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BC faz novo corte de juros de 0,50 ponto e Selic cai para 12,75% ao ano, em decisão unânime

Com a nova baixa, Brasil deixou a liderança global dos juros reais; Copom diz que prevê novos cortes da mesma intensidade nas próximas reuniões e reforçou importância de governo cumprir a meta fiscal

20 set 2023 - 18h50
(atualizado às 19h31)
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BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o combinado na última reunião e reduziu pela segunda vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. A decisão foi unânime e levou a Selic para o menor patamar desde maio de 2022.

Apesar de não citar a evolução da questão fiscal no balanço de riscos para a inflação, o Copom dedicou um parágrafo do comunicado para destacar a importância de o governo cumprir as metas fiscais já estabelecidas.

Enquanto o mercado segue duvidando da capacidade da equipe econômica de entregar a meta de zerar o rombo das contas públicas em 2024, o Copom destacou a relação entre esse objetivo e a reancoragem (convergência para a meta) das expectativas de inflação em prazos mais longos.

"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", destacou o comunicado.

Entre os riscos de alta para a inflação está uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Apesar de admitir que a atividade econômica tem apresentado mais resiliência que o esperado pelo BC, o Copom manteve hoje a avaliação de que haverá, sim, um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres.

Juros reais

Com a nova baixa, o País finalmente deixou a liderança global dos juros reais (descontada a inflação) - foco das críticas do governo Lula, políticos e empresários. O Brasil ocupava o posto ininterruptamente desde maio de 2022, quando a Selic, ainda no ciclo de alta, chegou justamente ao mesmo patamar adotado hoje.

Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,40% e agora figura em segundo entre os campeões do mundo, atrás do México (6,61%). Em terceiro, aparece a Colômbia (5,10%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 1,06%. Nas contas do BC, o juro neutro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, é de 4,5%.

No comunicado, o comitê afirmou que prevê para as próximas reuniões novos cortes na mesma intensidade - ou seja, de 0,50 ponto porcentual. O colegiado ainda reafirmou que considera o ritmo de queda de 0,50 ponto "apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário". No texto, o Copom também não deu novas dicas sobre o tamanho total do ciclo de queda da Selic.

"O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", diz o comunicado.

Conforme a sinalização dada no encontro anterior, em agosto, a queda da Selic para 12,75% já era amplamente esperada. Todas as 69 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast apostavam no novo corte de 0,50 ponto.

Em agosto, o comitê afirmou que seus membros, unanimemente, consideravam esse ritmo o mais adequado para as próximas reuniões, apesar da decisão dividida e apertada no corte inaugural da Selic (5x4), de 13,75% para 13,25% ao ano.

Decisão do BC foi unânime, diferentemente da última reunião, que inaugurou o corte na Selic, que teve placar 5 a 4 por corte de 0,50 ponto.
Decisão do BC foi unânime, diferentemente da última reunião, que inaugurou o corte na Selic, que teve placar 5 a 4 por corte de 0,50 ponto.
Foto: André Dusek/Estadão / Estadão

Inflação

As projeções oficiais do BC para a inflação subiram levemente, conforme o comunicado. No cenário de referência, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2023 de 4,9% para 5,0%. Para 2024, a atualização foi de 3,4% para 3,5%. Já para 2025, foi de 3,0% para 3,1%.

No cenário de referência, o BC ainda atualizou no Copom as projeções para os preços administrados. Em 2023, a estimativa passou de 9,4% para 10,5%. Já em 2024, variou de 4,6% para 4,5%. A projeção para 2025 saiu de 3,5% para 3,6%.

Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025.

Cenário externo

O colegiado destacou novas incertezas no cenário externo em relação à reunião anterior, em agosto. O comitê disse que "notou" a elevação das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos e a perspectiva de desaceleração econômica na China, o que exige atenção de países emergentes, como o Brasil.

"O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes", disse, no comunicado.

O colegiado resumiu que o ambiente externo "mostra-se mais incerto". Além das novas preocupações nos EUA e na China, o BC voltou a destacar que o processo de desinflação global continua, mas os núcleos de inflação ainda elevados e o mercado de trabalho resiliente em diversos países.

"Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas", reforçou.

Estadão
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