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Prorrogação de desoneração de combustíveis provoca crise com produtores de etanol

Novo governo Lula prorrogou desonerações com publicação de MP; ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se opôs à medida, mas foi voto vencido

2 jan 2023 - 19h54
(atualizado em 3/1/2023 às 08h36)
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AGU diz que política de preços da Petrobras está alinhada ao 'princípio constitucional da livre concorrência'.
AGU diz que política de preços da Petrobras está alinhada ao 'princípio constitucional da livre concorrência'.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão

BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO - Ao prorrogar a desoneração de tributos incidentes sobre combustíveis, medida adotada pelo governo Jair Bolsonaro (PL) em meados do ano passado, o recém-empossado governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá que lidar com a reação do setor sucroenergético, por causa dos efeitos da medida sobre a produção de etanol. Como atinge a gasolina e o etanol ao mesmo tempo, a medida adotada por Bolsonaro torna o biocombustível nacional menos vantajoso, para os consumidores, do que o derivado do petróleo.

Quando os tributos foram reduzidos ano passado, uma emenda constitucional foi aprovada, em julho, para garantir o "diferencial de competitividade" dos biocombustíveis - uma nota técnica da equipe de transição de governo alertou que a prorrogação das desonerações poderia ser inconstitucional por isso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi contra a manutenção da desoneração, mas venceu a posição da ala política do novo governo, preocupada com os efeitos, sobre a popularidade, de um reajuste de preços nas bombas de postos País afora.

De acordo com uma fonte da cúpula petista, a resistência de Haddad e de seus auxiliares a prorrogar a desoneração foi responsável pelo "atraso" na publicação da Medida Provisória (MP) que prorrogou as desonerações de tributos. O texto estava prometido logo para o dia da posse, domingo, 1º, mas só saiu nesta segunda-feira, 2. Por causa disso, a MP veio numa edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU), não na edição regular.

Com a confirmação da prorrogação das desonerações, os telefones de figuras-chave do governo e da equipe econômica tocaram dezenas de vezes ao longo do primeiro dia útil da nova gestão, com líderes do setor de etanol enfurecidos com a medida. Antes de a MP ser publicada, a Unica, entidade que representa o setor de açúcar e etanol, divulgou nota afirmando que o novo governo atuou como "cúmplice de um atentado" com a decisão.

"O governo Lula se torna cúmplice de um atentado econômico, ambiental, social e jurídico, especialmente depois de ter se comprometido com um novo padrão de combate às mudanças climáticas há poucas semanas na COP-27 (Cúpula do Clima das Nações Unidas)", diz a nota, assinada em conjunto com o Fórum Nacional Sucroenergético (FNS).

A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) disse, também em nota, que a prorrogação das desonerações é "inconstitucional". Segundo a entidade, ao prorrogar a isenção de tributos sobre combustíveis fósseis, o governo federal "enfraquece a política nacional de incentivo aos biocombustíveis, a transição energética e a descarbonização". "O governo federal traz enorme prejuízo para a cadeia produtiva do etanol de milho, desde a produção primária no campo até os empregos nas indústrias e postos de revenda", diz a Unem.

Planta de produção de etanol em Piracicaba, interior de São Paulo; combustível ficou menos vantajoso para consumidores
Planta de produção de etanol em Piracicaba, interior de São Paulo; combustível ficou menos vantajoso para consumidores
Foto: Sergio Castro/Estadão / Estadão

Para cumprir a emenda constitucional do ano passado, a gasolina teria que ser reajustada em, no mínimo, R$ 0,45 por litro a partir de 1º de janeiro, estima a nota técnica da equipe de transição que alertou para o problema. O documento, obtido pelo Estadão/Broadcast, descreve um cenário de crise nos preços de combustíveis, deixada pelo governo Bolsonaro. Uma das críticas é o fato de que a redução das alíquotas dos tributos foi feita de forma temporária, em ano eleitoral, e com elevado custo fiscal. A nota técnica da equipe de transição calcula a perda de arrecadação, caso a desoneração a zero dos tributos federais sobre gasolina, diesel, etanol hidratado e querosene de aviação (QAV) seja mantida por todo 2023, em R$ 53,3 bilhões.

Caso as alíquotas de tributos federais sobre os combustíveis fossem restabelecidas logo em 1º de janeiro, "os acréscimos previstos serão de cerca de R$0,69 por litro de gasolina e R$0,33 por litro de diesel", diz a nota técnica. "Desta forma, o governo precisa ponderar as ações para conter os efeitos deixados pelas ações da gestão anterior e adotar medidas assertivas no curto, médio e longo prazo", continua o documento.

Segundo a nota técnica, a Emenda à Constituição 123, do ano passado, impediria a prorrogação da desoneração fiscal sobre a gasolina. O texto constitucional, aprovado no contexto das medidas visando reduzir os preços dos combustíveis, garante o "diferencial de competitividade" para os biocombustíveis, no mesmo nível de 15 de maio de 2022, mas abre a exceção para a desoneração fiscal temporária até o fim do ano passado. Terminado o prazo, gasolina e etanol não podem ficar, os dois, com alíquota zero, porque isso impossibilitaria manter o "diferencial".

Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, comercializadora independente de açúcar e etanol, acredita que em dois meses a tributação será retomada sobre os combustíveis, favorecendo os biocombustíveis. Para o especialista, o governo federal possui um "rombo fiscal gigantesco" e não poderá abrir mão dessa arrecadação. "Foi uma decisão política, para não trazer uma notícia de impacto desagradável para o consumidor na entrada do mandato, que traz um ônus bastante significativo (ao etanol) com a perda de competitividade", disse Rodrigues.

Estadão
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