Dólar recua com mercado avaliando sinais de alívio em Brasília; inflação e política monetária seguem em foco
O dólar caía acentuadamente contra o real nesta segunda-feira, com os investidores avaliando as perspectivas de manutenção de retórica mais branda do presidente Jair Bolsonaro, enquanto a inflação e a política monetária -- tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos -- continuavam no radar.
Na semana passada, Bolsonaro acendeu o alerta dos mercados em relação às tensões políticas domésticas ao fazer discurso fervoroso contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso durante manifestações do feriado de 7 de Setembro.
Depois, no entanto, Bolsonaro deu a impressão de ter recuado, esfriando o clima com a divulgação de nota na quinta-feira -- redigida com ajuda do ex-presidente Michel Temer -- em que afirmou nunca ter apresentado intenção de agredir quaisquer dos Poderes.
No fim de semana, o presidente voltou a empregar palavras mais ponderadas ao falar em feira agropecuária no Rio Grande do Sul, afirmando que os Poderes precisam ser respeitados e que o trabalho conjunto de Executivo, Legislativo e Judiciário deve beneficiar todos os brasileiros.
Nesse contexto de alívio, pelo menos por ora, na política local, o dólar recuava 0,93%, a 5,2188 reais na venda, depois de chegar a tocar 5,2036 reais na mínima da sessão, queda de 1,22%. O dólar futuro negociado na B3 caía 0,49%, a 5,242 reais.
Entretanto, Victor Beyruti, da Guide Investimentos, escreveu que alguns investidores continuavam um tanto céticos quando à "bandeira branca".
Num momento em que se discute a probabilidade de impeachment de Bolsonaro -- evento que poderia abalar ainda mais a frágil conjuntura política doméstica, segundo especialistas do mercado -- Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora, disse também que a baixa adesão em atos contra o presidente realizados no domingo podem dar força ao real.
Manifestantes realizaram atos contra o governo na véspera, defendendo a democracia e o impeachment do chefe do Executivo, mas também reclamando da alta dos preços de alimentos e dos combustíveis no país.
A inflação, a propósito, segue no radar dos investidores. A pesquisa semanal Focus, do Banco Central, mostrou nesta segunda-feira que o mercado passou a projetar alta de 8,0% do IPCA em 2021, o que, por sua vez, elevou as apostas para o patamar da taxa Selic. Agora, a expectativa é de que os juros básicos encerrem este ano em 8%.
Custos mais altos dos empréstimos no Brasil tendem a elevar a atratividade do mercado de renda fixa local, o que, por sua vez, pode aumentar o ingresso de dólares no país e ajudar na valorização do real.
Por outro lado, a inflação também tem dado sinais de avanço em outras grandes economias, como os Estados Unidos, e os investidores devem ficar atentos a dados desta semana que podem sinalizar os próximos passos de política monetária do Federal Reserve.
Na sexta-feira, a moeda norte-americana fechou em alta de 0,77%, a 5,2679 reais na venda.