Dólar sobe em linha com emergentes após dados da China e na espera por inflação dos EUA
O dólar subia frente ao real nesta terça-feira, em linha com os ganhos da moeda norte-americana em mercados emergentes, à medida que investidores demonstram aversão ao risco na espera por números de inflação dos Estados Unidos e após dados econômicos fracos da China.
Às 11h15, o dólar à vista subia 0,75%, a 5,6238 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,55%, a 5,632 reais na venda.
Nesta manhã, investidores globais demonstravam cautela antes da divulgação do relatório de inflação ao consumidor dos EUA na quarta-feira, o último antes da próxima reunião do Federal Reserve, em 17 e 18 de setembro, com os números podendo definir o tamanho do corte de juros a ser feito pelo banco central.
Na visão dos mercados, é certo que o Fed reduzirá sua taxa de juros, atualmente na faixa de 5,25% a 5,50%, na reunião de setembro, uma vez que o chair Jerome Powell afirmou no mês passado que "chegou a hora" de ajustar a política monetária para evitar um esfriamento adicional do mercado de trabalho.
Mas os operadores continuam ponderando o tamanho do corte, à medida que o último relatório de emprego antes da reunião, divulgado na sexta-feira, mostrou dados mistos que não ajudaram a consolidar as apostas em torno de uma redução de 25 ou 50 pontos-base.
"No exterior, a véspera do CPI deixa os mercados avessos ao risco e o clima de cautela predomina, diante do possível cenário de recessão ou de um pouso suave da economia norte-americana", disse Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,06%, a 101,710.
O dólar tinha queda de 0,4% em relação ao iene, a 142,6. A divisa norte-americana avançava ante o peso colombiano, o peso chileno, o rand sul-africano e o peso mexicano.
As moedas emergentes também eram afetadas pela piora nas perspectivas econômicas da China, depois que dados de comércio externo mostraram que a segunda maior economia do mundo teve uma desaceleração no crescimento de suas importações na base mensal em agosto, a 0,5%, ante avanço de 7,2% em julho.
O pessimismo se refletia nos preços de commodities importantes, como o petróleo e o minério de ferro, que voltavam a recuar nesta sessão diante dos temores de recuo da demanda do maior importador de matérias-primas do planeta.
IPCA E EXPECTATIVA PARA O COPOM
No cenário nacional, o mercado digeria novos dados do IPCA em agosto, em busca de sinais sobre a trajetória dos preços no Brasil e, consequentemente, sobre os futuros movimentos do Banco Central na taxa Selic, à medida que agentes financeiros projetam uma alta de juros na reunião da próxima semana.
O IBGE informou que o IPCA teve queda de 0,02% em agosto na base mensal, ligeiramente abaixo da expectativa de economistas consultados pela Reuters de alta de 0,01%. Em 12 meses, o índice desacelerou para um avanço de 4,24%, de 4,50% em julho.
O resultado, apesar de representar uma desaceleração em relação ao mês anterior, ainda mostrou uma inflação distante do centro da meta de 3% perseguida pelo BC, o que tem sido motivo de preocupação para os membros da autarquia.
Esse distanciamento, somado a dados fortes do PIB brasileiro para o segundo trimestre, tem gerado expectativa de alta na Selic, atualmente em 10,50% ao ano, já na próxima reunião do Copom, em 17 e 18 de setembro.
"Diante de uma atividade econômica mais forte do que esperado, de uma inflação que, apesar do dado benigno em agosto, deve terminar o ano próximo da banda superior da meta, de expectativas de inflação desancoradas e uma taxa de câmbio acima de 5,50 reais, o BC deverá iniciar um ciclo de ajuste gradual da taxa de juros na próxima reunião", disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Operadores colocam 98% de chance de o BC elevar os juros em 25 pontos-base na próxima semana, com mais altas nas reuniões seguintes.
O aumento projetado para a Selic, junto da perspectiva de cortes de juros nos EUA, é, em tese, positivo para o real, uma vez que a moeda brasileira se torna atrativa com um maior diferencial de juros entre as duas economias.