Dólar em alta e juros mais elevados: como o pacote fiscal do governo deve afetar os investimentos?
Apesar da subida expressiva do dólar, economista ouvido pelo Terra não considera que houve uma "ruptura drástica" de cenário
A escala do dólar foi a resposta imediata do mercado financeiro à proposta de isentar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no âmbito do pacote de corte de gastos. Cotado acima dos R$ 6,00, o dólar deve pressionar a inflação, provocar o aumento da taxa de juros e, consequentemente, afetar o modo que investidores devem alocar seus recursos.
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“Quando a gente pensa em investimentos, o curto prazo está ditado por essas duas coisas: dólar mais forte e juros mais altos. Então, na verdade, você tem sinais de que a macroeconomia vai estar menos acolhedora para investimentos em renda variável, acho que a renda fixa ganha reforço neste momento”, considera Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Apesar da subida expressiva do dólar, Igliori não considera que houve uma “ruptura drástica” de cenário. Afinal, a moeda norte-americana já vinha em uma crescente e o Banco Central já havia retomado, em setembro, o ciclo de alta da taxa básica de juros.
“A gente já está muito no calor dessa decepção com o anúncio em si, mas não diria que tenha uma ruptura no cenário que motive alterações mais drásticas em termos de estratégias de investimento”, afirma Igliori, considerando, principalmente, os investimentos de médio e longo prazo.
Para Renan Silva, economista-chefe da Bluemetrix Asset, o momento é propício para investir em títulos de renda fixa pós-fixados, já que o mercado está na expectativa de que o Banco Central continue a elevar a taxa de juros.
“Nesse momento, os títulos pré-fixados ficam meio de lado e a preferência passa a ser pelos títulos pós-fixados. Ou também aqueles títulos indexados à inflação, IPCA +, porque também a gente deve ter uma inflação mais pressionada para os próximos meses”, diz.
Não vale investir em ações?
Ambos os economistas ouvidos pelo Terra consideram que é, sim, importante ter um percentual dos investimentos no mercado de ações, mesmo com a atratividade da renda fixa. Mas é preciso ter em mente que esse é um investimento mais a longo prazo do que curto.
“É sempre bom você ter alguma coisa de ações, nem que seja uma parte que não lhe faça falta agora no curto prazo. São investimentos ótimos no longo prazo e dando prioridade, por exemplo, às ações que estão bastante descontadas desses setores essenciais, esses setores que a sociedade não tem como abrir mão, como o setor de energia elétrica, de combustíveis, de mineração, o sistema bancário no Brasil, então os seguros, saneamento básico…”, lista Renan Silva.
Ele faz uma conta que, considerando uma pessoa que tenha apenas investimento em renda fixa, ao descontar a inflação e o imposto sobre o investimento, deve sobrar em torno de 4,5% a 5,5% de rendimento ao ano. Silva considera que ter, ao menos, 10% a 20% dos seus recursos alocados em ações é uma forma de elevar essa taxa.
Quando o dólar vai cair?
Para Danilo Igliori, o comportamento do dólar frente ao real, nesse momento, deve depender da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, agendada para semana que vem. O mercado já espera que a taxa Selic seja aumentada, mas o tom do comunicado do Copom pode elevar ainda mais o dólar.
“Um dos efeitos colaterais desse anúncio meio atabalhoado da semana passada é que aumentou muito a pressão em cima dessa última decisão do Copom. Na minha leitura, se tiver algum sinalzinho, por menor que seja, de que a nova diretoria do Banco Central pode tolerar a inflação acima da meta, eu acho que o dólar pode romper com mais força a barreira dos R$ 6,00”, considera o economista-chefe da Nomad.
Para o dólar voltar a ficar abaixo dos R$ 6,00 seria preciso que o Copom anuncie um aumento de, pelo menos, 0,75 ponto percentual na Selic, com votação unânime e que o Congresso Nacional realize a discussão do pacote de corte de gastos separada da reforma da renda, acredita Igliori.
“O mercado está muito sensível. Então nesse momento os sinais na direção contrária podem fazer o dólar avançar”, afirma.