Dólar vai a R$ 5,80 com tensão política, mas fecha a R$ 5,76
Queda de ministros do governo Bolsonaro e risco de descontrole fiscal geraram apreensão no mercado financeiro
Após uma manhã tensa, que abriu caminho para que o dólar galgasse a R$ 5,8067, a divisa norte-americana amenizou o ímpeto frente ao real e chegou até a mínima de R$ 5,7381. De acordo com profissionais da área de câmbio, os riscos de pedaladas fiscais aliados às mostras de desorganização do governo, com o desembarque de ministros a quadros técnicos, dão um tom negativo para a moeda local.
Houve ainda influência vinda do exterior, com os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano mais longos novamente em alta, o que contribuiu para que moedas de países emergentes desvalorizassem.
O dólar à vista fechou em alta de 0,44%, a R$ 5,7663.
Na manhã desta segunda-feira, a velocidade com a qual o real se desvalorizou frente à moeda norte-americana foi notória de problemas vistos no final de semana, que envolveu o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e congressistas, em especial a senadora Kátia Abreu.
"Tanto que, depois de oficializada a saída de Araújo, houve um desmonte de posições, levando o dólar a uma queda adicional junto com o retorno do DXY naquele momento. Agora o mercado espera quem vai entrar no lugar. Mas a saída foi positiva", disse Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos.
Após o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pedir demissão, o governo teve mais uma baixa nesta segunda-feira. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e SilvaUQE, comunicou por meio de nota oficial divulgada pela assessoria estar deixando a pasta. No momento, o dólar que já estava arrefecido, oscilando em torno de R$ 5,74, acelerou para a marca dos R$ 5,77.
Para Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, a saída de Azevedo, pode ter se dado em um movimento para acomodar pedidos do chamado Centrão e é mais um fator que mostra a desorganização do governo. "O governo mostra que não está coeso", disse.
Sobre o rebote do dólar, que persiste alto, sobre a inflação, Giuberti ressalta que o movimento coloca em dúvida a necessidade de o Banco Central apertar mais forte a política monetária já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "Está com cara de que o dólar vai ficar alto mesmo. Será que o BC vai ter de elevar em um ponto porcentual a Selic? O Roberto Campos Neto presidente do BC disse que subiria 0,75 a não ser que houvesse algo mais extraordinário e o dólar nesse nível pode ser isso."