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Demitir cliente por racismo: dicas para um negócio de sucesso

Maristela Mafei compartilha o que já veio consigo e o que aprendeu ao longo de sua jornada empreendedora

20 jan 2024 - 06h10
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Maristela Mafei
Maristela Mafei
Foto: Divulgação

O papo com Maristela Mafei para o Vale do Suplício carregava particularidades: a primeira, entrevistaríamos uma jornalista muito mais experiente do que nós, o que coloca uma enorme  certa pressão sobre qualquer um que preze por seu nome; em segundo lugar vinha a trajetória dessa premiada empreendedora, que assim como nós, criou uma agência de comunicação B2B, e diferente de nós, empregou 400 pessoas até vender sua empresa para a Cohn & Wolfe, uma das maiores agências de PR do planeta; e em terceiro lugar, porque, em paralelo, estávamos negociando um projeto em conjunto para um antigo cliente dela.  Tudo isso no lançamento da terceira temporada do podcast, que trazia consigo novos quadros, um tapinha na identidade visual e a alegria de somar mais de 10 mil plays nas plataformas de áudio no ano anterior. 

Tanta coisa numa mesma panela poderia deixar um gosto ruim na boca, mas a mistura, no fim das contas, deu um caldo muito bom. Em uma conversa bastante fluida, com a fala solta que só quem tem anos de comunicação consegue empostar, Maristela não economizou palavras na hora de contar sobre sua vida ou quando queria deixar clara sua forma de ver o mundo e os negócios. 

De dentro pra fora

Você veio até aqui pela promessa de que aprenderia sobre gestão ao ler este texto, então deixo dois entendimentos aparentemente inatos de Maristela e que, posso imaginar, contribuíram muito para o seu sucesso como empreendedora: o primeiro é não consumir todo o lucro da empresa. Ela contou que tirava sua remuneração mensal, mais metade dos ganhos. A outra metade ficava no caixa, para reinvestimento. 

A outra é sua sensibilidade no trato com as pessoas, sejam clientes ou colaboradores. No primeiro caso, Maristela ultrapassou o que seria um limite pessoal quando apoiou um executivo que, vindo de outro país, estava profundamente abalado com o risco de divórcio, já que sua esposa não conseguia se adaptar ao Brasil. A saída foi escalar uma colaboradora para acompanhar a mulher em uma tarde de compras e ambientá-la em sua nova casa. 

No segundo caso, o de trato com a equipe, quando nem se discutia sobre racismo e homofobia, Maristela demitiu clientes que não aceitavam colaboradores negros e homossexuais. "Isso faz muito tempo, espero que esteja diferente". Talvez nem tanto, Maristela.

De fora pra dentro

Eu não sei o seu nível de perfeição, mas eu e Maristela sabemos que errar faz parte do processo do empreendedorismo. Eu diria que boa parte, se não a maior. E a fundadora da Máquina da Notícia admitiu os principais erros que cometeu a um novo quadro do podcast, o (Des)Aprendendo com o Exemplo. Se as experiências aqui abaixo não te impedirem de cair, que ao menos te ajudem a levantar mais rapidamente. 

• Amizade no trabalho: Maristela aconselha limites nas relações - mesmo que seja entre sócios (beijos, Sil) - porque excesso de intimidade pode comprometer a objetividade nas tomadas de decisões. "Às vezes vocês entram em conflito. É normal, faz parte. E nessas horas pesa muito se for íntimo: 'puxa, ela tá sabendo que eu estou separando…'";

• Gestão de pessoas: foram anos e muita energia tentando corrigir colaboradores que não tinham bom desempenho em vez de focar em desenvolver aqueles que estavam no caminho certo. "Às vezes as pessoas precisam ser demitidas, desculpa, não vou dar conta de tudo. E talvez elas fossem mais felizes em outro lugar", entende hoje. Além de ser ruim para ela e para quem não estava indo bem, o comportamento desestimulava os demais colaboradores, que perdiam a confiança nos processos de avaliação de desempenho.

• Contratação e cultura: que fique claro: a cultura da empresa é a cultura dos sócios. E por mais óbvio que isso pareça, a prática é bastante complexa. Maristela conta ter perdido muito tempo buscando profissionais com certas características valorizadas no mercado - faculdade de formação, habilidades específicas - que pouco ou nada tinham a agregar ao negócio dela

• Escolha de sócios: aqui o ponto cultural também não deve ser esquecido. No início, Maristela buscou em chefes que admirava seus parceiros de negócio, mas os arranjos não deram certo porque a relação funcionar em uma dinâmica não significa que dará certo em outro contexto, no qual os valores do fundador devem ditar o caminho da empresa;

• Gestão de conflitos: a Máquina da Notícia quase parou porque uma diretora bastante admirada pelos colaboradores passava boa parte do seu dia ajudando pessoas a resolverem problemas interpessoais;

• Formação de gestores: Maristela já demitiu dois colaboradores que davam conta de 60% do faturamento porque, apesar de extremamente produtivos e eficientes, só conseguiam trabalhar sozinhos. Mesmo com treinamento formal e acompanhamento da própria, eles não conseguiam formar e manter equipe.

Os aprendizados vieram às custas de erros, é verdade, mas também de apoio: hoje embaixadora da Endeavor, Maristela recebeu mentoria da mesma rede de empreendedorismo anos atrás. Foi graças a esse conhecimento e suporte que estruturou processos, criou conselho de administração e seguiu as melhores práticas de governança e gestão na Máquina da Notícia.  Não tem fórmula pronta para criar um negócio de sucesso, mas chegar a resultados consistentes passa, invariavelmente, por uma gestão profissionalizada. 

Até o próximo Vale!

(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde e cofundadora da agência essense, que já apoiou mais de 100 empresas na construção de conteúdo narrativo e multiplataforma para negócios. Junto de Silvia Noara Paladino, criou o podcast Vale do Suplício, que traz histórias de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.                   

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