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'A floresta em pé tem que valer mais do que soja e gado', diz Suzana Pádua; leia entrevista

Educadora ambiental afirma que 'biodiversidade é um tesouro' que País não poderá recuperar caso seja perdido

1 fev 2023 - 05h11
(atualizado às 12h56)
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Mergulhada, há tempos, na defesa do meio ambiente, e sabendo que nesse combate a educação é fundamental, a doutora em desenvolvimento sustentável Suzana Pádua elege como vitais para o País um plano para já - com a virada de governo - e outro no médio prazo. "Vamos ter que, de algum jeito, reconstruir nossos órgãos ambientais." E, mais à frente, "teremos de fazer com que a floresta em pé passe a valer mais do que a soja e o gado".

Por trás dessa síntese há três décadas de luta em defesa da natureza - que incluiu a criação do Instituto Ipê e da Escola Superior de Educação Ambiental e Sustentabilidade (Escas), onde se oferecem cursos curtos, mestrado e MBA.

"Queremos de algum jeito contagiar com essa nossa paixão pela natureza o profissional, seja de que área for", ressalta Suzana nesta conversa com Cenários. E faz uma advertência: "O conhecimento é a base da mudança" - e é preciso "ter uma visão sistêmica para fazer a compensação da natureza".

Isso passa por aproximar a academia dos fazendeiros, na defesa das matas e das espécies. Em setembro passado, o Ipê recebeu, em parceria com a Biofílica Ambipar Environment, o Prêmio Environmental Finance, pelo projeto AR Corredores de Vida - ações de reflorestamento na área do Paranapanema, no interior paulista.

Suzana Pádua, que se dedica há três décadas na luta pela defesa da natureza.
Suzana Pádua, que se dedica há três décadas na luta pela defesa da natureza.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

A seguir, os principais trechos da conversa.

O que fez o Instituto Ipê para ganhar esse prêmio?

Nosso foco é tratar a biodiversidade como o maior valor do Brasil. Somos um país único, com uma riqueza que ninguém mais tem, e precisamos salvá-lo de qualquer maneira. Uma de nossas tarefas é mitigar as ações humanas em ambientes degradados. No Pontal do Paranapanema, onde nascemos, o que sobrou do desmatamento foi o Parque do Morro do Diabo - e nosso empenho foi salvar ali o mico-leão-preto, considerado extinto há 70 anos. Meu marido Cláudio fazia doutorado e focou no mico. Eu entrei na missão com a parte educacional e questões sociais. A meta era criar áreas florestais para conectar espécies isoladas - sem o que surgem problemas de consanguinidade.

Na prática, em que consiste esse trabalho?

Em plantio de árvores em larga escala. Hoje, a gente está plantando um milhão de pés por ano. Trabalhamos muito com os fazendeiros e com os assentados no Pontal. Eles plantam espécies nativas e nós as compramos. Os assentados melhoram de vida e o verde agradece.

Nesse tema, os fazendeiros são vistos, por muita gente, como destruidores. Como é esse relacionamento?

Em tudo o que é novo, há uma certa resistência. O histórico do Paranapanema é dramático, até agente laranja foi usado - o mesmo desfolhante usado no Vietnã - num lugar onde convivem o mico-leão-preto, onças, borboletas... Sim, às vezes, é difícil abrir diálogo. Mas houve uma mudança significativa, hoje os fazendeiros estão participando, legalizando as terras, córregos e matas. E o crédito de carbono não vai para eles, vai para a empresa que nos fornece os recursos para restaurar. É um processo em que entram advogados do Ipê, da Biofílica Ambipar e também os dos fazendeiros. O nosso papel é mostrar que todos os lados ganham nesse jogo. Como educadora ambiental, aviso que precisamos instituir novos valores nesse diálogo.

Promover a educação, né?

Isso é a base. Você lida com muitas complexidades, no caso do Ipê, para fazer essa compensação com a natureza. E tem que ter uma visão sistêmica. Somos parte de uma teia de vida. Dados recentes mostram que, desde os anos 1970, praticamente 70% das espécies existentes no planeta estão sendo impactadas pelo meio ambiente. E quem está fazendo isso? Somos nós. Então é urgente dar toda ênfase à educação ambiental, na sustentabilidade. E não se pode esperar muito, estamos no tipping point, o ponto de não retorno. Isso quer dizer: precisamos de uma mudança de atitude.

Mudança de que forma?

Tratar a biodiversidade como um real valor. Reconstruir, de algum jeito, todos os nossos órgãos ambientais, que sofreram um desmonte. E fiscalizar.

Como fiscalizar um País tão grande?

Isso já vem acontecendo. Temos organismos como Map-Biomas e o Imazon, que podem ajudar. Dispomos de muitos dados na mão. Então é questão de vontade política.

A educação é importante mas nossa inteligência está migrando para fora. Como saímos dessa?

Acho que alguns ambientalistas só não migram porque sabem que a riqueza ambiental está aqui. Veja, qual é o sonho para a Amazônia? É construir um conhecimento real sobre a biodiversidade, para poder competir com a invasão da soja e do gado. A floresta em pé tem que valer mais do que soja e gado.

Pensa numa estratégia para chegar a essa conquista?

Acredito que você tem de ter três fatores juntos - pesquisa, investimentos e empresas. Acredito muito no conhecimento aplicado, adoraria ver conjuntos de especialistas de diferentes áreas, com base em dados, traçando o Brasil de amanhã. E é preciso tratar o País na sua integridade. Sabendo que a biodiversidade é um tesouro e que se o perdermos não há como recuperá-lo.

Estadão
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