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Crise na Espanha faz produtora pornô faturar com 'amadoras'

18 mar 2014 - 10h32
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A Apeoga, associação que reúne as 14 principais produtoras de cinema pornográfico, culpa pirataria por crise
A Apeoga, associação que reúne as 14 principais produtoras de cinema pornográfico, culpa pirataria por crise
Foto: Reprodução

É um dia muito importante para Violeta. A madrilenha de 21 anos, cabelo loiro, liso, com franjinha, olhos azuis brilhantes, 1,59 metro e alguns quilinhos a mais vai gravar a primeira cena dela como atriz pornô.

Ela trabalha há dois anos na maior produtora de conteúdo erótico para internet na Espanha, mas nunca tinha gravado uma sequência de sexo explícito.

Antes, ela passava de quatro a seis horas ao dia exibindo-se de lingerie em frente a uma webcam conectada à internet. Aos que se dispõem a pagar R$ 4,50 por minuto do seu tempo, ela faz um show de strip-tease e "algo mais, a pedido do cliente".

O nome é artístico. Violeta diz ter 27 anos e trabalhava como recepcionista até ficar grávida e perder o emprego, dois anos atrás. Mora com os pais, duas irmãs e o filho, dividindo um apartamento de 50 m² numa cidade proletária ao sul de Madri.

Ela é uma das cem mulheres que trabalham com carteira assinada para essa produtora. Praticamente todas têm o mesmo perfil, definido por eles como "a vizinha": garotas normais, de 20 a 30 anos, espanholas, atraentes, mas longe do estereótipo de filmes pornográficos - a típica modelo turbinada e com quilos de maquiagem.

Não fazem filmes inteiros, apenas "cenas" de no máximo 15 minutos, em que os atores, diferentemente das atrizes, não recebem um tostão. "Ninguém vê pornografia pelo ator e, se o homem não tem valor, por que pagá-lo? Não tem sentido comercial", explica o comediante Ignacio Allende, de 43 anos, dono da produtora e o único ator profissional da empresa.

Os demais são assinantes do site, que participam por fetiche, ou se oferecem aproveitando a visibilidade para tentar participar de outras produções - estrangeiras, porque a indústria pornô espanhola está há três anos sem lançar um filme no mercado nacional.

No mesmo período, Allende (conhecido como Torbe) quadruplicou seus lucros e chega a faturar R$ 600 mil em apenas um mês com seus vídeos, que são disponibilizados para assinantes pela internet.

Fantasia com a vizinha

Torbe teve a ideia do que batizou há cerca de 15 anos de "Pornô Freak", porque não se leva a sério e foge dos padrões de beleza atuais.

"Quem nunca fantasiou uma aventura com aquela vizinha linda? O que fazemos é aproximar a pornografia à vida real, com homens e mulheres reais", afirma Torbe, que na época gravava no seu próprio apartamento.

Atualmente, no loft que usa como estúdio ao lado da Plaza de España, bairro nobre de Madri, grava no mínimo nove cenas por semana, enquanto a média do mercado não passa da quatro.

A Apeoga, associação que reúne as 14 principais produtoras de cinema pornográfico, nega a teoria de que não souberam evoluir para se manter no mercado. "Isso é uma besteira, a culpa foi da pirataria", esbraveja Antonio Marcos, sócio da produtora Canal X e presidente da entidade, que reúne 90% das antigas empresas do mercado.

Algumas saíram da Espanha e continuam produzindo, principalmente ao público americano. Mas a maioria teve que mudar de atividade. "Nós vendemos bombas e extensores para aumentar o pênis, além de gravar anúncios de publicidade como uma produtora normal", explica.

Sonho e dinheiro

No estúdio de Torbe, de 700 m², a ausência de paredes permite acesso e visibilidade a praticamente todos cômodos da casa. À esquerda, dez computadores colocados frente a frente em linhas de cinco são onde algumas das modelos vem exibir-se nas webcams. Mas a grande maioria o faz da própria casa.

Violeta chega tarde. "Não tinha com quem deixar meu filho e tive que recorrer a uma prima", revela. Apenas suas irmãs e seu namorado sabem da nova profissão. "Meus pais acham que eu ainda trabalho de recepcionista, mas o que eles diriam se descobrissem? Somos minha irmã mais nova - que é cabeleireira - e eu que mantemos a casa".

Ela justifica a mudança com o aumento da renda. "Na webcam eu ganho de R$ 3.500 a R$ 4.500 por mês, mas com as cenas posso dobrar essa quantia", explica.

Violeta pede licença para ir ao vestiário. Ao mesmo tempo, a porta do estúdio se abre e de lá sai uma mulher nua. Aparenta ter 18 a 20 anos, cabelo castanho claro, pele morena, 1,65 m de altura e quatro tatuagens distribuídas pelo belo corpo atlético e bem definido. Com um sorriso, ela cumprimenta e caminha sem pressa para o banheiro.

Menos de cinco minutos depois ela volta já vestida, com o cabelo molhado, calças jeans e camiseta básica rosa e um perfume suave. Silvana tem 20 anos e é do norte da Espanha. Há menos de seis meses em Madri, grava em média quatro cenas por semana e ganha de R$ 450 a R$ 900 por cada uma, dependendo do "conteúdo".

"No mesmo dia em que saiu minha primeira cena, já comecei a receber mensagens no celular e no Facebook com insultos e ameaças de amigos e familiares. Foi horrível", conta Silvana, que, mesmo sem contar com a aprovação dos seus pais, tem seu apoio. "Quando eu contei que estava deixando a escola de cabeleireiros para ser atriz pornô, eles não gostaram, mas me disseram que sou uma mulher adulta e consciente pra tomar minhas decisões."

Silvana diz que está realizando um sonho. "Eu via os vídeos pela internet e dizia 'eu quero ser uma dessas mulheres!'. Então um dia busquei no Google, encontrei o Torbe e hoje estou aqui, encantada", explica, alegando que se apaixonou por um dos atores, hoje seu namorado.

Torbe conta que recebe em média 40 contatos via Twitter ou e-mail de mulheres interessadas em ser atriz pornô. Por interesse, como Silvana, ou por necessidade, como Violeta.

Atores

Enquanto Silvana fala, o interfone toca quatro vezes. São os "atores" que vão gravar com Violeta. Sua primeira cena será de sexo grupal. Ela e quatro homens: Ángel, um mecânico madrilenho de 30 anos; Damasio, um aspirante a ator pornô e manobrista de 29; Juan José, 41, segurança de uma agência bancária; e Esteban, um argentino professor de idiomas, de 33 anos, que trouxe a namorada para acompanhar a gravação.

Nenhum deles receberá um centavo. Mesmo que sua tarefa não seja fácil. "É dez vezes mais difícil encontrar um ator que uma atriz pornô", afirma Torbe, que hoje tem apenas dez homens de confiança para gravar cenas individuais.

"Todo mundo quer ser ator pornô, mas na hora H uns não querem aparecer, outros ficam nervosos diante da câmara, outros saem com muita sede ao pote... É mais complicado do que parece", explica o Torbe.

Um dos recrutados pelo produtor é o segurança Juan José, que se prepara para gravar com Violeta e espera participar mais vezes. "Consumo pornografia desde moleque e isso pra mim é a realização de um sonho... uma fantasia", conta o homem de pele pálida, aproximadamente 1,80 m, barriguinha de chope e ligeira escoliose. É solteiro e pouco lhe importa se alguém do seu entorno descobrir sua atividade paralela.

Também existem os aspirantes a atores pornôs, como Damasio Tapia, que está "tentando a vida" há sete anos. "Já gravei 62 cenas e nunca falhei", vangloria-se. O pouco cabelo que lhe resta na cabeça não lhe falta no peito, barriga e nas costas. Ele vê nos 20 mil usuários únicos diários do site de Torbe uma chance de ganhar visibilidade e deixar o trabalho de manobrista para se dedicar 100% à pornografia. "É meu destino, tenho certeza."

Chega Violeta, vestida apenas de lingerie de oncinha. No estúdio, há uma cama king size com lençóis roxos, um divã e dois sofás de couro sintético.

Os homens tiram suas roupas e se asseiam com lenços úmidos. Violeta se senta na cama e começa. "Olá, sou Violeta e esta é minha primeira... Ah não! Vou fazer de pé porque sentada todo mundo vai ver os meus pneus", diz sorrindo a aspirante a atriz.

Ela se levanta e volta a olhar para a câmera. "Olá, sou Violeta e esta é minha primeira cena como atriz pornô. Espero que você goste..."

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