Americanas detecta buraco contábil de R$20 bi, Rial deixa presidência após 10 dias
SÃO PAULO (Reuters) -A Americanas informou nesta quarta-feira que encontrou inconsistências contábeis de 20 bilhões de reais ligadas à conta de fornecedores e que o presidente-executivo, Sérgio Rial, decidiu deixar a companhia.
Rial, que havia assumido no último dia 2 como presidente-executivo, será substituído interinamente por João Guerra, oriundo das áreas de tecnologia da Americanas e "não envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira".
A Americanas afirmou que a decisão de Rial de sair refletiu a "alteração de prioridades da administração" e que ele continuará como assessor dos acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.
O grupo afirmou que, apesar de não conseguir determinar todos os impactos no balanço da empresa neste momento, acredita "o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial".
Como referência, o atual valor de mercado da Americanas, um dos maiores grupos varejistas da América Latina, é de cerca de 11 bilhões de reais. O patrimônio líquido da companhia no fim de setembro era de 14,7 bilhões de reais.
Para profissionais do mercado, o anúncio deve acertar em cheio as ações da companhia.
"Como uma empresa do tamanho da Americanas, cujos relatórios financeiros passam por auditoria, consegue esconder 20 bilhões de reais de dividas", questionou Fabrício Gonçalves, presidente da Box Asset Management. "Para nós, isso vai gerar um fluxo vendedor muito grande".
Segundo a Americanas, as inconsistências foram detectadas em redutores da conta de fornecedores em anos anteriores, incluindo 2022, e a cifra de 20 bilhões de reais refere-se à data-base de 30 de setembro passado.
O conselho de administração da empresa determinou a criação de um grupo para apurar as circunstâncias que geraram os problemas na contabilidade.
Dona dos sites de varejo Submarino e Americanas.com e da fintech Ame, a Americanas disse ter identificado financiamentos de compras nas quais ela é devedora e que "não se encontram adequadamente refletidas" no balanço.
OTIMISMO ABREVIADO
A ação da Americanas, formada em 2021 com a união das lojas físicas do grupo com a operação online que estava sob a antiga B2W, teve em 2022 queda de 68,7%, em linha com a desvalorização das ações de empresas de tecnologia, diante de desaceleração das vendas e da inflação e dos juros altos. No terceiro trimestre, a Americanas teve prejuízo de mais de 200 milhões de reais.
Em agosto, as ações da Americanas chegaram a disparar quase 20% em um só dia, após o anúncio de que, em substituição a Miguel Gutierrez, que ocupava o cargo por 20 anos, Rial assumiria o comando da empresa, o que aconteceu semana passada.
A Americanas deve divulgar seus resultados de 2022 em 29 de março. Analistas, segundo dados da Refinitiv, esperam um lucro operacional medido pelo Ebitda de 2,9 bilhões de reais e receita líquida de 28,7 bilhões para o acumulado do ano passado.