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Diesel poderia cair R$ 0,49/l, mas expectativa de alta dificulta redução do preço

Para especialistas, alta volatilidade do mercado de petróleo e expectativa de escassez do combustível impedem diesel mais barato

3 ago 2022 - 16h29
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RIO - Há 15 dias o preço médio do diesel está sendo comercializado nas refinarias brasileiras acima do valor praticado no mercado internacional, sinalizando que existe uma janela para queda de preços pela Petrobras. Mas a alta volatilidade do mercado de petróleo e a expectativa de escassez do combustível nos próximos meses devem impedir o movimento, avaliam especialistas.

A própria empresa já deu sinais de que não pensa em reduzir o preço no curto prazo, e se limitou a dar seus dois últimos reajustes apenas para a gasolina, cujo preço foi reduzido em R$ 0,35 por litro no espaço de duas semanas. Já o diesel está há 47 dias sem mudar de preço.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de queda do preço diesel, durante uma videoconferência para comentar o resultado da estatal no segundo trimestre do ano, o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Claudio Mastella, disse que vê o momento com "cautela".

"A gente ainda enxerga com cautela o cenário de diesel nos próximos meses, em função do aumento sazonal da demanda no segundo semestre, com o inverno no hemisfério norte, além da menor oferta com exportações russas e as paradas programadas de refinarias aqui no Brasil", avaliou Mastella.

Especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast concordam e alertam que ainda há muita volatilidade e incertezas em relação ao diesel, e a expectativa é realmente de alta nos próximos meses. O diesel é o substituto natural para o gás usado na Europa, e que vem tendo seu fornecimento cortado pela Rússia. Nos Estados Unidos, a preocupação com a escassez do produto de setembro a novembro vem levando à formação de estoques, restringindo ainda mais a oferta global.

"Entendo que não seria o momento (para reduzir diesel), até porque esta defasagem sofre grande influência do dólar também, e o preço do petróleo está volátil. Temos que ficar de olho na reunião da Opep de hoje (quarta, 3) e nos estoques nos Estados Unidos", disse o analista da Mirae Asset Pedro Galdi.

Para o analista da divisão de óleo e gás da StoneX, Pedro Shinzato, os preços internacionais, tanto do diesel quanto da gasolina, tiveram quedas nos últimos dias, o que foi acompanhado pelo câmbio. Esse movimento aliviou o preço de paridade. Ainda assim, a partir de setembro a tendência é de que o diesel volte a ficar pressionado. Por isso, diz Shinzato, a Petrobras tem evitado mexer nos preços. Além do mais, lembra, a companhia praticou cotações abaixo do preço de paridade de importação (PPI) durante a maior parte do ano e, agora, pode estar buscando uma compensação para alcançar um preço médio anual mais alinhado com o exterior.

Preços de combustíveis em posto de gasolina em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

Pressão

O risco de a Petrobras reduzir o preço do diesel no momento é de ter que aumentar o combustível mais à frente, já que o mercado está volátil e o produto está escasso, afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araújo.

A entidade calcula que, na teoria, o preço do diesel poderia ser reduzido em média R$ 0,49 por litro, e a gasolina em R$ 0,24, na comparação com os preços internacionais de hoje para atingir a paridade com o Golfo do México, que serve de referência para a importação dos produtos.

"Anunciar a redução de preços é ótimo, todo mundo bate palma, mas se precisar jogar para cima mais à frente, vai ter de novo uma pressão de Brasília muito grande, A Petrobras deve esperar um pouco mais", disse Araújo, ressaltando que a expectativa é de alta de preço do diesel e que, mesmo com a janela aberta para importação, seus associados este ano estão importando bem pouco. "Somente um associado importou em 2022, e volume baixo", informou.

Segundo Araújo, exportadores norte-americanos estão deixando de exportar diesel para fazer estoques - que nunca estiveram tão baixos -, porque temem que a temporada de furacões restrinja ainda mais a oferta.

Também para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), o que está segurando a queda de preços pela Petrobras é o receio com a volatilidade do diesel, atualmente maior do que a da gasolina.

"O diesel não tem acompanhado a curva (de preço) do petróleo pela possibilidade de faltar gás na Europa, e também pelo armazenamento de diesel. Por isso ela (Petrobras) teme baixar agora e depois ter que aumentar", afirmou.

Pires calcula que seria possível uma queda de 5% no preço do diesel e de 3% para a gasolina. Ele defende que os reajustes devem ser feitos aos poucos, semanalmente, de preferência, como faz a Acelen, refinaria baiana privatizada no final do ano passado."Ou vai acontecer como com o general (Joaquim Silva e Luna, ex-presidente da Petrobras), que ficou com os preços parados e quando reajustou teve que aumentar em 25% o diesel e em 17% a gasolina (maio 2022)", observou.

Ele ressalta que, da mesma maneira, não é recomendável fazer como o também ex-presidente da Petrobras Pedro Parente, igualmente demitido por dar sucessivos aumentos em curtos espaços de tempo, seguindo o modelo implantado por ele em 2016: o preço de paridade de importação (PPI), que leva em conta a variação do preço do petróleo, do câmbio, e os custos de importação (frete, portos).

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Reajustes semanais

A Acelen, um braço do fundo de investimentos árabe Mubadala, controla a Refinaria de Mataripe, na Bahia, e semanalmente faz reajustes na gasolina e no diesel, para cima ou para baixo. Na semana passada, reduziu o diesel em 1,4%, ficando com o preço abaixo da Petrobras, e da gasolina em 2,3%.

Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, acredita que a Petrobras não mexe no preço do diesel por estar em compasso de espera, a fim de entender para onde caminha o mercado internacional.

"O alívio nas cotações (do diesel) é recente. O momento ainda é de incerteza, e a previsão é que o último trimestre do ano vai ser difícil, com recrudescimento das sanções à Rússia", diz Almeida.

A proximidade das eleições também é um fator decisivo. "Há todo um cuidado, porque sabem que, se baixar na hora errada, não é fácil subir os preços sob pressão política", afirma o especialista.

De toda forma, diz ele, a opção por manter preços mais altos que a paridade internacional só é possível porque a empresa não enfrenta concorrência no mercado doméstico. Além de produzir entre 70% e 80% do diesel consumido no Brasil, a estatal ainda é responsável por parte das importações. Em um cenário de volatilidade, preços altos e interferência política, importadores privados, sobretudo os que não atuam como distribuidores, optam por não operar.

"O mercado é aberto, mas muito concentrado. Se houvesse risco de perda de mercado, a Petrobras não faria isso (praticar preços acima do PPI). No mais, não se consegue contestar o mercado de um dia para o outro. Com a oferta de diesel apertada no exterior, leva tempo para que as empresas retomem importações e ofereçam produtos a preços mais baixos", conclui Almeida.

Estadão
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