seu dinheiro convertido de euros para dracmas.
Um problema criado pelo voto no "não", em qualquer cenário, é o que fazer com a presença grega na União Europeia.
Não existe um mecanismo formal de expulsão do bloco e a Grécia não parece querer sair. Mas os outros membros terão de avaliar se querem o país no bloco depois de desistirem de mantê-lo na zona do euro.
É possível que tenham de ser feitas mudanças nas regras da UE, sempre um processo lento e complicado, que pode envolver a realização de plebiscitos em alguns países.
O certo é que todos esses caminhos, seja qual for o escolhido pela Grécia, serão longos - e vai demorar até que a crise fique para trás.