Dólar fecha sessão volátil acima de R$5,20 com atritos entre governo e BC, ata do Copom e Powell
O dólar teve alta nesta terça-feira e fechou acima de 5,20 reais, após trocar de sinal várias vezes em sessão volátil e com vários catalisadores, entre eles novos atritos entre governo e Banco Central, a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) e falas do chair do Federal Reserve, Jerome Powell.
No mercado à vista, o dólar fechou em alta de 0,51%, a 5,2013 reais na venda, registrando o maior patamar desde 20 de janeiro (5,2086) e engatando um terceiro pregão consecutivo de ganhos, acumulando no período valorização de mais de 3%.
A moeda norte-americana encerrou o pregão acima de sua média móvel diária de 200 dias pela primeira vez desde 23 de janeiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que não quer confusão com o BC, mas destacou que o chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, deve explicação ao Congresso Nacional sobre sua conduta e que o Senado deve ser "vigilante". O petista e membros de sua administração e de seu partido têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC.
Contribuindo para os ruídos recentes envolvendo Executivo e BC, que têm aumentado receios de investidores sobre possível tentativa de intervenção do governo na autoridade monetária, o serviço de notícias Broadcast noticiou, citando técnicos do governo, que Lula quer indicar para diretorias da autarquia nomes que se contraponham ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, citando técnicos do governo.
Enquanto era alvo de novos ataques de Lula, Campos Neto destacou nesta terça-feira que a independência da instituição é importante porque desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político.
Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, o mais recente "coro" contra o Banco Central teve efeito negativo no câmbio, bem como acenos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao reajuste salarial de servidores públicos.
O estrategista acrescentou que parte dos mercados pode ter interpretado o tom da ata do Copom, divulgada nesta manhã, como um pouco mais "ameno" em relação à política fiscal do governo, o que pode ter ajudado a impulsionar o dólar. No documento, o BC reafirmou preocupação com o quadro das contas públicas, mas fez um aceno ao pacote de medidas fiscais apresentado recentemente por Haddad.
"Da mesma forma que o tom duro do comunicado limitou as perdas do real na semana passada, hoje o tom um pouco mais moderado favoreceu uma desvalorização do real", disse Rostagno.
No entanto, há quem tenha interpretado a ata como ainda dura no que diz respeito ao fiscal e ao combate à inflação. Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander disse em nota que o documento "confirma a intenção do BCB de seguir mantendo a Selic no atual patamar de 13,75%, nas condições atuais de incertezas fiscais e expectativas de inflação pressionadas".
Colaborando para a volatilidade na sessão, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta terça-feira que o mais recente relatório de emprego dos Estados Unidos mostrou que o processo para trazer a inflação de volta para perto da meta de 2% do banco central norte-americano levará "bastante tempo", embora haja indicações de que as pressões de custo estão em queda, pelo menos para bens.
"O mercado inicialmente entendeu que o relatório de emprego não teria mudado a visão de Powell (sobre a política monetária)", disse Rostagno, do Mizuho, destacando que houve uma melhora pontual acentuada no sentimento de risco dos mercados globais durante os primeiros momentos da fala do chair do Fed. No Brasil, o dólar chegou a cair para a faixa de 5,15 reais, antes de reverter completamente as perdas e fechar em alta.
"O mercado está piorando, as taxas (norte-americanas) estão voltando aos patamares pré-entrevista do Powell, então tem também um componente externo favorecendo essa alta do dólar", explicou Rostagno.
A indicação de Powell de que os juros norte-americanos permanecerão elevados por mais tempo tendem a atrair recursos para o mercado de renda fixa dos EUA, que ficaria mais rentável sob taxas mais altas. Isso, por sua vez, impulsiona o valor do dólar globalmente.