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Dólar passa de R$ 4,65 e acumula alta de mais de 15% em 2020

Moeda sobe pelo 12° dia consecutivo em meio a expectativas de corte de juros devido aos riscos econômicos do coronavírus

5 mar 2020 - 13h40
(atualizado às 15h11)
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O dólar superou a marca dos R$ 4,65 nesta quinta-feira (5) mesmo após anúncio de leilão extraordinário pelo Banco Central. Este é o 12° dia consecutivo de alta da moeda estrangeira em meio a expectativas de corte de juros devido aos riscos econômicos do coronavírus. Às 13:37, o dólar avançou 1,47%, a R$ 4,6481 na venda, depois de tocar R$ 4,6560, máxima histórica intradiária. O dólar futuro de maior liquidez avançou 1,35%, a R$ 4,654. No ano, a divisa já subiu mais de 15%.

Em todo o mundo, o foco seguia no surto de coronavírus em rápida expansão, que já atingiu cerca de 95 países, infectando mais de 95 mil pessoas, causando a morte de mais de 3 mil. Pelo lado econômico, o atual momento ameaça interromper as cadeias de suprimento mundiais.

14/11/2014
REUTERS/Gary Cameron
14/11/2014 REUTERS/Gary Cameron
Foto: Reuters

"Todo esse movimento é global. Há uma apreciação do dólar geral", disse Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon, citando movimentos de aversão a risco em meio a incertezas sobre o futuro da doença. "Quando que uma vacina será descoberta? Quando aparecerá uma cura?"

O pânico que vem abalando os mercados deixa o dólar no caminho de seu 12° pregão diário de ganhos, depois de ter renovado máximas recordes nos últimos dez fechamentos. Na quarta-feira, o dólar interbancário registrou salto de 1,55%, a R$ 4,5806.

O movimento acompanhava o exterior, com a moeda norte-americana ganhando contra peso mexicano, lira turca, rand sul-africano e dólar australiano, divisas mais arriscadas. O dólar perdia contra ativos seguros, como o iene japonês, o que deixava o índice da moeda norte-americana em queda de 0,38% contra seis pares.

Segundo muitos analistas, colaborando para a força do dólar está a expectativa de corte de juros no Brasil, depois que vários bancos centrais, incluindo o Federal Reserve, iniciaram movimentos de flexibilização monetária em defesa contra os riscos do coronavírus.

A redução sucessiva da Selic a mínimas históricas tornou alguns rendimentos baseados na taxa de juros brasileira menos atraentes para o investidor estrangeiro, o que tem prejudicado o desempenho do real.

Na véspera, contratos de DI passaram a embutir 100% de chance de corte da Selic neste mês e também uma taxa média de juros no quarto trimestre na casa de 3,7%, bem abaixo da Selic atual, de 4,25% ao ano.

Leilão do BC

Na tentativa de conter possível exagero no comportamento do câmbio, o Banco Central do Brasil anunciou para este pregão novo leilão de até 20 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020, no valor de 1 bilhão de dólares, em que vendeu o total da oferta.

O BC já havia realizado nesta quinta-feira leilão em que vendeu 20 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimentos semelhantes.

Segundo Abucater, um cenário doméstico desfavorável --com a possibilidade de a conjuntura brasileira se sair pior do que a de seus pares ao final da crise sanitária mundial-- é um dos motivos para as atuações recentes do Banco Central nos mercados, mas citou ineficiência das operações.

"O próprio BC não tem tido atuações enérgicas mesmo tendo ferramentas para tal. Ele não quer queimar o cartucho, porque entende que esse é um movimento global."

Imediatamente após o anúncio do segundo leilão do dia, o dólar reduziu drasticamente a alta e chegou a tocar a mínima da sessão de R$ 4,5880, mas logo recuperou o fôlego, voltando a superar R$ 4,60.

Para Flávio Serrano, economista sênior do banco Haitong, "as atuações servem mais pra evitar movimentos de mais volatilidade no dia do que para mudar o nível do câmbio".

"O que vai determinar se o real vai se valorizar ou não vai ser a diferença de crescimento entre Brasil e seus pares. Não são intervenções pontuais que vão alterar o nível do dólar, e sim uma mudança da dinâmica econômica", disse.

A economia brasileira registrou em 2019 o desempenho mais fraco em três anos ao crescer 1,1%, terminando o ano com fortes perdas de investimento e levantando dúvidas sobre a atividade em 2020.

(Edição de José de Castro e Camila Moreira)

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