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Crise na Itália faz imigrantes chineses procurarem novos rumos

2 jun 2013 - 07h54
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Dois clientes vão até a jovem barista, de cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e o rosto emoldurado por uma franja que chega até as sobrancelhas. "Ni hao!", saúdam os homens. Ela, sorridente, responde em italiano, "ciao ciao".

Ye Pei, uma chinesa de 17 anos, vive na Itália há apenas poucos meses. Seu vocabulário ainda é limitado, mas ela já aprendeu o suficiente para servir cappuccinos e outras bebidas no bar em que trabalha. Ela vive em Falconara, um balneário na costa leste da Itália.

"O mais importante para mim agora é aprender o idioma", explica a jovem. "Essa é a minha prioridade. Se falar bem o italiano poderei ser independente, mas é muito difícil estudar quando se tem que passar o dia inteiro costurando", afirma Ye.

Como a maioria dos imigrantes chineses na Itália, Ye vem da província de Zhejiang, no oeste da China. Sua terra natal, Qingtian, é cercada de montanhas, com poucas empresas e raras oportunidades de trabalho.

Imigração começou há 30 anos
Os chineses começaram a imigrar para a Itália há 30 anos. A maioria trabalha em fábricas têxteis que operam para grifes italianas. As tarefas são simples: costurar botões em suéteres, colocar zíperes em calças jeans. Muitos deles acabam mais tarde abrindo suas próprias confecções.

Na última década, a quantidade de chineses na Itália triplicou, ultrapassando a marca dos 200 mil, o que corresponde a cerca 20% da população de imigrantes do país. Muitos acabaram trazendo também seus familiares e amigos para trabalharem em seus negócios na Itália. Os chineses têm a reputação de serem trabalhadores flexíveis, rápidos e baratos.

Feito na Itália por mãos chinesas
Na China, os chefes das fábricas, chamados de laoban, costumam fornecer acomodações e alimentação aos funcionários, mas uma minoria paga salário mensal. Os funcionários são pagos por peça produzida.

Jimmy Xu, que gerencia uma confecção em Falconara, justifica que os trabalhadores preferem esse tipo de arranjo porque "os chineses não gostam de salários fixos. Eles pensam 'se eu trabalhar rápido ou lentamente, irei receber a mesma coisa'".

Por essa razão, os trabalhadores, principalmente os mais rápidos, preferem ser pagos por peça. "Dessa forma eles podem ganhar mais dinheiro", explica Xu.

A mãe de Ye, Xue Fen, está na Itália há seis anos. Ela também conseguiu um emprego em uma fábrica gerenciada por chineses, onde trabalha mais de 15 horas por dia e recebe cerca de 750 euros por mês. Na China, ela levaria oito meses para ganhar a mesma quantia.

Xue Fen concorda que os laoban exploram os trabalhadores, mas por outro lado, ela explica que esse arranjo pode ser conveniente para os imigrantes, principalmente para os recém-chegados à Europa.

"Se eu trabalhar para um chefe italiano, terei que pagar aluguel, comprar minha própria comida, o que não deixa de ser um incômodo. Já os chineses ao menos fornecem habitação e refeições. É assim que fazemos na China", esclarece.

Operários sem documentação
A polícia italiana afirma ter descoberto nos últimos anos cada vez mais confecções que empregam operários em situação ilegal, que trabalham sem limites de horários.

Uma policial que não quis se identificar explicou que esse estilo de vida fez com que os chineses acabassem ficando "invisíveis" por muito tempo. "Os chineses são muito inteligentes e bem organizados. Eles optam por ficar em silêncio, sem chamar a atenção, e a polícia acaba os ignorando."

Mas o sucesso comercial dos chineses na última década acabou gerando ressentimentos entre os italianos, conforme a policial. Em um país que sofre com o alto índice de desemprego e em meio a uma crise econômica, esse quadro apenas piorou. Muitos reclamam que os chineses estão descumprindo leis trabalhistas - explorando funcionários, desestabilizando o mercado e levando fábricas italianas à falência.

Valter Zanin, professor de sociologia da Universidade de Pádua, realizou uma pesquisa sobre fábricas chinesas em seu país e concluiu que mão de obra barata é o que mantém a competitividade dos chineses. Zanin ressaltou que alguns funcionários são forçados a trabalhar até mais de 18 horas por dia.

Alternativas
Mas enquanto a crise econômica europeia perdurar, a indústria da moda na Itália continuará sentidoos efeitos da recessão. Até mesmo as confecções dos chineses estão tendo menos contratos. À procura de alternativas, muitos chineses, assim como Ye, migram para o setor de serviços.

Nessa nova linha de trabalho, eles já não são tão invisíveis. A interação diária com os italianos proporciona aos imigrantes a possibilidade de se integrar melhor na sociedade e de aprender mais sobre os costumes locais.

"Vou trabalhar muito para aprender o idioma italiano e adquirir o conhecimento necessário para gerenciar um bar", diz Ye. "Um dia, quando tiver guardado bastante dinheiro, vou abrir meu próprio bar, para que meus pais possam se aposentar mais cedo".

Fonte: Deutsche Welle
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