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O pedido de desculpas do bilionário que defendeu mais desemprego como lição para trabalhadores

Um dos homens mais ricos da Austrália pediu desculpas depois de dizer que o desemprego deveria aumentar para lembrar aos trabalhadores arrogantes de seu lugar.

14 set 2023 - 11h55
(atualizado em 16/9/2023 às 14h58)
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Tim Gurner participou de um congresso imobiliário no início desta semana
Tim Gurner participou de um congresso imobiliário no início desta semana
Foto: AUSTRALIAN FINANCIAL REVIEW / BBC News Brasil

Um dos homens mais ricos da Austrália pediu desculpas depois de dizer que o desemprego deveria aumentar para lembrar aos trabalhadores arrogantes de seu lugar.

"Precisamos ver a dor na economia", tinha dito Tim Gurner.

No entanto, mais tarde Gurner disse que lamentava "profundamente" os comentários, que provocaram uma reação global.

Gurner já tinha ido parar nas manchetes ao sugerir que os jovens não conseguem comprar uma casa porque gastam muito dinheiro em torradas com abacate (um prato popular entre jovens).

Um vídeo editado com os comentários do empresário viralizou, registrando mais de 23 milhões de visualizações e fortes críticas nas redes sociais.

Em palestra durante um congresso imobiliário nesta semana, o australiano de 41 anos disse que a pandemia de covid-19 mudou para pior as atitudes e a ética dos trabalhadores - destacando os da construção civil como exemplo.

Ele, que era dono de uma academia e se tornou magnata do imobiliário, afirmou que a mudança está afetando a produtividade no setor que - combinado com regulamentações mais rigorosas - está alimentando a escassez de habitação na Austrália.

Ele defendeu que a atual taxa de desemprego do país, de 3,7%, deveria aumentar entre 40-50% para reduzir a "arrogância no mercado de trabalho". Isso faria com que mais de 200 mil pessoas perdessem seus empregos.

"Houve uma mudança sistemática na qual os trabalhadores sentem que o empregador tem muita sorte em tê-los", disse Gurner.

"Precisamos lembrar às pessoas que elas trabalham para o empregador, e não o contrário".

Mais tarde, porém, Gurner disse numa publicação no LinkedIn que tinha "feito algumas observações sobre o desemprego e a produtividade na Austrália que lamento profundamente e que estavam erradas".

Ele disse que havia "conversas importantes para ter neste cenário de inflação elevada, pressões sobre os preços da habitação e dos aluguéis devido à falta de oferta e outras questões de custo de vida".

Ele disse que os comentários que ele fez foram "profundamente insensíveis" aos funcionários, comerciantes e famílias "em toda a Austrália" que são afetados pelas pressões do custo de vida e pela perda de empregos.

Gurner acrescentou que reconhece que a perda de um emprego "tem um impacto profundo" nos trabalhadores "e lamento sinceramente que as minhas palavras não tenham transmitido empatia por aqueles que se encontram nessa situação".

Retaliação

Os comentários de Gurney foram feitos num contexto em que muitas empresas travam uma batalha com seus funcionários por salários e trabalho remoto
Os comentários de Gurney foram feitos num contexto em que muitas empresas travam uma batalha com seus funcionários por salários e trabalho remoto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O recuo de Gurner ocorre em um momento em que muitas empresas estão em atrito com seus funcionários por questões como trabalho remoto e salário.

A mudança de atitude em relação ao emprego também é uma questão de ampla discussão nas redes sociais, dando origem a hashtags como "demissão silenciosa" (quiet quitting, em inglês), um termo que pretende levar ao trabalhador a decisão de encerrar um contrato de trabalho além dos chefes, e "empregos para meninas preguiçosas", que se referem a cargos flexíveis e bem remunerados que oferecem maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Os comentários de Gurner, que foram compartilhados pela Australian Financial Review (AFR), organizadora do congresso, atraíram críticas em redes sociais como X (antigo Twitter), TikTok e LinkedIn.

Eles também foram condenados por políticos australianos de todas as esferas ideológicas. O parlamentar trabalhista Jerome Laxale disse que são "comentários que você associaria a um supervilão de desenho animado", enquanto o liberal Keith Wolahan disse que "não poderiam ser mais sem sentido".

"A perda de um emprego não é um número. São pessoas nas ruas e dependentes de bancos de alimentos", disse Wolahan à AFR.

A parlamentar norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez também criticou o magnata imobiliário.

"Lembre-se de que os principais CEOs aumentaram tanto seus próprios salários que a proporção entre os rendimentos deles e dos trabalhadores está agora em alguns dos níveis mais altos já registrados", escreveu ela no X.

Mas outros - como o presidente do Conselho de Minerais da Austrália, Andrew Michelmore - o defenderam.

"Os funcionários habituaram-se a ganhar a mesma quantia de dinheiro, mas não a trabalhar as mesmas horas", disse Michelmore à AFR.

Gurner é o executivo-chefe e fundador do Gurner Group. Ele tem um patrimônio estimado em US$ 598 milhões (R$ 2,9 bilhões).

Ele já tinha falado anteriormente sobre como os empréstimos de seu avô e ex-chefe o ajudaram a começar a carreira como empresário.

Em 2017, Gurner também fez comentários polêmicos criticando os jovens que estão comprando seu primeiro imóvel. Gurner disse que ele próprio, quando estava guardando dinheiro para a sua primeira casa, "não comprava smashed avocado (prato tradicional de torrada com abacate amassado) por 19 dólares (R$ 92) e quatro cafés a 4 dólares (R$ 20 reais) cada".

Isso gerou uma onda de debate e levou a BBC a perguntar: quantas torradas com abacate seriam realmente necessárias para pagar o depósito de uma casa?

Descobriu-se que, na época, em Londres, os compradores teriam de deixar de comprar 24.499 torradas com abacate.

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