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Dólar alto? O que esperar do real em 2023 após desvalorização recente

Depois de perder quase 40% do valor entre 2020 e 2021, maior desvalorização da história recente, moeda brasileira se recuperou neste ano, mas ainda está muito longe do equilíbrio.

11 nov 2022 - 15h18
(atualizado às 16h00)
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Depois de perder quase 40% do valor entre 2020 e 2021, a moeda brasileira se recuperou neste ano, mas ainda está muito longe do equilíbrio
Depois de perder quase 40% do valor entre 2020 e 2021, a moeda brasileira se recuperou neste ano, mas ainda está muito longe do equilíbrio
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Depois de cair para algo próximo de R$ 5 após a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o dólar registrou alta significativa na quinta-feira (10/11), de 4,1%, fechando o dia cotado a R$ 5,39.

Parte da alta foi "devolvida" nesta sexta-feira, quando por volta de 14h, o dólar comercial era negociado a R$ 5,29.

Apesar do salto, a moeda americana acumula queda em 2022, de cerca de 7,7%. Ainda assim, segue distante da chamada taxa de câmbio de equilíbrio - aquela que, de forma bastante simplificada, seria a ideal para o país, levando em conta suas variáveis macroeconômicas.

"Nossas contas externas estão positivas, o país tem reservas [em dólar], os termos de troca [a relação entre os preços de exportação e importação] estão favoráveis, não há nenhum grande desequilíbrio macroeconômico… olhando apenas para os fundamentos, o dólar deveria estar bem mais baixo", avalia o coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (CEMAP) da EESP-FGV Emerson Marçal.

Junto do pesquisador Oscar Simões, o economista calculou o nível atual de desalinhamento cambial brasileiro.

Levando em consideração os dados do segundo trimestre, os mais recentes disponíveis, o real estaria em média 20% mais fraco do que indicam seus fundamentos.

A análise consta no novo relatório do CEMAP, que deve ser divulgado nos próximos dias.

Por que o dólar ainda está tão caro

Em 2020 e 2021, o dólar acumulou alta expressiva de 38,9% em relação ao real. O desalinhamento negativo do câmbio nesse período é um dos maiores e mais persistentes da história recente do país, como mostra o gráfico elaborado pelos pesquisadores do CEMAP:

Gráfico do CEMAP ilustra desalinhamento cambial
Gráfico do CEMAP ilustra desalinhamento cambial
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

Parte do movimento se deveu ao fato de que, nesses dois anos, o país assistiu a uma saída expressiva de investidores estrangeiros, e por razões diversas.

O cenário de pandemia contribuiu para um aumento da aversão ao risco, levando investidores a tirar dinheiro de mercados considerados menos seguros, como os países emergentes.

As turbulências do cenário doméstico também contribuíram, sejam as dúvidas em relação ao compromisso do governo com a estabilidade das contas públicas, os atritos do Executivo com o Judiciário ou o discurso de ameaça a ruptura institucional muitas vezes repetido pelo presidente Jair Bolsonaro.

"O governo atual tem uma imagem internacional muito ruim", comenta Marçal.

Em 2022, por sua vez, o cenário internacional mudou, com fortalecimento do dólar. Uma onda global de inflação, em parte alimentada pelo aumento de preços de combustíveis, e a possibilidade de uma recessão na Europa levaram investidores a procurar ainda mais os ativos americanos, considerados seguros, contribuindo para apreciar a moeda dos Estados Unidos.

Isso provocou uma enxurrada de desvalorizações cambiais pelo mundo - libra, euro, iene, todos perderam valor ante o dólar.

O real tem sido uma das poucas moedas que têm conseguido ganhar valor em relação à moeda americana - a principal razão apontada pelos economistas foi a escalada forte da taxa de juros no Brasil, que saltou de 2% em março de 2021 para 13,75% no último mês de agosto, um dos aumentos mais significativos observados no mundo.

Esse efeito do aumento da Selic sobre o câmbio se dá porque, à medida que os títulos públicos e de renda fixa passam a pagar mais juros, eles atraem mais investidores, contribuindo para a entrada de dólares no país.

Nome do futuro ministro da Fazenda do governo Lula ainda não foi anunciado
Nome do futuro ministro da Fazenda do governo Lula ainda não foi anunciado
Foto: UESLEI MARCELINO/Reuters / BBC News Brasil

O que esperar para 2023 com a troca de governo?

O professor Emerson Marçal enxerga dois possíveis movimentos que podem ter impacto sobre o câmbio no primeiro ano do novo mandato de Lula - um que poderia baratear o dólar e outro que pode pressioná-lo para cima.

De um lado, um eventual retorno dos investidores estrangeiros ao país aumentaria a entrada de dólares, contribuindo para reduzir a cotação da moeda americana.

Um dos fatores que poderiam tornar o Brasil mais atraente seria o compromisso do governo com uma política ambiental responsável, com metas concretas de redução do desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa.

A visão negativa que a gestão Bolsonaro tem internacionalmente na área ambiental contribuiu para afastar o capital estrangeiro do Brasil nos últimos anos.

Cada vez mais fundos de investimentos norteiam suas aplicações com base nos princípios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), que levam em consideração medidas de sustentabilidade.

"O que continua é a incerteza em relação à questão fiscal", diz o economista, referindo-se às dúvidas que ainda existem em relação à política econômica do novo governo Lula.

A alta do dólar nesta semana aconteceu justamente após o presidente eleito dar sinalizações de que vai continuar ampliando gastos, sem apontar de forma clara um compromisso com o controle das contas públicas.

Na quinta, em sua primeira visita à sede da transição de governo, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília, Lula afirmou: "Por que as pessoas são obrigadas a sofrer para garantir a tal da responsabilidade fiscal deste país? Por que toda hora falam que é preciso cortar gastos, é preciso fazer superávit, é preciso cumprir teto de gastos?"

"Vamos mudar alguns conceitos, muitas coisas consideradas como gasto temos que passar a considerar investimento", concluiu.

O anúncio do nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a equipe de transição também desagradou o mercado. Mantega esteve à frente da pasta entre 2006 e 2015 e é muitas vezes associado com a deterioração das contas públicas na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em 2015, a nota de crédito do Brasil perdeu grau de investimento em duas agências de rating, a Standard&Poor's (S&P) e a Fitch; e em 2016, na Moody's. Até hoje o país tem nota considerada como grau especulativo nas três agências.

Na sexta-feira, contudo, o dólar já devolveu parte da alta do dia anterior. A notícia de que a PEC da Transição, que fará mudanças no Orçamento de 2023 para acomodar os gastos da nova gestão, foi adiada para quarta-feira da próxima semana alimentou a expectativa de que o texto pode ganhar alterações que sinalizem um controle maior das despesas do que sinalizado anteriormente.

Em um relatório, o economista da Oxford Economics Marcos Casarin avalia que parte do movimento nos preços de ativos nos últimos dias foi "excessivamente violento", mas pontua que o episódio manda uma mensagem dura ao presidente eleito sobre a complacência do mercado com a trajetória do gasto público no novo governo.

"Os mercados abriram nesta sexta recuperando parte das perdas, mas esperamos que a volatilidade permaneça elevada até que a transição presidencial seja concluída em janeiro", acrescenta o texto. Até lá, a expectativa da consultoria é que o dólar oscile entre R$ 5,20 e R$ 5,30.

O mais recente Boletim Focus, publicação do Banco Central que reúne estimativas das principais consultorias e instituições financeiras do país, projetam o câmbio de 2023 em patamar semelhante ao esperado para este ano, R$ 5,20.

Ainda que o cenário que se concretize contribua para a valorização do real, Marçal calcula que a taxa de equilíbrio do câmbio esteja hoje em torno de R$ 4,90/R$ 4,95. Ou seja, não seria fácil deixar o dólar muito mais barato do que isso.

Uma das razões para o patamar alto, ele explica, é o nível elevado da inflação brasileira nos últimos anos.

Inflação alta corrói poder de compra da moeda e faz com que ela perca valor diante das moedas de outros países, especialmente aqueles em que os índices de preços têm melhor trajetória.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63602841

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