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Crise ronda emergentes e gera temor de 'volta a 1997'

21 ago 2015 - 16h41
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Com a desvalorização acentuada das moedas do mundo emergente, inclusive do real brasileiro, resultado em parte da retirada maciça de recursos desses países, cresce o temor de que esses mercados - até então puxadores do crescimento da economia global - mergulhem em uma nova crise.

Foto: (Thinkstock)

Nos últimos dias, alguns investidores expressaram preocupação de que o mundo poderia passar por uma nova tormenta financeira, mas agora com origem nas nações menos desenvolvidas.

Na opinião deles, o paralelo mais recente seria a crise asiática de 1997-1998, quando a maior parte da Ásia mergulhou em uma profunda turbulência financeira.

Países como Tailândia, Indonésia e Coreia do Sul haviam se tornado fortemente dependentes de investimento estrangeiro. Quando essa fonte secou, essas nações foram indiscutivelmente afetadas. As moedas sofreram forte desvalorização, o desemprego explodiu e o mundo ficou apreensivo quanto a um colapso do sistema financeiro global.

No entanto, o cenário de hoje é diferente.

Segundo ele, a situação atual é quantitativamente diferente ─ e mais do que um repentino episódio da crise que se avizinharia, parece ser a culminação de algumas mudanças estruturais no mundo econômico.

Moedas do mundo emergente perderam força ante o dólar e estão no mais baixo valor dos últimos seis anos e meio. Segundo o jornal britânico , US$ 1 trilhão (R$ 3,5 trilhões) já deixaram as economias emergentes nos últimos 13 meses, quase a metade do PIB brasileiro no ano passado.

Mas esse fluxo de dinheiro para fora do mundo emergente tem a ver com o que acontece nos Estados Unidos. Depois de manter os juros próximos de zero nos últimos seis anos ─ à luz de uma política monetária conhecida como (afrouxamento monetário, ou seja, o governo compra títulos para injetar dinheiro e estimular a economia, por exemplo, emprestando-o a bancos), o Fed (banco central americano) deve aumentar os juros pela primeira vez em uma década.

À medida que cresce o retorno sobre os títulos do governo americano, o país também vem se tornando mais atrativo para esse capital global "livre". Isso tem puxado o dólar para cima e incentivado o fluxo de capital para fora do mundo emergente.

Um aperto da política monetária americana – especialmente depois de seis anos altamente atípicos – causaria dores de cabeça aos mercados emergentes, que já passam por dificuldades.

Três motivos estão por trás disso. O primeiro se deve ao próprio processo de globalização ─ pelo menos expressado pelo comércio global, que vem sofrendo um revés sem precedentes.

Colapso das commodites

Pelo quarto ano consecutivo, o crescimento do comércio mundial está aquém do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, ou a soma de bens e serviços produzidos por um país). Tal cenário complica muito as estratégias de crescimento apoiadas sobretudo em exportações ─ que muitos países emergentes adotaram consideravelmente.

Em segundo lugar vem o preço das commodities. O preço do petróleo caiu, de cerca de US$ 110 (R$ 385) o barril em meados do ano passado para cerca de US$ 50 (R$ 175) atualmente. Também despencou o preço de matérias-primas como metais para uso industrial. O cobre, por exemplo, está cotado a seu nível mais baixo em seis anos no mercado internacional.

Para muitos países que dependem fortemente da exportação de commodities ─ caso do Brasil ─, isso representa um problema. Há oito ou nove anos, economistas falavam do "superciclo das commodities", ou como a industrialização da Ásia puxaria para cima os preços dessas matérias-primas. Mas parece que, agora, o "superciclo" acabou.

Em terceiro, as condições financeiras estão cada vez mais rígidas. Isso não só tem a ver com o aumento dos juros nos Estados Unidos ─ embora isso tenha sido o catalisador para a recente venda de ativos.

O cenário mais amplo indica que os juros de longo prazo ao redor do mundo desenvolvido dos Estados Unidos, Europa e Japão têm basicamente caído por 35 anos.

Como o gerente de fundo Bill Gross recentemente escreveu, as taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos eram de 14,5% em 1981. Hoje, são de apenas 2,2%.

Em outras palavras: investidores tiveram poucas décadas muito boas, muitas das quais escoradas em crédito barato.

Mas eventualmente um limite é atingido, as taxas de juros de longo prazo só podem cair. A queda nos custos de captação que sustentaram a euforia dos mercados durante os últimos 35 anos não parece voltar a se repetir.

Tudo isso somado à retração do comércio global, à queda dos preços das commodities e a condições financeiras menos flexíveis produz um quadro difícil para as economias emergentes. Não necessariamente uma repetição de 1997, mas certamente um ambiente de menor crescimento e menor retorno para investidores.

China

O exemplo mais emblemático do que acontece agora no mundo emergente está na China.

Principal responsável pelo crescimento do comércio global e o mais importante consumidor individual de commodities, o país cresceu a um ritmo impressionante nas últimas décadas.

Além disso, o preço baixo dos produtos chineses ajudou a conter a inflação no Ocidente, permitindo aos bancos centrais desses países manter suas taxas de juros relativamente baixas.

A economia chinesa, no entanto, estava destinada a desacelerar ─ nenhum país consegue manter um crescimento anual de 10% para sempre – mas as consequências dessa desaceleração serão sentidas amplamente e longe dali.

Nesta sexta-feira, dados divulgados pelo governo chinês revelaram que a atividade industrial no país no mês de agosto registrou a pior queda em seis anos.

Nas últimas semanas, autoridades do país também vêm desvalorizando artificialmente a moeda local, o yuan, no intuito de estimular a economia.

O cenário para os mercados emergentes mais penoso do que nos últimos anos. Mas pelo menos neste momento a analogia à crise de 1997 não parece adequada.

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