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Dólar ultrapassa R$ 5,65 em novo dia de desconforto com fiscal e críticas de Lula

Este é o maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando encerrou em R$ 5,67

1 jul 2024 - 17h15
(atualizado às 18h02)
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Às 16h, dólar à vista subia 0,76%, a R$ 5,6306
Às 16h, dólar à vista subia 0,76%, a R$ 5,6306
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão

O dólar à vista ultrapassou a barreira dos R$ 5,65 nesta segunda-feira, 1º, e encerrou a sessão no maior valor em dois anos e meio, com profissionais do mercado citando novamente o desconforto com a política fiscal do governo Lula como principal motivo para a demanda pela moeda norte-americana, em um dia marcado ainda pelo avanço da divisa dos EUA no exterior.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,65 na venda, em alta de 1,13%. Este é o maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando encerrou em R$ 5,67. Em 2024, a divisa acumula elevação de 16,53%.

Às 17h25, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,02%, a R$ 5,66 na venda.

O dólar oscilou em leve baixa no início da sessão, com investidores aproveitando os avanços mais recentes para realizar lucros. Às 10h31, a divisa à vista marcou a cotação mínima de R$ 5,56 (-0,43%).

Mas a queda do dólar durou apenas até o início da tarde no Brasil. Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que fatores como o risco fiscal, a desancoragem das expectativas de inflação e o desconforto com declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuaram pesando no câmbio.

Pela manhã, o relatório Focus mostrou que a projeção mediana do mercado para a inflação em 2024 passou de 3,98% para 4,00% e em 2025 de 3,85% para 3,87%. Em ambos os casos as expectativas estão se distanciando do centro da meta de 3% para a inflação. A projeção de inflação para 2026 subiu pela nona semana consecutiva.

Além disso, as projeções do Focus mostraram que o país seguirá com déficit primário pelo menos até 2027, já após o atual governo Lula. Já a projeção para o câmbio no fim de 2024 subiu de R$ 5,15 para R$ 5,20 -- um valor que, segundo operadores, é improvável no curto prazo.

Também pela manhã, em entrevista à rádio Princesa, de Feira de Santana, Lula voltou a criticar o atual nível dos juros e o Banco Central. O presidente descartou mais uma vez a possibilidade de ajustes fiscais relacionados ao salário mínimo.

"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do (ex-presidente Jair) Bolsonaro, não é correto isso", afirmou Lula. "Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue... ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou Lula, novamente criticando o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Assim como em sessões da semana passada, os ataques de Lula a Campos Neto e ao BC foram mal-recebidos por agentes do mercado.

Neste cenário, o dólar à vista acelerou os ganhos ante o real, enquanto as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) tiveram um novo dia de altas firmes.

"Houve certa reação (de baixa do dólar) mais cedo, mas nada muito expressivo", pontuou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado. "Nada mudou. O Brasil segue com dificuldades, com o desafio fiscal interno, e o presidente Lula falou hoje de novo sobre o Banco Central. Não tem como o dólar cair muito, ou (como) os juros (cederem)", acrescentou.

Durante a tarde, em live sobre os 30 anos do Plano Real, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, reafirmou o compromisso do Comitê de Política Monetária (Copom) com a meta de inflação, mas alertou para o custo de uma política fiscal expansionista.

Para ele, de forma retrospectiva, a perna do tripé macroeconômico brasileiro -- baseado em câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal -- "que mais fraquejou" nos últimos anos foi a relativa ao fiscal.

"Se a política fiscal está sempre expansionista, coloca muita pressão nas outras duas pernas do tripé macroeconômico, o que pode levar a desvalorizações (do real) ou coloca muita pressão na política monetária, os juros têm que fazer o trabalho. E aí a desinflação fica muito custosa", disse.

Na reta final dos negócios, a disparada de ordens de stop (parada de perdas) ampliou o movimento, com o dólar à vista atingindo a máxima de R$ 5,65 (+1,21%) às 16h55. O avanço do dólar ante boa parte das demais divisas no exterior, em um dia de alta firme dos rendimentos dos Treasuries, também contribuía para o avanço das cotações no Brasil.

Às 17h23, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,08%, a 105,800.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de setembro.

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