Desaceleração da economia chinesa se agrava; produção industrial tem menor ritmo desde 2002
A desaceleração da economia da China se intensificou em agosto, com o crescimento da produção industrial no ritmo mais fraco em 17 anos e meio, diante de efeitos mais amplos da guerra comercial com os Estados Unidos e de redução da demanda doméstica.
As vendas no varejo e os indicadores de investimento também pioraram, mostraram dados divulgados na segunda-feira (horário local), reforçando as visões de que a China provavelmente cortará algumas das principais taxas de juros nesta semana pela primeira vez em mais de três anos para evitar uma queda mais acentuada na atividade.
Apesar de uma série de medidas para impulsionar o crescimento desde o ano passado, a segunda maior economia do mundo ainda não se estabilizou, e analistas dizem que Pequim precisa lançar mais estímulos para evitar uma desaceleração mais acentuada.
O crescimento da produção industrial se enfraqueceu inesperadamente para 4,4% em agosto ante o mesmo período do ano anterior, menor taxa desde fevereiro de 2002 e abaixo da alta de 4,8% em julho. Analistas consultados pela Reuters previam uma recuperação para 5,2%.
Em particular, o valor das exportações industriais entregues caiu 4,3% na comparação anual, o primeiro declínio mensal em pelo menos dois anos, segundo dados da Reuters, refletindo o pedágio que a escalada da guerra comercial sino-americana está impondo aos fabricantes chineses.
A prolongada guerra comercial se agravou drasticamente no mês passado, com o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciando novas tarifas sobre produtos chineses a partir de 1º de setembro, e a China deixando sua moeda, o iuan, se desvalorizar fortemente dias depois.
Depois que Pequim reagiu com tarifas retaliatórias, Trump disse que as cobranças já em vigor também seriam elevadas nos próximos meses, em outubro e dezembro.
Embora os dois lados devam retomar as negociações presenciais no início de outubro, a maioria dos analistas não espera um acordo comercial durável ou mesmo uma redução significativa nas tensões, no curto prazo.
O premiê Li Keqiang disse em uma entrevista publicada antes da divulgação dos dados da segunda-feira (horário local) que era "muito difícil" para a economia crescer 6% ou mais e que enfrentava "pressão de baixa".
Operadores esperam um corte na taxa de linha de crédito de médio prazo (MLF) do banco central chinês já na terça-feira, o que abriria caminho para uma redução na nova taxa de referência do empréstimo (LPR) no final da semana.
Vários analistas têm dito nas últimas semanas que o crescimento econômico da China já está testando o limite inferior da meta de Pequim para o ano inteiro, em torno do intervalo entre 6% e 6,5%, o que provavelmente estimulará mais flexibilização das políticas monetárias. O crescimento do segundo trimestre desacelerou para 6,2%, o mais fraco em quase 30 anos.
"O principal risco negativo é que as autoridades não estão reforçando o apoio de forma suficiente", disse Louis Kuijs, chefe para economia asiática da Oxford Economics.
Acredita-se que o espaço para estímulos seja limitado por preocupações com o aumento dos riscos da dívida, com a flexibilização da política monetária pelo Banco do Povo da China (PBOC) devendo ser mais restrita do que a do Federal Reserve ou do Banco Central Europeu (BCE).
Ting Lu, economista-chefe da China para o Nomura, disse em nota após a divulgação dos dados que um corte de cerca de 10 pontos-base na taxa de linha de crédito de médio prazo (MLF) na terça-feira havia se tornado mais provável.