Dólar tem leve alta com posse de Trump e taxa de câmbio no Brasil em foco
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar tinha leve alta frente ao real nesta quinta-feira, em linha com os ganhos em mercados emergentes, à medida que os investidores continuam se posicionando para o início do governo de Donald Trump nos Estados Unidos e aproveitavam o patamar da moeda norte-americana no Brasil para realizar compras.
Às 11h40, o dólar à vista subia 0,22%, a 6,0382 reais na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,28%, a 6,050 reais na venda.
Após uma sessão de perdas amplas para a divisa dos EUA na véspera, que vieram na esteira de dados de inflação ao consumidor melhores na maior economia do mundo, os mercados voltavam a apostar no dólar diante da iminência do retorno de Trump à Casa Branca.
Ainda há uma série de incertezas sobre as políticas que o presidente eleito implementará, mas analistas têm frequentemente apontado que suas promessas de campanhas, que incluem tarifas de importação e cortes de impostos, são inflacionárias, o que favorece o dólar ao elevar as taxas de juros futuras do país.
"Com poucos pregões até a inauguração de Trump e com o tópico das tarifas mais quente do que nunca, parece difícil acreditar que o mercado buscará desfazer suas posições em dólares, e a moeda norte-americana deve continuar em alta até lá", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Nesse último ponto, o destaque do pregão será a audiência do indicado de Trump para o Departamento do Tesouro, Scott Bessent, no Senado, com os mercados globais em busca de sinais de como o presidente eleito implementará suas promessas de campanha.
Analistas têm apontado que Bessent, um veterano de Wall Street, buscará controlar os déficits dos EUA e utilizar as prometidas tarifas de importação como uma ferramenta de negociação com aliados e adversários.
Bessent prometeu na quarta-feira garantir que o dólar continue sendo a moeda de reserva global.
Na frente de dados dos EUA, o governo informou que o número de norte-americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego aumentou mais do que o esperado na semana passada, mas permaneceu em níveis compatíveis com um mercado de trabalho saudável.
Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego subiram em 14.000, para 217.000 em dado com ajuste sazonal, na semana encerrada em 11 de janeiro. Economistas consultados pela Reuters previam 210.000 pedidos para a última semana.
Em um relatório separado, números mostraram que as vendas no varejo dos EUA cresceram de forma sólida em dezembro, com alta de 0,4% no mês passado, após um ganho revisado para cima de 0,8% em novembro.
Os dados pareciam ter pouco efeito nas negociações deste pregão, com os investidores cada vez mais concentrados nas perspectivas para o governo Trump.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,25%, a 109,300.
Na cena doméstica, as sessões recentes têm sido marcadas por falta de notícias e poucos dados relevantes, o que tem feito os agentes financeiros se voltarem justamente para o exterior em busca de impulsos para as negociações.
Parte do mercado brasileiro aproveitava esta sessão, no entanto, para comprar dólares em meio aos patamares relativamente baixos da moeda em comparação com os últimos dias.
Na véspera, o dólar à vista fechou a 6,0251 reais -- a menor cotação de encerramento desde 12 de dezembro do ano passado --, enquanto nesta quinta a divisa dos EUA chegou a cair abaixo de 6,00 reais, um nível não visto no fechamento desde 11 de dezembro.
"Acho que vínhamos aqui em um movimento de devolução dessa alta aguda do dólar, que aos olhos de muitos parecia um 'overshooting '. Uma alta de 27% em 2024 não se justificava, apesar de todas as questões locais amplamente discutidas", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Na frente de dados, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), registrou avanço de 0,1% em novembro em relação ao mês anterior, em dado dessazonalizado. A leitura foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de estagnação no mês.
(Edição de Camila Moreira)