Dólar cai na sessão com exterior e discurso da Fazenda e acumula queda de 3,82% em janeiro
O dólar à vista caiu frente ao real nesta terça-feira, diante do enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior, após dados nos Estados Unidos reforçarem sinais de arrefecimento da inflação, e com recepção positiva no mercado a declarações de autoridades do Ministério da Fazenda.
Agentes financeiros aguardam por decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed) a ser divulga na quarta-feira, assim como do Banco Central (BC) do Brasil.
O dólar à vista caiu 0,75%, a 5,0761 reais na venda. Em janeiro, a moeda teve queda de 3,82%, após dois meses seguidos de alta, impactado por entrada de recursos no país, à medida que a reabertura da China tornou moedas de emergentes mais atrativas e perante ao diferencial de juros entre o Brasil e países desenvolvidos.
O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes, disse à Reuters que o cenário do câmbio nesta terça-feira foi "um pouco mais do mesmo do que vem acontecendo em 2023 e desde o final do ano passado".
Entre os fatores externos, "o índice de custo de emprego dos EUA ajudou (a reforçar) a tese de que o Fed está caminhando para o fim do ciclo" de alta de juros, afirmou ele.
O Índice de Custos do Emprego subiu 1,0% no quarto trimestre, informou o Departamento do Trabalho nesta terça-feira após alta de 1,2% no período de julho a setembro. Economistas consultados pela Reuters projetava aumento de 1,1%.
Com a desaceleração e o resultado marginalmente abaixo do esperado, o índice junta-se a uma série de outros indicadores recentes que sinalizaram certo alívio na inflação norte-americana.
A leitura vem um dia antes da divulgação de nova decisão de política monetária do Fed. O banco central norte-americano deve elevar sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, em nova redução no ritmo dos aumentos, e investidores aguardam ansiosos por sinalizações da instituição sobre seus próximos passos.
O Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE) também se reúnem nesta semana para decisões de juros.
O dólar, que avançava pela manhã ante uma cesta de moedas fortes, reverteu movimento após a publicação do indicador e operava em queda de cerca de 0,15%. Frente a divisas emergentes, o dólar tinha desempenho misto.
Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse que o cenário na sessão foi "mais pró-risco", mencionando, além dos dados nos EUA, indicadores de atividade econômica da zona do euro e da China.
Outro fator que favoreceu o real nesta terça-feira foi a cena local. Declarações de autoridades do Ministério da Fazenda foram novamente bem recebidas pelo mercado e ajudaram o dólar a acelerar queda ante o real no final da manhã.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou, em evento promovido pelo Credit Suisse, que não há discussão no Ministério da Fazenda sobre uma eventual mudança na meta para a inflação. Além disso, disse que o novo arcabouço fiscal do país deverá apontar uma trajetória para a dívida pública e usar o resultado primário como instrumento, com uma regra que mostre o horizonte do gasto público.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou após agenda na Febraban que não discute o tema da desoneração de combustíveis desde o início de janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu prorrogar o benefício, ressaltando que o tema poderá ser revisitado pelo mandatário, embora a pasta ainda não tenha sido acionada.
Novaes, do C6, cita um "discurso uníssono da equipe econômica, de responsabilidade fiscal" e que, em sua avaliação, vai "na direção positiva". Segundo ele, não teve uma fala específica que ajudou o câmbio, e o impacto veio do panorama mais geral.
No entanto, ele afirmou que "para o real ter movimentos consistentes de melhora é preciso ter os fatos efetivamente", em referência a medidas mais práticas, não apenas discursos.
O BC também entra em foco, já que, assim como alguns de seus pares globais, também divulga decisão de juros na quarta-feira, com expectativa majoritária de manutenção da Selic a 13,75%. O foco deve ficar no comunicado, em meio a uma alta recente das expectativas de inflação.
Operadores citaram ainda certa volatilidade pela manhã devido à formação da Ptax, calculada ao fim de cada mês pelo BC. Agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.