Dólar bate valor recorde no fechamento mesmo com leilões do BC no câmbio
Banco Central fez dois leilões nesta manhã, de US$ 4,6 bilhões; mesmo assim, a moeda americana renovou marca histórica, com alta de 1,03%, a R$ 6,0934
Em meio à escalada do dólar, que permanece acima dos R$ 6 praticamente desde que o governo anunciou o pacote fiscal, no final de novembro, o Banco Central fez nesta segunda-feira, 16, uma nova intervenção no mercado. Apesar da medida, a moeda americana fechou o dia a R$ 6,0934, em alta de 1,03%, e renovou o recorde em mais de 30 anos do real. Até então, o maior nível registrado pela divisa no fechamento havia sido R$ 6,0829, marca da segunda-feira anterior, 9.
O câmbio também foi impactado pela edição do Boletim Focus, com uma síntese da percepção do mercado para a tendência dos indicadores nos próximos meses. No primeiro relatório divulgado após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumento de 1 ponto porcentual no juro básico da economia (a Selic), anunciado na quarta-feira, 11, a mediana para a taxa ao fim de 2025 subiu de 13,50% para 14%.
Já a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 aumentou pela nona semana consecutiva, de 4,59% para 4,60% - acima do teto da meta, de 4,50%.
No cenário externo, o índice DYX — que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes — apresentou leve recuo. Entre as principais divisas pares do real, o dólar avançou na comparação com o peso chileno, mas rondou a estabilidade em relação ao peso mexicano e ao rand sul-africano.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, voltou a defender a elevação de tarifas para produtos estrangeiros em resposta a países que taxa as exportações americanas. Ao citar exemplos de nações que teriam tarifas elevadas, Trump mencionou o Brasil e a Índia.
A nova intervenção do BC no câmbio
Logo após a abertura do mercado, quando a cotação da moeda americana chegou a R$ 6,0986 (alta de 1,12%), o BC anunciou um leilão de moeda à vista, no valor total de US$ 1,6 bilhão — o lote foi todo vendido, a R$ 6,04.
Mais tarde, foi feito um novo leilão, de US$ 3 bilhões, com compromisso de recompra (o chamado leilão de linha). Esse lote também foi todo vendido.
Mesmo assim, não foi suficiente para o mercado. Às 12h50, o dólar à vista tinha alta de 0,69%, cotado a R$ 6,0729. A moeda americana acumula nos últimos 30 dias uma alta de cerca de 5% e, no ano, de mais de 25% (ver grafico). Os juros futuros, no contratos para 2026 a 2029, também operavam em alta, atingindo patamar superior a 15% ao ano.
As ofertas de liquidez de dólar feitas nesta segunda-feira visaram a suprir a demanda maior de empresas para remessas de dividendos de fim de ano ao exterior, mas não desviam a moeda americana do seu viés de alta, que reflete principalmente uma enorme cautela do mercado financeiro com o cenário fiscal.
A apresentação de um pacote de contenção de gastos pelo governo teve efeito contrário ao esperado: ampliou as desconfianças do mercado em relação à capacidade do executivo de melhorar as contas públicas, o que teve efeito direto no câmbio.
Por conta dessa desconfiança, na última semana o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu endurecer a política monetária, elevando a taxa de juros em 1 ponto porcentual (de 11,25% para 12,25%), e sinalizando mais duas altas de mesma magnitude nas reuniões seguintes.
Agenda apertada
O mercado monitora também declarações feitas nesta manhã pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que garantiu que o governo irá cumprir a meta fiscal. Segundo ele, o presidente está "a par da situação das medidas fiscais no Senado e na Câmara".
A Câmara dos Deputados tem sessão deliberativa extraordinária virtual no plenário marcada para as 17h de hoje e inicia a semana com a expectativa de votação da regulamentação da reforma tributária e das três propostas ligadas ao pacote fiscal. Diante dos esforços do Palácio do Planalto pela liberação de emendas, a avaliação é de que há possibilidade de que o conjunto de regras avance a partir desta segunda-feira.
O tempo é curto, de uma semana, para votação do pacote de cortes de gastos de R$ 70 bilhões na Câmara e no Senado, até sexta-feira, antes do recesso parlamentar, que começa no dia 23 e vai até 1º de fevereiro de 2025. Também são esperadas as votações da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA).