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Tereza Cristina: fim de subsídios não pode ser radical

Ministra reage a plano de Paulo Guedes de cortar benefícios agrícolas e diz que não se pode mudar a regra do jogo de repente

11 fev 2019 - 05h10
(atualizado às 07h52)
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BRASÍLIA - Em meio à tensão dos produtores com o risco de corte pela equipe econômica da oferta de crédito com taxas subsidiadas pelo Tesouro Nacional, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, alerta que um "desmame" radical dos subsídios pode desarrumar o agronegócio, que responde por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. "Vamos quebrar a Agricultura? É esse o propósito? Tenho certeza que não é", diz a ministra. "Não pode criar um pânico no campo: acabou o dinheiro! Não é assim".

A tensão entre os produtores cresceu depois que o presidente do Banco do Brasil (BB), Rubens Novaes, em entrevista ao Estado afirmou que o "grosso da atividade rural" pode se financiar com as taxas de mercado. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também avisou no Fórum Econômico Mundial de Davos que pretende cortar esse ano US$ 10 bilhões da conta de todos os subsídios do Tesouro em 2019. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Tereza Cristina, que liderou a bancada ruralista no Congresso, diz que o governo desenha um novo modelo de financiamento do setor agrícola, mas assegurou que nada será feito de forma unilateral pela área econômica. Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Depois da declaração do presidente do BB de que o grosso da atividade rural pode se financiar a taxas de mercado, o setor ficou apreensivo. O que mudará no novo financiamento?

No Plano Safra atual, que não fui eu quem fiz, já foi difícil porque o dinheiro do Tesouro está cada dia mais curto. Enquanto não resolvermos esse déficit público, é uma briga porque está todo mundo dentro da caixinha. Tira daqui e põe ali. É uma dança das cadeiras dentro do mesmo salão. Não dá para crescer o salão. Já estamos conversando sobre novas maneiras de financiamento.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A equipe econômica quer destinar o subsídio que é hoje direcionado para os grandes produtores para fortalecer o seguro. Como conciliar?

Temos que ter muito cuidado porque estamos falando de 20% do PIB, que é o agronegócio que faz. Como é que isso vai se dar? Em quanto tempo isso vai acontecer? É uma medida radical? Eu brinco até que é um desmame. Você pode fazer o desmame radical e o controlado. Ainda está muito no campo das nossas ideias de lá e de cá. As nossas equipes estão sentando agora para discutir.

Mas a estratégia do Ministério da Economia é reduzir os subsídios...

Em todos os campos, não só agrícola, é preciso ter muito cuidado também para ver como se vai comunicar isso. Não pode criar um pânico no campo: acabou o dinheiro! Não é assim. Está sendo discutido. O seguro é prioridade do Ministério da Agricultura, resolver para melhorar, diminuir as taxas, ter mais estatística e ser mais distribuído. Ele existe hoje, mas é caro. Não é um seguro que o agricultor toma e fica confortável. Temos que evoluir muito. Os Estados Unidos levaram 40 anos para chegar num modelo.

O governo vai cortar os R$ 10 bilhões de subvenção, que estão previstos no Plano atual, já para a próxima Safra?

Não está pacificado. Está sob a mesa ainda em discussão. O Ministério da Agricultura tem que dizer o que ele pensa e quais são as consequências para a equipe econômica. É sempre uma guerra. Vamos começar a discussão. Isso não está decidido.

Qual a orientação do seu ministério?

Primeiro temos que ter uma discussão mais profunda. Não estou dizendo que eu sou contra fazer, mas temos que ter um tempo. Vamos tirar quanto dos grandes produtores? Qual a fonte de financiamento nova dos grandes? Quanto de juros estará disponível? É mercado livre? É, tá bom, o que os bancos privados vão fazer? O Banco do Brasil tem hoje 46% do crédito rural.

A reação tem sido grande à nova posição do BB?

Essa discussão tem que começar, mas não é unilateral. Se fosse, não precisava vir aqui na Agricultura. A Economia resolvia com os bancos e ponto final. Não é isso. Vamos quebrar a Agricultura? É esse o propósito? Tenho certeza que não é. Foi criado um grupo de trabalho entre o Banco Central, Economia e nós. Está apertado o Orçamento, então vamos trabalhar. Por exemplo, os pequenos têm hoje juros 2,5% até 4,5%. Estamos de acordo em subir um pouco. Há espaço de manobra. Teremos que ceder aqui e eles vão ter que ceder de lá.

Quando o novo modelo terá de estar pronto?

Para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de maio. Mas queremos fazer o mais rápido possível. Quanto mais cedo, melhor. O plano safra (em vigor) tem R$ 191 bilhões para crédito. Não podemos baixar esse patamar. Faltou. Tanto é que tivemos que arrumar mais R$ 6 bilhões, mas precisava mais R$ 15 bilhões.

Quais os riscos?

Não podemos criar um problema com a agricultura nesse momento. Além de tudo, teremos uma grande safra, mas ela é menor do que se previa, porque tivemos problemas climáticos pontuais. Temos uma Agricultura crescente ainda no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em áreas de pecuária que estão entrando para o setor produtivo. Isso é muito bom. Precisa ter crédito. É uma composição de várias coisas: seguro, valor que o Tesouro vai colocar para fazer a subvenção e o direcionamento do BC para o crédito. Vai mexer em tudo.

Pode desarranjar o setor?

Eu acho que pode. Se não tivermos cuidado, pode desarrumar muito o setor. Previsibilidade é a palavra que precisamos. É muito bonito falar que vai tirar tudo. A vida inteira essa época (de preparação do Plano Safra) é tensa. O que precisamos é afinar porque mudou o viés da política. Será que o presidente Bolsonaro quer que a agropecuária encolha no seu governo? Podemos fazer coisas novas, mas passo a passo. Não é de repente dizer que agora mudou a regra do jogo.

O que pensa para o seguro?

Tem que ter mais gente participando dele. Tem uma balela aí. O que acontece com o produtor é ele paga um juro subsidiado, mas tem o IOF, o prêmio do seguro, assistência técnica, projeto. Quando soma isso, dá 14%. Então pagamos os juros mais caros do mundo na Agricultura. Mas só que ninguém fala. Todo mundo fala só da subvenção. O americano tem o diesel vermelho da agricultura e sabe o que vai apagar. Olha o que subiu o diesel do Brasil. O nosso plano é mostrar para o Ministério da Economia quanto o produtor desembolsa. Ele vai ficar menos competitivo.

A retomada econômica mais rápida pode demorar. Como afeta o setor?

Mais um motivo para tudo que nós falamos, da cautela. Hoje, temos aí a China que é nosso maior comprador de commodity, que pode comprar até mais, mas nós estamos ajustando também esse relacionamento.

O que significa ajustar o relacionamento?

Houve um mal-estar no começo do governo com algumas declarações. Então, estamos conversado, recebemos já o embaixador (da China), eu vou marcar uma viagem para a China em breve. O mercado internacional é de profissionais, não tem ninguém bonzinho nisso, então pega uma palavra... É um jogo de gente grande sofisticadíssimo. Temos que solidificar os nossos mercados já existentes e abrir outros. Isso é uma decisão que nós vamos ter que decidir internamente de política agrícola. Nós vamos crescer? Vamos crescer na soja, no milho no algodão? O que queremos?

O maior alinhamento do Brasil com os EUA pode trazer problema para a agricultura?

Não sei se vai trazer problema para a agricultura, eu acho que não. Agora, não podemos esquecer que nesse setor somos competidores, porque eles são os maiores exportadores do mundo de commodities. Nada contra se alinhar com os EUA, muito pelo contrário, mas sabendo que nessa área a gente tem que brigar duro com eles. A gente anda com os americanos na soja igual a uma corrida de cavalo.

Tanto na política quanto na questão econômica parece que existem arestas que precisam ser aparadas no governo.

Absolutamente normal. É um governo novo. É claro que na equipe econômica, o ministério cresceu muito, juntou muita coisa lá. Eles têm que saber quais são as demandas da Agricultura, onde pode pegar, onde não pode e fazer esse alinhamento. Isso é normal em todo o governo.

A senhora se posicionou rapidamente contra a idade igual para homens e mulheres se aposentarem na minuta da reforma da Previdência.

Desde a vez passada, já tinha essa discussão. Eu estava deputada. Minha posição é a mesma da outra vez.

Tem preocupação na área rural com a reforma?

Tenho, com a mulher rural. A mulher no campo, se você olhar uma mulher da minha idade, da sua idade, você vai ver que ela é muito mais acabada. Ela trabalha no sol, é muitas vezes o arreio da família, é um trabalho extenuante. Então a mulher do campo é mais sacrificada do que a da cidade. Diminuir a idade só para a mulher do campo acho que não pode. Você tem que diminuir um pouco para todas.

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