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O que o game ‘Among Us’ me ensinou sobre liderança

Um jogo de celular é a melhor forma de compreender os comportamentos humanos no mundo dos negócios terrenos

24 nov 2022 - 02h00
(atualizado às 10h22)
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Foto: Vincenzo Malagoli / Unsplash

Among Us é um sucesso. No auge da pandemia, o game foi o mais baixado nos smartphones, segundo a consultoria Apptopia. E se você ainda não jogou, recomendo que o faça logo. Primeiro porque se trata de um Social Deduction Game, cuja principal meta é descobrir o papel oculto dos demais jogadores para identificar a lealdade da equipe. Depois, porque nesse ambiente seguro do game é possível aprender muito sobre liderança, criatividade e empreendedorismo – e, sobre esses assuntos, falo muito mais nos conteúdos do Projeto Unbox

O jogo determina algumas tarefas que devem ser cumpridas de forma coletiva dentro de uma nave, sempre com o cronômetro rodando. Até aí, nada demais, é mais um game de temática espacial, certo? Só que parte do grupo que está jogando é composta por impostores, que estão lá para atrapalhar e sabotar a galera. Cabe a quem joga administrar um cenário complexo: além de correr para cumprir as próprias tarefas, é preciso interagir com as pessoas, mobilizando-as para o alcance das metas de equipe. E, no meio de tudo isso, ainda encontrar tempo para mapear comportamentos que ajudem a identificar, afinal, quem são os impostores. Para ficar mais fácil de entender para quem não é do universo dos games, Among Us lembra um pouco jogos de tabuleiro como Detetive.

Se você achou o roteiro pura ficção, eu pergunto: não é assim também no jogo corporativo? 

O primeiro ponto de similaridade está na compreensão do nosso papel dentro da instituição: sou um membro da equipe ou um impostor? Em Among us, a decisão em cada partida é aleatória, mas será que na vida corporativa nós escolhemos mesmo qual desses papéis vamos desempenhar? Ou muitas vezes adotamos um ou outro perfil de acordo com as conveniências? 

Outra reflexão possível é sobre as regras do jogo. Among Us nos ensina que, mesmo conhecendo as regras desde a largada, é fundamental desenvolver percepção e sensibilidade para entender o que pode mudar durante a partida. Na vida real ocorre o mesmo: o rumo se modifica e exige de nós muita flexibilidade para seguir, especialmente no empreendedorismo, quando negócios são idealizados, montados e meses depois a operação pode até se tornar ilegal. Acontece. 

Mas um dos pontos mais legais do jogo é que, quando você não é o impostor, você passa a partida inteira tentando descobrir quem é. Para isso, só tem um jeito: observar os comportamentos dos outros jogadores. Há algumas pistas clássicas que levantam suspeitas, por exemplo, quando uma pessoa se desloca do grupo, ou quando vai para uma outra sala com outro jogador e, depois, a tela do game avisa que esse acompanhante morreu. 

Observar, mapear e perceber quem está do seu lado é fundamental. 

Ouso dizer que analisar os comportamentos dos outros é mais importante do que buscar metas em si. E isso é verdade no jogo, no mundo corporativo, no empreendedorismo e na vida, em geral. Claro que é mais difícil enxergar expressões faciais e mapear humores e conflitos no time pela tela do jogo - ou pela tela da videochamada, como temos feito atualmente. Temos agora que interpretar as nossas percepções de comportamento por uma linguagem virtual que é limitada e muitas vezes fake. Não estamos acostumados a isso, pois, na vida analógica, quando estamos irritados, é com essa energia que entramos em uma reunião e muitos percebem. No digital isso não acontece, porque temos filtros para editar sentimentos que não queremos demonstrar. 

E se na tela estamos todos atuando e querendo apenas mostrar nossa melhor versão, o gestor, o líder e o empreendedor passam a enfrentar outro patamar de dificuldade para interpretar o momento das pessoas, desenvolver empatia e criar uma unidade de grupo. A saída que eu encontro - no jogo e na vida - é praticar mais a escuta ativa. Afinal, muito possivelmente há pessoas à nossa volta que percebem aquilo que ainda não notamos.

Por mais que Among Us tenha uma simplificação que só cabe ao mundo dos games - pois não há nada mais irreal do que dividir o mundo em bom ou mau - sua dinâmica nos permite entender a complexidade das relações, evidenciando que podemos cumprir muitos papéis de acordo com as circunstâncias. Não adianta julgar, pois no dia seguinte você pode estar na posição de impostor. 

Ficou interessado? Among us é gratuito para iOS e Android. E não, eu não fui pago para fazer propaganda, recomendo porque é bom mesmo.

(*) Rodrigo Guerra é economista, empreendedor e fundador do Projeto Unbox. Enxerga a inovação como uma responsabilidade social das lideranças, e não como um conjunto de metodologias. Fundou o Unbox para o ajudar em sua própria jornada de “desencaixotar” o pensamento crítico que antecede – ou deveria anteceder – qualquer projeto de transformação dos negócios e da sociedade.

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