Dólar despenca com reforma trabalhista e condenação de Lula
O dólar registrou forte queda e voltou ao patamar de R$ 3,20 nesta quarta-feira, com a combinação de mais otimismo no cenário interno --após a vitória do governo na aprovação da reforma trabalhista-- e externo, com apostas de que o banco central norte-americano não subirá os juros além do esperado.
A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão, que o coloca mais distante das eleições de 2018, também ajudou no movimento durante a tarde.
O dólar recuou 1,40%, a R$ 3,2075 na venda, menor nível desde 17 de maio passado (3,1337 reais), último pregão antes da divulgação de delação de empresários do grupo J&F que atingiu em cheio o presidente Michel Temer.
Na mínima do dia, a moeda norte-americana atingiu R$ 3,2053. O dólar recuou nos últimos quatro pregões, acumulando perdas de 2,76%.
O dólar futuro tinha queda de 1,50% no final da tarde.
"O mercado entendeu que, com a condenação, são menores as probabilidades dele (Lula) se candidatar à Presidência em 2018", afirmou o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.
O juiz Sérgio Moro condenou Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso envolvendo um tríplex no Guarujá, mas não determinou sua prisão imediata.
Na primeira sentença entre os três processos em que Lula é acusado no âmbito da operação Lava Jato, Moro também determinou a proibição de o ex-presidente exercer qualquer cargo público, com base na lei de lavagem de dinheiro. A interdição, no entanto, será suspensa a partir do momento que os advogados do ex-presidente recorrerem da decisão.
O mercado respirou mais aliviado por entender que, num eventual novo governo de Lula, a atual política de maior rigor fiscal poderia ser afetada.
"Dado que uma vitória de Lula evitaria as esperanças de reformas econômicas e fiscais necessárias, o impacto disso seria negativo no mercado. A decisão de hoje provavelmente dará impulso aos mercados brasileiros", destacou a empresa de pesquisas macroeconômicas Capital Economics, em comentário.
Antes da notícia, o dólar já vinha caindo forte frente ao real. Na noite passada, o Senado aprovou a reforma trabalhista, uma das principais matérias no Congresso Nacional da agenda de Temer, denunciado por crime de corrupção passiva e que corre o risco de não terminar seu mandato por isso.
O mercado continuava apostando que, com ou sem o presidente, a agenda de reformas deverá prosseguir, uma vez que a atual equipe econômica poderia continuar mesmo com outro assumindo a Presidência do país. Na linha sucessória, está o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo maia (DEM-RJ).
"O placar de aprovação da trabalhista foi folgado e, embora seja um termômetro pequeno para a aprovação de outras reformas, ajudou no tom positivo", afirmou mais cedo o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello.
Da cena externa, ajudou na queda do dólar o discurso da chair do Federal Reserve, Janet Yellen, pela qual afirmou que não será preciso elevar tanto os juros. Taxas mais altas na maior economia do mundo têm potencial para atrair capital hoje aplicado em outros mercados, como o brasileiro.
Com isso, o dólar caía ante moedas emergentes, como os pesos mexicano e chileno.
O Banco Central brasileiro vendeu integralmente, de novo, a oferta de até 8,3 mil swaps cambiais tradicionais --equivalente à venda futura de dólares-- para rolagem dos contratos que vencem em agosto. Com isso, já rolou US$ 1,245 bilhão do total de US$ 6,181 bilhões que vence no mês que vem.
(Edição de Patrícia Duarte)