Economia do Brasil cresce 0,2% no 2º tri, mas greve e incertezas eleitorais pesam
A economia do Brasil cresceu lentamente no segundo trimestre deste ano com a greve dos caminhoneiros pesando sobre a indústria e os investimentos, mas ainda assim acelerou sobre os três meses anteriores, destacando a instabilidade da atividade em meio às incertezas às vésperas da eleição presidencial de outubro.
No período entre abril e junho, o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrou crescimento de 0,2 por cento sobre os três meses anteriores, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse foi o ritmo mais forte desde o terceiro trimestre de 2017 (0,6 por cento) e também mostrou aceleração em relação ao primeiro trimestre. Mas isso porque o IBGE revisou para baixo o dado do início do ano, a uma expansão de 0,1 por cento entre janeiro e março depois de divulgar anteriormente taxa de 0,4 por cento.
"Não dá para falar em aceleração do PIB, mas sim numa estabilidade do PIB nos últimos 3 trimestres", afirmou a economista do IBGE Rebeca Palis.
Na comparação com o segundo trimestre de 2017, a expansão foi de 1,0 por cento, resultado mais baixo nessa base de comparação em um ano.
As expectativas em pesquisa da Reuters com analistas eram de avanço de 0,1 por cento do PIB no segundo trimestre sobre o período anterior e de 1,1 por cento na comparação com um ano antes.
A atividade de serviços foi o destaque no segundo trimestre, com elevação de 0,3 por cento sobre os três meses anteriores, Na outra ponta, a indústria registrou contração de 0,6 por cento, num período abalado pela greve dos caminhoneiros no final de maio. A agropecuária, por sua vez, mostrou estagnação.
"Os serviços são a atividade mais importante do PIB, e isso puxou para cima. Por outro lado, a indústria de transformação foi afetada pela greve de caminhoneiros. Os serviços mais que compensaram a queda da indústria, mas o comércio foi afetado pela greve também", explicou Rebeca.
INVESTIMENTO
O destaque negativo ficou para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, que despencou 1,8 por cento no período. Com isso, interrompeu série de quatro trimestres seguidos de alta mesmo tendo os juros em mínima histórica como pano de fundo, levantando um sinal de alerta.
"Toda a incerteza política, eleitoral e econômica faz com que o investimento fique parado", explicou a economista do IBGE Claudia Dionísio.
Já o consumo das famílias avançou 0,1 por cento entre abril e junho, enquanto o consumo do governo subiu 0,5 por cento sobre o primeiro trimestre.
A greve dos caminhoneiros prejudicou diretamente a atividade e abalou a confiança de empresariado e consumidores após as manifestações no final de maio fecharem estradas e prejudicarem o abastecimento de combustíveis, alimentos e outros insumos.
As manifestações foram um golpe para a recuperação econômica, que ainda luta para engrenar um ritmo sustentado em um ambiente de desemprego elevado e confiança abalada que contêm o consumo.
A situação se agrava ainda mais agora com as incertezas relacionadas à eleição, que tendem a diminuir as perspectivas de planejamento ou investimento por parte das empresas.
"O resultado...consolida a visão de que a recuperação foi perdendo força ao longo de 2018. À medida que o aperto das condições financeiras começou a afetar o terceiro trimestre, que existe uma condição externa mais desafiadora e há no mercado doméstico toda uma incerteza quanto ao avanço das reformas, isso afeta o câmbio, o preço dos ativos em bolsa e a curva de juros, com reflexo no crescimento da economia", afirmou o economista do Itaú Artur Passos.
O resultado do PIB corrobora a série de revisões que vêm sendo promovidas nas projeções de crescimento para 2018, inclusive dentro do governo. A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto a especialistas mostra expectativa de crescimento de 1,47 por cento, quando antes dos protestos esse número era de 2,5 por cento.