Dólar cai e fecha aos R$ 6,04, em dia de posse de Trump e leilão do BC
O dólar à vista fechou em queda de 0,38%, aos 6,0420 reais. Em janeiro, a moeda acumula baixa de 2,22%
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou a segunda-feira em baixa ante o real, acompanhando o recuo firme da moeda norte-americana no exterior, após notícias de que Donald Trump não imporá novas tarifas de importação em seu primeiro dia na Presidência dos Estados Unidos.
Dois leilões de dólares realizados pelo Banco Central pela manhã também contribuíram para a queda das cotações no Brasil, com agentes do mercado especulando que a política de intervenções pode ter mudado com Gabriel Galípolo agora no comando do BC.
O dólar à vista fechou em queda de 0,38%, aos 6,0420 reais. Em janeiro, a moeda acumula baixa de 2,22%. Às 17h32 na B3 o dólar para fevereiro -- atualmente o mais líquido -- cedia 0,52%, aos 6,0555 reais.
O principal evento do dia -- a posse de Trump na Presidência dos EUA - coincidiu com o feriado do Dia de Martin Luther King, que manteve a bolsa de Nova York fechada, reduzindo a liquidez nos mercados de moeda em todo o mundo.
Parte da pressão antes da posse foi retirada após uma matéria do Wall Street Jornal informar que Trump divulgará um memorando nesta segunda-feira instruindo as agências a investigarem os déficits comerciais e as práticas comerciais injustas, mas não adotará novas tarifas em seu primeiro dia no cargo.
Com isso, o dólar passou a ceder ante as divisas fortes e em relação a quase todas as moedas de países emergentes.
No Brasil, o movimento ainda encontrou suporte nos dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) do Banco Central, nos quais foram injetados no sistema 2 bilhões de dólares.
Anunciados na noite de sexta-feira, os leilões desta manhã de segunda surpreenderam e, para alguns agentes, sugerem que o BC pode ter mudado a postura em relação às intervenções no mercado.
Esta foi a primeira intervenção realizada pelo Banco Central desde que Galípolo assumiu a presidência do BC e Nilton Schneider David passou a comandar a Diretoria de Política Monetária -- responsável pelos leilões.
"Eu não esperava por estes leilões", comentou Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos. "Mas teremos um período de aprendizado em relação a este novo Banco Central, para saber como eles vão conduzir a questão de venda de reservas", acrescentou.
Em dezembro, o BC ainda sob a presidência de Roberto Campos Neto vendeu um total de 32,6 bilhões de dólares em leilões ao mercado, considerando operações de linha e operações de venda de moeda sem compromisso de recompra. Na época, o BC quis atender à tradicional demanda de fim de ano por moeda, quando fundos e empresas costumam enviar recursos ao exterior.
Fora do período sazonal de fim de ano, no entanto, o BC de Campos Neto -- que contava com Galípolo na Diretoria de Política Monetária -- sempre se mostrou avesso a realizar operações de linha, de venda de dólares ou de swaps cambiais extras, mesmo nos momentos de maior volatilidade da moeda.
Campos Neto defendia que era função do BC entrar no mercado apenas nos momentos de disfuncionalidade -- um "discurso de manual" adotado ao longo dos anos pela autarquia, mas que sempre deixou margem para a questão: quando o mercado está disfuncional?
Alguns agentes do mercado argumentavam que a disparada do dólar nos últimos meses de 2024, causada em grande parte pelos receios em torno da política fiscal do governo Lula, trazia certo exagero de precificação e justificava atuações do BC, ainda que apenas para amenizar o movimento. Outra parcela do mercado, no entanto, se mantinha alinhado ao discurso de Campos Neto, de que não havia disfuncionalidades.
Agora a postura pode ter mudado.
"O leilão de hoje foi de surpresa. Não havia ninguém com expectativa de leilão por agora, mas não apenas Galípolo é o novo presidente, como também (o BC) trocou o diretor", comentou André Valério, economista sênior do Inter.
"Dezembro foi um mês muito atípico, com o BC torrando as reservas com vários leilões, porque tinha saída muito grande, e o mercado não estava muito funcional", acrescentou Valério, lembrando que janeiro é tipicamente um mês de entrada de dólares no país, e não de saída.
Os dados mais recentes do fluxo cambial brasileiro, no entanto, sugerem que pode haver algum "resquício" de envio de moeda ao exterior em janeiro. Neste mês até o dia 10, o fluxo brasileiro estava negativo em 4,610 bilhões de dólares.
Ainda assim, outros três profissionais do mercado de câmbio ouvidos pela Reuters disseram que os leilões de linha do BC surpreenderam e que, aparentemente, não havia necessidade de liquidez.
"Talvez seja uma estratégia nova, em que o BC, antes que haja estresse com alguma fala de Trump na posse, já coloque algum montante no mercado", pontuou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
Com a moeda norte-americana mais fraca no exterior e os leilões do BC, o dólar à vista oscilou nesta segunda-feira entre a máxima de 6,0866 reais (+0,36%) às 9h47, antes dos leilões do BC, e a mínima de 6,0291 reais (-0,59%) às 11h44, já após as operações.
No exterior, com a liquidez menor em função do feriado nos EUA, o dólar sustentava perdas fortes ante as demais divisas. Às 17h31, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 1,13%, a 108,090.
Pela manhã, em operação diária esperada, o BC vendeu 20.053 contratos de swap cambial tradicional em rolagem dos vencimentos de fevereiro.
(Edição de Alexandre Caverni)