Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Motoristas sentem alívio na gasolina, mas sofrem com custo de vida elevado

Economia com o custo menor dos combustíveis é o usada para pagar a alimentação mais cara do dia a dia

26 jul 2022 - 15h11
(atualizado às 15h23)
Compartilhar
Exibir comentários

Quase um mês após a redução do ICMS sobre bens essenciais, a queda no preço dos combustíveis trouxe alívio para os motoristas de táxi e de carros de transporte por aplicativo. Os profissionais relatam que os custos com abastecimento diminuíram, no entanto, o valor poupado está sendo utilizado para suprir necessidades básicas, como comprar comida.

Foto: iStock

Taxista há 23 anos, o baiano Uellington Leal, de 49 anos, diz que em mais de duas décadas de profissão, o período mais crítico em relação ao preço dos combustíveis foi neste ano. Morador de Ilhéus, o profissional só abastece com gasolina e já chegou a pagar R$ 8 no litro do combustível. Segundo um levantamento da Agência Natural de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizado entre os dias 17 e 13 de junho, o preço médio do litro da gasolina na Bahia era de R$ 6,21, um dos mais altos do País.

Taxista há 23 anos, Uellington só abastece com gasolina e já chegou a pagar R$ 8 no litro do combustível Foto: Arquivo pessoal

Após a redução dos impostos sobre o combustível, Uellington diz que percebeu uma economia de aproximadamente R$ 40 por semana nos últimos abastecimentos. "Hoje nós ([taxistas) estamos rodando menos. Eu abasteço duas vezes por semana e, cada vez que eu ia abastecer, pagava R$ 150. Nas últimas semanas esse valor diminuiu para R$ 130?, afirma.

Segundo o taxista, o valor poupado em gasolina é direcionado para a compra de alimentos. "Melhorou um pouco para nós profissionais do volante, mas precisamos que abaixe mais o combustível. E não só isso, mas também os insumos no total. A economia (com a redução do combustível) está indo para comer, porque hoje tudo o que a gente faz é para comprar o básico", diz Leal.

Os preços dos combustíveis estão em queda no mercado brasileiro desde o início de julho. Segundo a ANP, o valor da gasolina foi o que mais teve redução por litro, com queda de 17,4% no acumulado do mês. Já o etanol hidratado registrou queda em 24 estados e no Distrito Federal na última semana, com recuo de 2,04% no preço médio. No mês, o valor médio do biocombustível no País caiu 12,02%.

A redução de preços também tem beneficiado a motorista de aplicativo Janaina Payá, de 37 anos, de São Paulo. Ela enfrenta uma jornada de 8 a 10 horas pelas ruas da capital para alcançar a meta de faturar R$ 350 em viagens por dia. Acostumada a abastecer com etanol por causa do alto custo da gasolina, a profissional diz que desde o início do mês também tem economizado cerca de R$ 40 a cada vez que abastece, valor que é reservado para fazer a manutenção do veículo.

Janaina Payá trabalha como motorista de aplicativo há um ano e tem economizado R$ 40 por dia abastecendo com etanol Foto: Arquivo pessoal

"Completo o tanque todos os dias. Antes estava colocando R$ 150 e, desse valor, eu conseguia fazer R$ 300. Hoje diminuiu o custo do combustível. Abasteço de R$ 100 a R$ 110 e consigo chegar no valor de 350 reais (em faturamento) por tanque, em um dia de trabalho", diz a profissional.

Motorista de aplicativo há um ano, Janaina conta que desde o início escutava queixas constantes de colegas de trabalho em relação ao preço dos combustíveis. "Parceiros que já estavam nessa rotina há quatro, cinco anos, sentiram a diferença e disseram que não estava compensando mais. Antes da pandemia eles abasteciam R$ 70 e conseguiam triplicar esse valor com as viagens", afirma.

Em São Paulo, o ICMS sobre a gasolina foi reduzido de 25% para 18%, com queda de R$ 0,48 no preço do litro. O Estado também diminuiu a alíquota do imposto sobre o etanol hidratado, que passou de 13,3% para 9,57% com expectativa de reduzir em R$ 0,17 o litro do combustível nas bombas.

Queda na inflação

Segundo André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a energia e os combustíveis comprometem 10% do orçamento familiar e são fatores importantes para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por esse motivo, a redução do ICMS sobre esses bens essenciais e indispensáveis irão influenciar na inflação de julho, podendo chegar a uma queda de 0,7 ponto porcentual.

O resultado do IPCA-15 de julho - uma prévia da inflação do mês e divulgado nesta terça-feira - já indica uma forte desaceleração nos preços. O índice teve ligeira alta de 0,13% em julho, abaixo do 0,69% de junho, e a menor variação desde junho de 2020. Os preços médios de combustíveis recuaram 4,88% no IPCA-15 de julho, com destaque para a gasolina (-5,01%) e o etanol (-8,16%). Com isso, os itens do grupo Transportes recuaram 1,08%, o maior impacto negativo sobre a alta de 0,13% no indicador agregado, com contribuição de 0,24 ponto porcentual (p.p.).

Apesar de a redução do preço da gasolina ser significativa e importante para os indicadores de inflação, Braz explica que a redução no preço do combustível afeta mais as famílias que têm carro próprio ou os profissionais autônomos do transporte, como motoristas de aplicativo e taxistas.

"A população que tem renda mais baixa praticamente não vê retorno nisso porque ou não tem veículo, ou usa o veículo com outro combustível, mas mesmo que essa parcela da população não perceba a queda do preço da gasolina, a inflação vai registrar queda e isso vai fazer com que os números recuem muito esse mês", diz o economista.

Em relação à queda do preço do etanol, André Braz diz que esse movimento pode ser explicado a partir da concorrência com a gasolina. "Se a gasolina ficar mais barata e o etanol não cair de preço, ele perde concorrência para gasolina por ser menos eficiente, então, se o etanol não quiser perder mercado para a gasolina, vão ter que reduzir o preço também e o setor sucroalcooleiro está atento, nós já estamos vendo isso nos índices de preço."

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade