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'No limite da tecnologia, nós vamos sempre optar pelo ser humano', diz CEO do Grupo Boticário

Fernando Modé avalia que as pessoas continuarão a ser úteis e não devem ser substituídas por máquinas, mesmo com os novos processos tecnológicos e avanços no setor de varejo de beleza

19 ago 2023 - 16h18
(atualizado em 21/8/2023 às 14h36)
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Com um olhar bastante otimista em relação ao cenário econômico brasileiro e ao mercado de varejo de higiene e beleza, o presidente do Grupo Boticário, Fernando Mode, espera conseguir, novamente, crescer o faturamento dos negócios da companhia acima do registrado no ano anterior e além do que apresentou o setor. "Nós temos nossas ambições, uma missão de crescer forte e mais do que o mercado de beleza cresce em 2023, como já fizemos no ano passado", diz o executivo.

Em entrevista ao Estadão, Mode comentou sobre as estratégias da gigante de beleza de manter o crescimento, que passa pelos investimentos de 10% da receita líquida do grupo nas áreas de tecnologia e inovação. "Nos últimos quase três anos, nós saímos de 250 profissionais em áreas ligadas à tecnologia para quase 3 mil funcionários", lembra.

O executivo também falou sobre como os avanços tecnológicos e modernização dos processos fabris da gigante de beleza não devem ser impactados com a possibilidade de substituir os seres humanos por máquinas, uma preocupação recorrente na indústria diante da modernização realizada através de novas tecnologias como a internet de 5ª Geração, o 5G, e a Inteligência Artificial. "No limite da tecnologia, nós vamos sempre optar pelo ser humano", diz o executivo.

Leia a entrevista na íntegra.

Como fica a expectativa da companhia em relação ao crescimento dos negócios neste ano de 2023?

Eu não gosto muito de marcar como será o crescimento. Nós temos nossas ambições, uma missão de crescer forte e mais do que o mercado de beleza cresce em 2023, como já fizemos no ano passado (quando a companhia cresceu 31% em 2022). Eu não sei te dizer exatamente quanto, porque não temos esse número ainda.

Como o sr. avalia o momento econômico do País e a atuação do governo federal que impactam diretamente no setor em que vocês atuam?

Nós vemos um cenário bem benigno, de bastante otimismo, especialmente para um negócio no estilo do nosso, e por que eu falo isso? Acho que tem uma ancoragem das expectativa de forma bem positiva, Um pouquinho mais favorável, né? Entendimento sobre isso, mas de otimismo tanto para o mercado, quanto para o consumidor. Nós acreditamos bastante no cenário de curto prazo desse ano. Talvez ano que vem também seja benigno para o Brasil, como estabilização de crescimento que seja favorável, principalmente para negócios com as características que os nossos tem de consumo.

Há apetite para novas aquisições e um crescimento de forma não orgânica da empresa?

Os movimentos não orgânicos, no curto prazo, nós continuamos olhando as oportunidades, mas ainda estamos fazendo o processo de digerir na nossa última grande aquisição que foi concluída no fim do ano passado com a compra da Truss, de produtos capilares para salão de beleza.

Sobre o aumento no consumo de classes mais baixas da população que têm acessado sites com de gigantes asiáticas do varejo. Shein, Shopee, AliExpress, entre outros, são uma preocupação em relação aos negócios do Grupo Boticário? Vocês os vêem como uma ameaça?

Hoje nós não temos um grande problema vinculados aos produtos dessas concorrentes vendidos em sites de cross boarder, que não são negócios competidores relevantes para nós, mas claro que eles podem vir a ser no futuro. Dadas as condições de igualdade de competição mais igualitárias possíveis, quem tiver o melhor produto com a melhor experiência terá espaço, é uma questão de custo-benefício.

Nós entregamos em várias grandes capitais qualquer tipo de produto em até uma hora na casa do cliente, e um produto com marca e qualidade reconhecida, com nível de preço adequado e entrega satisfatória. Você pode experimentar a cor de um batom antes de comprar, não vai ter que descobrir que não era exatamente o que você esperava. No cross boarder não há a mesma experiência de compra e de entrega que conosco.

Como ficam os investimentos da companhia na área de tecnologia e inovação?

Hoje, se colocarmos no aspecto geral, são em torno de 10% de todo o nosso faturamento que a gente tem hoje vinculado, tanto em higiene pessoal, quanto em outros produtos financeiros, novas tecnologias e soluções digitais. Hoje em inovação, são mais de seis mil produtos e 30% da nossa receita vem de novos itens que são lançados há menos de um ano no mercado.

Como a gente vende produtos de uso pessoal, nós fazemos isso através de uma rede de pessoas que são seres humanos, os franqueados nas nossas lojas, as vendedoras, as revendedoras na venda direta, todos os parceiros que a gente tem e fazem chegar os produtos.

Nós queremos ser uma empresa "love tec", porque nós vamos entregar os produtos com tecnologia, mas com o calor humano associado. A interação humana tem que ser preponderante à tecnologia, quanto menos a tecnologia aparecer, quando mais ressaltarmos a boa interação humana, esse é o nosso objetivo. Queremos ser um gerador de oportunidades.

Como a substituição de pessoas por novas tecnologias tem sido discutida dentro da companhia? Como o sr. vê essa discussão dos avanços tecnológicos sem que eles ceifem postos de trabalho de seres humanos?

No limite da tecnologia, nós vamos sempre optar pelo ser humano. Mas obviamente existirão momentos onde você vai ter que dar esses saltos (tecnológicos). E aí, para fazer esse salto que a gente imagina é carregar o ser humano mesmo. Então, nós estamos muito preparados hoje para poder ofertar na verdade o desenvolvimento para que as pessoas possam "passar" de estágio e continuar a ser útil mesmo com as novas tecnologias no futuro, sem perder o emprego.

Mas eu acredito que o nosso tipo de negócio favorece essas mudanças porque nós somos, no final das contas, uma empresa de tecnologia, uma empresa financeira, uma empresa de varejo, e também somos uma empresa de chão de fábrica. Então, nós temos várias possibilidades de adequação.

Estadão
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