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'Comunicado do Copom é muito preocupante', diz Haddad ao criticar manutenção dos juros

Ministro da Fazenda afirma esperar que ata ainda a ser divulgada pelo comitê atenue o tom do comunicado; para ele, futuras decisões do BC podem comprometer resultado fiscal

22 mar 2023 - 21h41
(atualizado às 22h10)
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira, 22, que o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgado pelo Banco Central (BC) é "muito preocupante". Segundo ele, o governo divulgou também nesta quarta, por meio do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do primeiro bimestre, que as projeções para as contas públicas estão melhorando.

"Eu considerei o comunicado do Copom preocupante. Muito preocupante, porque hoje nós divulgamos o Relatório Bimestral da Lei de Responsabilidade Fiscal, mostrando que as nossas projeções de janeiro estão se confirmando sobre as contas públicas, e o comunicado deixa em aberto, no momento em que a economia está retraindo e que o crédito, sobretudo para empresas e famílias, está com problema. O Copom chega a sinalizar até a possibilidade de uma subida da taxa de juros, que já é hoje a mais alta do mundo", disse.

Segundo Haddad, a depender das futuras decisões do BC, o resultado fiscal pode ser comprometido. O ministro ainda sinalizou que espera que a ata do Copom atenue o tom do comunicado.

"Obviamente, nós sempre vamos fazer chegar ao Banco Central as nossas observações, como aconteceu no primeiro comunicado da reunião de fevereiro. O primeiro comunicado também veio muito duro. A ata atenuou. Em alguns dias depois a ata veio diferente, uma pouco atenuada. Tomara que isso aconteça de novo. Nós esperamos que isso aconteça de novo, mas nós vamos fazer chegar ao Banco Central a nossa análise do que é mais recomendável para a economia brasileira encontrar o equilíbrio, de trajetória da dívida, da inflação, das contas públicas, do atendimento às demandas sociais", disse.

Haddad afirmou que as reiteradas críticas que tem feito ao BC e às decisões do Copom de manter os juros em 13,75% ao ano não geram ruídos porque são feitas de "boa-fé". "Na verdade, não existe ruído quando existe boa-fé. Eu estou aqui de boa-fé emitindo uma opinião que, eu penso que deve ser considerada pela política monetária, de uma pessoa que ocupa o Ministério da Fazenda", afirmou.

Inflação

O ministro minimizou as preocupações do Copom com a piora do ambiente internacional e com as expectativas de inflação. Ele afirmou que o Brasil está em "uma situação diferente dos demais países, porque a nossa inflação está mais controlada que a do mundo desenvolvido". Haddad ainda ressaltou que a apresentação do arcabouço fiscal deve melhorar as expectativas para a inflação.

"É só comparar com a inflação europeia. E a taxa de juros dos países desenvolvidos, apesar de ter subido, continua negativa. Não está positiva, enquanto a nossa taxa de juros é a maior do mundo. Está, hoje, rodando, dependendo de como você faz a conta, entre 6,5% e 8% acima da inflação. Então, evidentemente que é diferente da situação do mundo desenvolvido. A Europa está com uma inflação encerrada agora de 8,5%. Não é a realidade brasileira", disse.

Rui Costa

O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), também criticou a manutenção da taxa de juros. "Esta insensibilidade do Banco Central só aumenta o desemprego e o sofrimento do povo brasileiro. Não dá para compreender, infelizmente, essa decisão do Banco Central", afirmou. "O Congresso Nacional, que é a casa do povo brasileiro, o Senado Federal, que é a casa do povo brasileiro, precisam discutir isso seriamente. Um Banco Central independente não pode ser independente do povo e aliado dos que cobram juros nas alturas."

Horas antes de o Copom definir a taxa básica de juros, o ministro disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, presta um "desserviço" à população ao manter em 13,75% a Selic. Ele antecipou que o governo já tinha uma reação ensaiada caso o juro não caísse: redobrar as críticas a Campos Neto./Colaborou Weslley Galzo

Estadão
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