Dirigente do BC diz que instituição é 'de Estado' e não 'de governo' e nega 'leniência' com inflação
Sem citar Lula, Bruno Serra, que é diretor de Política Monetária do banco, defende autonomia e lembra que órgão manteve Selic a 2% por três anos; petista tem questionado atuação de Campos Neto na autarquia
RIO - Sem citar nomes, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, respondeu nesta quarta-feira, 8, às críticas que a autarquia e sua política monetária vem recebendo, especialmente nesta semana, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dirigente eximiu a autoridade monetária da responsabilidade pela piora das expectativas de inflação nos próximos anos e disse que o afastamento das previsões de longo prazo do centro da meta não aconteceu por "leniência" do órgão.
"A gente entende que não deve ser leniência do BC, não pode ser. Um Banco Central que não tenha credibilidade para entregar a meta, seja lá qual for, é ruim para a sociedade, é ruim para o governo. É importante que a meta da inflação seja crível", assinalou, ao participar de um evento no município de Macaé, no interior do Rio de Janeiro.
Segundo ele, há alguns meses, os agentes "entendiam que a meta era crível, entendiam que, em 2025 ou 2026, o Banco Central seria capaz de entregar [a meta de inflação]".
Autonomia é padrão mundial, diz Serra
Em resposta às criticas à autonomia do BC, Serra disse que se trata de um padrão mundial e que beneficia a sociedade. Segundo ele, poucos países não têm seus bancos centrais autônomos. Citou Argentina e Venezuela como exemplos desse último caso.
"É importante segregar o ciclo político do ciclo da economia", declarou. "A economia não obedece ao ciclo político. O Banco Central tem de tomar decisões com base nos ciclos econômicos."
O câmbio oscilou em 2002 e 2018, quando ainda não havia autonomia do BC, lembrou. "O ano de 2022 foi mais tranquilo, em boa medida, porque o BC passou a ser autônomo, com mandatos fixos, um problema a menos para o governante se preocupar", afirmou.
Serra afirmou que o Brasil vive um ciclo de aperto monetário. "Vai ter um ciclo de flexibilização à frente", prometeu. "Está tudo dentro do esperado, do 'by the book'".
Segundo Serra, no momento atual, investidores estrangeiros veem oportunidades no Brasil. "Está vindo muito dinheiro para países emergentes", disse. Ele opinou que há um movimento de desvalorização do dólar, o que é favorável ao País. "Sou otimista com o câmbio. O real está performando (se comportando) melhor na margem."
Para Serra, o ponto mais "desafiador" no momento é ancorar a expectativa de inflação com a perseguição de uma meta crível. Ele disse também que vai cumprir seu mandato, que se encerra no fim de fevereiro. E declarou que pode ficar no cargo até a indicação de um substituto.
"Fico até o fim do meu mandato, no fim do mês. Se já tiver nome indicado, saio, naturalmente. Se não tiver, posso ficar um pouquinho mais, mas depende do presidente do Banco Central", disse.
Serra falou com jornalistas antes da palestra "Futuro e Cenários Econômicos", da iniciativa Repensar Macaé, em hotel da cidade do Norte do Estado do Rio de Janeiro.