Dólar tomba 2,6% ante real após eleição de Lula com alívio sobre transição de poder
A moeda registrou a menor cotação para encerramento em dez dias; Ibovespa fecha em alta, Petrobras e BB despencam
O dólar caiu quase 2,6% nesta segunda-feira e registrou a menor cotação para encerramento em dez dias, com investidores reagindo positivamente à redução de temores sobre possível contestação do resultado das eleições presidenciais, depois que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), chefes de várias instituições brasileiras e líderes internacionais reconheceram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de domingo.
A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 2,59%, a 5,1652 reais na venda, maior depreciação percentual diária desde o último dia 3 (-4,03%) e cotação mais baixa para encerramento desde o dia 21 passado.
O tombo desta sessão fez o dólar aprofundar as perdas em outubro, mês marcado por aumento da volatilidade devido ao processo eleitoral, para 4,24% --maior queda mensal desde maio passado (-3,83%).
O dólar abriu em forte alta nesta segunda-feira, e chegou a saltar 2% nos primeiros negócios, a 5,4088 reais, mas foi perdendo força ao longo do dia em meio à percepção de relativa tranquilidade no cenário pós-eleitoral.
Investidores temiam que Bolsonaro desafiasse o resultado de domingo, já que vinha atacando há meses a credibilidade das urnas eletrônicas e do processo eleitoral como um todo, mas até agora o presidente não se pronunciou, enquanto vários de seus apoiadores reconheceram a legitimidade da vitória de Lula.
Bolsonaro (PL) fará um pronunciamento nesta segunda-feira à tarde, disse à Reuters o presidente em exercício do PP, deputado federal Cláudio Cajado (BA), em meio à expectativa de que o presidente possa reconhecer a derrota nas urnas.
Por trás da forte queda do dólar e da resiliência do Ibovespa, que fechou em alta de mais de 1% nesta sessão, alguns investidores também citaram a falta de surpresas em relação ao resultado eleitoral.
"Muita coisa já estava no preço", disse à Reuters Paulo Cunha, especialista em mercado financeiro e fundador da iHUB Investimentos. "Era auferida uma probabilidade maior de o Lula de fato levar essa eleição, desde a semana passada."
Alguns participantes do mercado disseram à Reuters que também colaborou para o enfraquecimento do dólar a percepção positiva de agentes internacionais sobre Lula, cuja agenda é vista como muito mais alinhada à governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) do que a de Bolsonaro.
"A gente sabe que nos últimos anos a questão ESG é algo que vem se tornado um tema super relevante, que tem influenciado a decisão de grandes investidores, então isso pode gerar no mercado uma expectativa de que esse fluxo vai vir" para o Brasil após a vitória de Lula, explicou Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.
Ele também citou preferência de agentes estrangeiros pelo histórico diplomático de Lula na comparação com o de Bolsonaro.
Passado o resultado das eleições presidenciais, com a confirmação de que não haverá grandes turbulências políticas, a indicação de Lula para a chefia de sua pasta econômica passa a ser uma das principais prioridades do mercado, principalmente em meio a temores persistentes sobre o futuro das regras fiscais do país.
"Eu acho que vai ser super importante o Lula dar algum direcionamento sobre qual vai ser a sua equipe ministerial, quem vai ser o ministro da Economia", disse Villegas. "Hoje o mercado precifica o fluxo que pode surgir, mas não vai adiantar nada (Lula) indicar algum nome que não agrade os investidores ou que possa, digamos, fazer com que o mercado relembre decisões erradas que foram tomadas" durante governos anteriores do PT, opinou o estrategista.
A Fitch Ratings disse nesta segunda-feira que a vitória de Lula provavelmente não resultará numa grande mudança na política macroeconômica do Brasil, mas avaliou que essa perspectiva depende de sinais mais claros sobre sua agenda fiscal.
Já a agência de classificação de risco Moody's avaliou que a eleição do petista por uma margem apertada no segundo turno afasta o risco de retirada dos esforços de consolidação fiscal por parte do próximo governo ou de reversão de reformas estruturais já aprovadas.
Ibovespa
O Ibovespa fechou no azul nesta segunda-feira, no primeiro pregão após Luiz Inácio Lula da Silva vencer a eleição à Presidência, diante da percepção de menor risco potencial de uma contestação do resultado, que ofuscou a forte queda de Petrobras e Banco do Brasil.
Investidores também deram o benefício da dúvida a Lula quanto à formação de seu ministério, em particular quem ocupará a pasta da Fazenda, bem como acerca de suas políticas econômicas, em particular a fiscal.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,28%, a 116.004,79 pontos, de acordo com dados preliminares, após sessão volátil, em que chegou a 112.113,34 pontos na mínima (-2,12%) e 116.763,47 pontos na máxima do dia (+1,94%). O volume financeiro somava 43,5 bilhões de reais.
Com tal resultado, o Ibovespa acumulou uma alta de 5,42% em outubro, mês marcado por forte volatilidade por causa do processo eleitoral, além de expectativas relacionadas aos movimentos do banco central norte-americano para a taxa de juros dos Estados Unidos.
(Edição de Isabel Versiani)