Crise na Grécia: os cenários para os próximos dias
Governo grego prometeu fazer reformas em troca de novo empréstimo, mas credores querem aprovação na forma de lei até quarta-feira
Líderes europeus aprovaram as bases para um novo pacote de ajuda à Grécia, mas a saída do país da zona do euro ainda é uma possibilidade real.
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Os bancos na Grécia estão fechados há duas semanas, praticamente sem dinheiro vivo e a poucos dias de um colapso total.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, prometeu amplas reformas em troca de um empréstimo de 53,5 bilhões de euros (R$ 188 bilhões ), mas tanto a União Europeia quanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) exigem a aprovação das propostas na forma de lei até quarta-feira antes de concretizar o acordo.
Por isso, o chamado "Grexit" (expressão cunhada para a saída do país) continua próximo: se o pacote fracassar, a Grécia sairia da Zona do Euro.
Ou seja, grosso modo, a Grécia permanece ou abandona o euro, permanente ou temporariamente.
Veja abaixo possíveis hipóteses para os próximos dias e semanas.
Grécia fica
- O país cumpre o prazo de três dias e o seu governo e o Parlamento aprovam o vasto pacote de reformas que atingirá mercado de trabalho, impostos, aposentadorias e privatizações
- É acertada a liberação de verbas que permitiria os bancos abrirem as portas outra vez
- Os Parlamentos da Alemanha e da Finlândia aprovam a retomada de discussões para terceiro pacote de ajuda
- É fechado acordo de resgate para manter a Grécia na Zona do Euro
Grécia sai temporariamente
- Uma das ideias apresentadas a líderes europeus é a de uma suspensão da Grécia da zona do euro, permitindo a reestruturação das dívidas gregas
- O ministério das Finanças alemão teria proposto um período de cinco anos
- No entanto, os critérios para a entrada na UE são tão rigorosos que o "castigo" provavelmente acabaria sendo permanente.
Grécia sai
- Legislativo grego rejeita o pacote de emergência no dia 15 de julho, os bancos quebram e o governo adota uma nova moeda; ou
- O Executivo em Atenas aprova a reforma, mas o Parlamento alemão proíbe a retomada de negociações para um novo pacote de ajuda; ou
- O terceiro pacote de ajuda é aprovado, mas rejeitado por parlamentos de oito países da zona do euro
Hipótese 1: Grécia fica
Embora líderes europeus já tenham assinado um acordo "em princípio" para manter a Grécia na zona do euro, não será fácil introduzir novas medidas de austeridade.
Primeiro, o governo e o Parlamento gregos precisariam aprovar duras medidas de reforma, dias depois de os legisladores terem ratificado a proposta apresentada para líderes europeus pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Este é um dos maiores obstáculos diante do líder grego. O plano inicial já tinha sido refutado por 17 deputados da coalizão governista, e outros 15 o fizeram com reservas. Isso quer dizer que Tsipras vai depender de partidos de oposição para conseguir aprovar qualquer nova reforma.
Alguns dos expoentes do governo formado pelo partido Syriza, incluindo a líder do Parlamento, Zoe Constantopoulou, e o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, já se mostraram pouco confortáveis com a ideia.
Mesmo que Alexis Tsipras consiga levar o plano adiante, o pacote depende dos parlamentos da Alemanha e da Finlândia, que precisam aprovar a retomada das negociações por um novo pacote de ajuda.
E para que essas conversas tenham sucesso, oito parlamentos europeus precisariam aprovar o pacote de ajuda.
Seja qual for o acordo, seriam necessários empréstimos de curto prazo para cobrir o rombo imediato na economia da Grécia e o pagamento de dívidas.
O Banco Central Europeu também precisaria ajudar na reabertura dos bancos gregos e na restauração da liquidez do país.
Hipótese 2: Grécia fica temporariamente
Inicialmente, esta ideia, do ministério das Finanças alemão, sequer era considerada parte da conversa. Mas ela reapareceu em um dos rascunhos que estão sendo discutidos pelos líderes europeus.
Sabe-se pouco sobre os detalhes, mas aparentemente seriam propostas à Grécia "rápidas negociações durante um período de suspensão da zona do euro, com a possibilidade de reestruturação das dívidas". A "Grexit" temporária duraria no mínimo cinco anos.
A proposta alemã deixa claro que uma "reestruturação suficiente das dívidas" não seria possível dentro da zona do euro.
Como parte da proposta de "suspensão", estariam ofertas de auxílio técnico e humanitário. No entanto, não se fala de perdão de dívidas, que o FMI considera ser necessário.
O presidente da França, François Hollande, disse que uma "Grexit temporária não existe" e acredita-se que ele esteja certo. Para a Grécia, a ideia de sair agora para voltar à zona do euro mais tarde seria praticamente impossível.
Já a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que todos os 19 países da zona do euro teriam que aprovar uma saída da Grécia, embora o país tenha reafirmado suas intenções de manter a moeda única da Europa ao longo das negociações.
Hipótese 3: Grécia sai da Zona do Euro
Há tantas cascas de banana diante dos negociadores e a confiança no governo grego é tão pequena que uma saída da Grécia da zona do euro nos próximos dias aparece ainda como uma possibilidade muito real.
Mesmo que os ministros de Tsipras e o Parlamento grego aprovem o que está sendo exigido, ainda dependeriam de parlamentares finlandeses e alemães para que as negociações por um novo pacote de ajuda comecem.
O sistema financeiro grego está paralisado, e sem ajuda financeira temporária é difícil ver de que forma o país poderia se manter na zona do euro.
Os bancos estão de portas fechadas desde 29 de junho, quando o Banco Central Europeu (ECB, na sigla em inglês) congelou as linhas de crédito. Desde então, o ECB não aumentou o seu auxílio emergencial (Assistência Emergencial de Liquidez).
Enquanto as discussões sobre um acordo temporário continuam, o prazo de 20 de julho para o pagamento de dívidas está cada vez mais próximo. A Grécia precisa pagar uma parcela de 3,5 bilhões de euros ao ECB.
Se a Grécia sair da Zona do Euro, qual será a sua moeda?
Uma opção possível para os bancos seria reabrir com uma moeda paralela antes de ressuscitar a antigo dracma, a moeda grega anterior ao euro.
Outra possibilidade seria utilizar uma espécie de quarentena da zona do euro, em que a moeda única estivesse em circulação, mas o país não fizesse mais parte.
Kosovo e Montenegro, por exemplo, adotaram o euro sem terem sido aprovados para a zona do euro. Esta opção também poderia ser usada, caso a Grécia fosse temporariamente suspensa da zona do euro.
A Grécia também poderia manter duas moedas correntes, com o euro sendo usado em transações, e o governo pagando salários e aposentadorias em uma espécie de "euro grego" ou mesmo notas promissórias ou vales.
Como a saída da Grécia aconteceria?
Não existem precedentes de países saindo do euro, e ninguém sabe ao certo como isso se daria. Mas a decisão recente do ECB de congelar a liquidez dos bancos gregos parece um primeiro passo, já que a livre circulação de crédito é uma das bases da moeda única.
O problema é o dano já causado ao sistema bancário. Dezenas de bilhões de euros já foram sacados de contas particulares e corporativas, além disso, muitos gregos ficaram impossibilitados de sacar montantes mais altos por causa de controle de capitais impostos no país.
O risco é de um calote confuso que poderia prejudicar a economia grega ainda mais.
"Um default forçado acontece quando os cofres estão vazios, você para de pagar os funcionários e diz: 'Estamos usando todos os nossos recursos para pagar as contas de hospitais'", afirma o especialista Iain Begg, da universidade britânica London School of Economics.
A Grécia sofreria uma desvalorização imediata, e a inflação dispararia. O país poderia acabar sendo visto como pária nos mercados internacionais, a exemplo do que aconteceu com a Argentina em 2002.
Uma das principais fontes de renda da Grécia, o turismo, seria duramente afetado - outra tijolada na frágil economia grega.
Alguns economistas acreditam que a volta do dracma poderia até beneficiar a economia, mas é difícil ver ela ajudaria o país em curto prazo.
Por que a Grécia está tão quebrada?
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Desde 2010, o governo de Atenas depende de dois pacotes de ajuda da União Europeia e do FMI que totalizaram empréstimos de 240 bilhões de euros
- A última injeção de capital internacional na Grécia aconteceu em agosto de 2014
- Quando o acordo com a zona do euro venceu, em 30 de junho, o governo de Tsipras também deixou de pagar ao FMI uma parcela da dívida no valor de 1,5 bilhão de euros e precisa pagar cerca de 2,2 bilhões de euros por mês em salários e seguridade social
- Tecnicamente, o FMI diz que a Grécia está "atrasada" nos seus pagamentos, mas o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) diz que se trata de um calote
- As dívidas da Grécia já montam mais de 300 bilhões de euros, cerca de 180% do seu PIB
- Os bancos gregos estão fechados, e a população pode sacar apenas 60 euros por dia
Como a saída da Grécia afetaria o resto da Zona do Euro?
A UE trabalhou muito para prevenir que os problemas bancários de um membro afete os outros 27.
No entanto, a crise da dívida grega é tida como a maior ameaça que a zona do euro já enfrentou e teme-se que, ao criar um precedente, ela poderia causar danos irreparáveis ao projeto da moeda única europeia.
Uma "Grexit" poderia sacudir mercados em todo o mundo e chamar a atenção de especuladores para outras economias frágeis da região.
A saída também deixaria um rombo de 118 bilhões de euros nos cofres do ECB, que emprestou aos bancos gregos e investiu 20 bilhões de euros em títulos do governo.
O ECB poderia simplesmente imprimir mais dinheiro para se recapitalizar, mas isso seria contrário às intenções da Alemanha.
Além disso, há muito mais em jogo. Diversos governos enfrentam movimentos antieuro e aguardam ansiosos o desfecho da crise grega.