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Brasil tem hoje a opção de seguir o próprio rumo para tornar a frota sustentável

Para especialista, País tem características diferentes de outras nações, com o etanol e uma matriz energética mais limpa

19 ago 2023 - 22h07
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As características brasileiras para a transição energética - matrizes limpas em abundância e infraestrutura para o combustível etanol pronta - são diferentes do restante do mundo. Por isso, explica Paulo Roberto Cardamone, CEO da Bright Consulting, não é apenas preciso entender o contexto atual como pactuar regulações que também olhem para o futuro no horizonte de pelo menos algumas décadas.

"Globalmente, o futuro, em poucas décadas, sem dúvida, é a eletrificação. Talvez, a gente nem esteja mais aqui, mas vamos ter coisas mais diretamente relacionadas à eletrificação", explica o consultor, que participou do Estadão Summit Indústria Automotiva 2023. Apesar de a bússola de todos estar apontada para o cenário elétrico, segundo Cardamone, isso não significa que o Brasil tem de fazer o que está sendo orientado na regulação global. "Sempre bato nessa tecla. Não é o carro 'baterizado' que vai sobreviver, mas é o carro eletrificado que tem de ficar", afirma.

Nesse sentido, diz o especialista, enquanto a Europa e a China, por não terem nenhuma opção, estão dando fim ao carro a combustão - e vários países vão proibir a circulação desse tipo de veículos em poucas décadas -, no Brasil existem subsídios para as estratégias nacionais seguirem um outro caminho. "O governo é muito bom de escrever regulamento, mas como ele não entende muito bem o dia a dia da indústria, nós, do setor, temos de explicar. No curto e médio prazo, não há dúvida de que a solução é partir para a hibridização do carro flex. É o caminho mais adequado para a infraestrutura industrial que temos hoje", diz Cardamone.

O problema maior, diz ele, é que esse caminho, ou seja, de juntar eletricidade e etanol para serem os combustíveis do mesmo carro, está sendo percorrido no escuro. "Enquanto estamos desenvolvendo novos veículos, novas tecnologias, a regulação sobre esses processos ainda não saiu."

Na frente

Se a China resolveu ser um grande inovador no processo de eletrificação automotiva e, para isso, fez um programa governamental específico, o Brasil deveria seguir o exemplo, mas ajustando toda a estratégia para as características nacionais. "Somos, provavelmente, o único grande agente da indústria que tem alternativas. Os outros não têm", afirma Cardamone.

Painel teve participação de Paulo Roberto Cardamone, CEO da Bright Consulting.
Painel teve participação de Paulo Roberto Cardamone, CEO da Bright Consulting.
Foto: Marcelo Chello/Estadão / Estadão

Uma regulação adequada, na visão do consultor, deve abarcar tanto o carro elétrico quanto o híbrido, a partir do etanol. "Temos de tomar cuidado com o passo que vamos dar em relação ao futuro."

Ausência

Uma ação de governo eficaz é o que mais falta hoje no cenário nacional, afirma Flávia Consoni, professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"Com o pano de fundo das mudanças climáticas, e hoje, na Unicamp, usamos apenas o termo emergência climática, o grande impulsionador para a descarbonização é uma política pública adequada. Um planejamento de Estado com uma boa visão de futuro", diz a pesquisadora. E, para isso, qualquer plano precisa combinar uma matriz com diversas soluções tecnológicas que, juntas, vão dar a solução que o País e o planeta precisam.

"Qual é o direcionamento? Qual é a segurança que o mercado tem para atrair investimentos no sentido de que se pretende chegar?", questiona Flávia, fazendo referência a perguntas-chave que um bom projeto precisa responder.

Para Flávia Consoni, da Unicamp, poder público tem de traçar estratégias para a transição energética.
Para Flávia Consoni, da Unicamp, poder público tem de traçar estratégias para a transição energética.
Foto: Marcelo Chello/Estadão / Estadão

Segundo a pesquisadora da Unicamp, entre 2017 e 2018, vários setores ligados ao tema da transição energética se reuniram e fizeram um plano que estava praticamente pronto. Mesmo assim, a questão da eletrificação entrou em pauta apenas nos 45 minutos do segundo tempo. No entanto, o problema maior do processo, segundo Flávia, é outro.

"A estratégia estava praticamente pronta mas, até hoje, ela nunca foi publicada. Não se tem um documento público sobre isso. Nada acabou sendo lançado", diz. O pior, afirma a pesquisadora da Unicamp, é que a estratégia, hoje, está totalmente defasada. Segundo ela, vários países latino-americanos já lançaram um plano que pretendem seguir. São documentos que servem como uma espécie de mapa. "O Chile lançou o seu plano de eletrificação da mobilidade urbana em 2017 e, em 2021, já foi feita até uma revisão da estratégia."

Exemplo

O plano chileno prevê que todos os veículos, de leves a pesados, e veículos de transporte público urbano deverão ser elétricos a partir de 2035. O governo chileno planeja se tornar neutro em carbono até 2050. De acordo com levantamento do Ministério do Meio Ambiente, em 2020, os carros eram os responsáveis por quase 26% das emissões de gases de efeito estufa do país.

Estadão
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