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Dilma estreita laços com Cuba em cúpula continental sem EUA e Canadá

26 jan 2014 - 10h49
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A presidente Dilma Rousseff desembarca neste domingo em Cuba com o objetivo de estreitar os laços com Havana e participar da 2ª cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos).

O voo veio de Lisboa, onde a presidente passou a noite. A escala não estava prevista inicialmente na agenda oficial. Antes da parada na capital portuguesa, ela estava em Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial.

A própria realização da Celac, criada no México em 2011, pode ser entendida por analistas como uma mensagem política direcionada a Washington - uma vez que o grupo de 33 países participantes engloba quase todo o continente americano, excluindo os Estados Unidos e o Canadá.

"Trata-se de países da América Latina e das Antilhas participando de um órgão não central, isso tem um significado político", disse o professor Tullo Vigevani especialista do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp.

Dilma Rousseff também se reunirá com o presidente Raúl Castro na segunda-feira - ocasião em que deve agradecer ao mandatário pelo envio de médicos ao Brasil. Os médicos cubanos compõem hoje o maior contingente de mão de obra do programa Mais Médicos, que deve ser um dos elementos de propaganda da campanha de reeleição da presidente no fim deste ano.

Ela deve participar ainda da inauguração do porto de Mariel, cuja maior parte da construção foi realizada pela brasileira Odebrecht - com financiamento de US$ 957 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A obra - um dos maiores projetos da ilha desde a Revolução de 1959 - começou em 2010 e tem como objetivo transformar Mariel em um dos principais portos da América Latina. O projeto é visto por analistas como parte das reformas econômicas que vêm sendo promovidas pelo regime de Raúl Castro.

Contudo, o financiamento recebeu fortes críticas da oposição brasileira, que acusa o PT de gastar mais dinheiro em Mariel do que em portos do Brasil. Já parte do empresariado vê o projeto com desconfiança, duvidando da capacidade cubana de honrar o financiamento.

Celac

A Celac é uma comunidade relativamente nova, que tem como uma de suas principais finalidades resolver conflitos políticos regionais, porém com autonomia em relação aos Estados Unidos, explica o professor Luís Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp.

Segundo ele, a Celac difere de outras comunidades de países. Não visa, por exemplo, uma integração regional profunda entre os países, nos moldes da União Europeia. Nem pretende substituir a OEA (Organização dos Estados Americanos), na qual EUA e Canadá estão presentes.

Em tese poderia ser usada para lidar com um eventual golpe de Estado ou situação de desrespeito a legalidade democrática.

"A Celac poderia ter importância na resolução de crises como, por exemplo, a do Manoel Zelaya (deposto em 2009 em Honduras)", disse Vingevani.

Segundo ele, ela deverá ser usada pela Argentina para tratar da questão das ilhas Malvinas (Falkland para os britânicos) sem sofrer oposição das grandes potências. Também pode ser usada por Cuba para a condenação do embargo imposto pelos Estados Unidos.

Contudo, segundo ele, a comunidade não prevê mecanismos de pressão como a emissão de resoluções ou instituição de embargos. "Ela não tem poderes; sua capacidade efetiva depende do interesse político das nações", disse.

Ou seja, a crise pode ser discutida no espaço da comunidade, mas qualquer ação concreta ainda dependeria do estabelecimento de um acordo entre os participantes.

Segundo Tatiana Berringer, especialista em relações internacionais da Faculdade Faap, de São Paulo, a Celac também pode ser entendida como um compromisso de cooperação entre Estados vizinhos com base no desenvolvimento.

"A Celac é um organismo político importante porque tem o objetivo de coordenar políticas de combate a desigualdades sociais. Representa um marco para a integração mas tem um caráter político. É a primeira iniciativa com esse contorno", disse.

Já na opinião de Vingevani, apesar de ser um órgão importante, a comunidade não seria prioridade nas relações internacionais da maioria de seus participantes. Segundo ele, no México, por exemplo, algumas autoridades enxergam nela uma oportunidade de manter laços com a América Latina e a América do Sul independente de sua ligação com os Estados Unidos.

Cuba, por sua vez, estaria mais ligada à Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), porém tem na Celac um canal importante de contato com as nações sul-americanas.

"Também não é prioridade para a política externa brasileira, mas é um instrumento para acordos e ações regionais", disse.

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