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Ele trabalhou em circo e agora viaja a América do Sul com aposentadoria 'caprichada'

Adolfo Fröhlich, 72, já percorreu 24 mil km; ele diz que "caprichou" na contribuição para ter um pouco de conforto depois de aposentado

5 mai 2024 - 09h10
(atualizado às 13h28)
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Adolfo Fröhlich, 72 anos, e seu Fiat 147
Adolfo Fröhlich, 72 anos, e seu Fiat 147
Foto: Reprodução/Instagram/@147pelaamericadosul / Estadão

No mundo do trabalho, é importante planejar não só a carreira, mas também o que vem depois: a aposentadoria. Após décadas de trabalho, o curitibano Adolfo Fröhlich, 72, decidiu usar o dinheiro da aposentadoria viajando sozinho pelo exterior, num Fiat 147. Ele tem feito mochilões pela América do Sul, totalizando 24 mil km percorridos até agora.

Fröhlich trabalhou em circo, foi padeiro, bancário, vendedor de pneus e, por fim, teve uma banca de revistas e conveniências.

"Eu trabalhava de domingo a domingo", diz. Há oito anos, está aposentado. "Queria viver bem depois de velho, então escolhi caprichar no INSS. Dentro da minha aposentadoria, tenho meu conforto", explica ele, que afirma não ter nenhuma outra fonte de renda.

Ele documenta as viagens na conta @147naamericadosul, no Instagram. Confira abaixo sua história.

Viajou 24 mil km sozinho a bordo do seu Fiat 147

Com a companhia exclusiva do seu pequeno Fiat 147, do ano de 1980, o ex-comerciante curitibano Alberto Fröhlich, 72, viajou sozinho por países como Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Paraguai e Uruguai, além do Brasil. O princípio da sua jornada nesse estilo de vida, no entanto, foi conturbado.

"Foi uma trapalhada sem tamanho", brinca Fröhlich, que tem três filhos e três netos. Em dezembro de 2017, um dos filhos, casado com uma peruana, o chamou para passar o Natal em Lima, no Peru. Com a nora, resolveram ir de carro. No caminho, se desentenderam devido às dificuldades relacionadas a burocracias e às condições do Fiat 147 e desistiram de seguir a viagem daquela maneira.

"Tivemos que resolver os nossos documentos para atravessar a fronteira para o Paraguai e ficou tarde, não ia dar tempo de chegar no Natal. Além disso, o carro é antigo, fraco. Para subir rampas, por exemplo, alguém tinha que descer no carro com as bagagens", explica o curitibano.

Com isso, ele foi deixado sozinho em Foz do Iguaçu. "Quando eles saíram do carro e viraram a esquina, comecei a chorar", relata. A sua tristeza foi notada por uma pessoa da cidade, que lhe ofereceu abrigo para passar a noite. Na manhã seguinte, acordou determinado a seguir viagem, mesmo sem companhia.

O primeiro destino foi o Paraguai, onde ele aproveitou para comprar várias "bugigangas". Apenas com a ajuda de um mapa da América do Sul, continuou até a Argentina. "Comecei a gostar do negócio e fui indo", conta. Depois, ele seguiu para o Chile, onde teve o celular furtado.

Encantado com os destinos, nem a perda do aparelho o desanimou. Ele recebeu a recomendação de que fosse até a Bolívia comprar um novo aparelho, pois sairia mais em conta. Acatou a orientação e resolveu percorrer as seis horas de viagem até o país. Com o celular comprado, ele retornou para a Argentina e seguiu para o Peru.

No Peru, Fröhlich temeu encontrar com o filho e a nora, pois não havia mais falado com eles. Então retornou para o Chile. Entre uma cidade e outra, foi acolhido por policiais em um batalhão, encontrou companhia para acompanhá-lo em parte do caminho e parou em postos de gasolina para encher galões de combustível.

Antigo e sem muita potência, o Fiat 147 permaneceu como seu fiel escudeiro durante o mochilão, mas tornou alguns momentos mais desafiadores. "Parei para fazer fotografias no deserto chileno e, quando voltei, o carro não ligava. Depois de um tempo, consegui fazer funcionar e fui embora. Mas o carro começou a fazer um barulho estranho e notei que tinha estourado o pneu em uma pedra", relata.

Na ocasião, ele encontrou uma loja nas proximidades de onde estava e comprou um novo pneu. Ao procurar um mecânico para consertar o carro, soube que havia um histórico de roubo de peças no local, então seguiu para o Uruguai, onde finalmente ajeitou o veículo.

O destino final, 45 dias depois do dia em que deixou sua casa com a família, foi o Brasil, quando voltou sozinho para Curitiba em fevereiro de 2018.

No trajeto, ele fez amizade com muitas pessoas que, sabendo da sua história, ofereciam alimentação e estadia. Mas, na maioria das vezes, ele dormia à noite dentro do carro estacionado, com os bancos reclinados, e, quando necessário, pagava para tomar banho em campings.

"Se considerarmos que, em média, uma hospedagem simples pode custar R$ 150, com este valor dá para colocar cerca de 30 litros de combustível. Desta forma, posso rodar no mínimo 450 km e, assim, conhecer mais lugares e pessoas", expõe.

No total, Fröhlich gastou R$ 9 mil, sendo R$ 5 mil de combustível e o resto referente à alimentação, às taxas cobradas pelos campings para usar o banheiro e às "bugigangas" que comprou no caminho.

Adolfo Fröhlich, 72 anos
Adolfo Fröhlich, 72 anos
Foto: Reprodução/Instagram/@147pelaamericadosul / Estadão

No fim de 2022, fez um novo mochilão pela América do Sul, desta vez percorrendo 9 mil quilômetros. Ele foi para a Argentina, Chile e Peru. No segundo destino, um casal de moto o reconheceu e o convidou para ir até o Atacama, para onde foi dirigindo acompanhado de 39 motocicletas.

"Eles ficaram preocupados comigo porque eu estava sozinho, em um carro velho", diz. "Aceitei ir junto com eles, mas avisei logo que não fico em hotel, nem como em restaurante", destaca.

Alguns dias depois, o curitibano chegou ao Peru no momento em que o então presidente da República Pedro Castillo foi deposto e preso, em dezembro de 2022, após uma tentativa frustrada de autogolpe de Estado. "Tive que sair de lá correndo", revela.

Alberto Fröhlich é casado há 48 anos com a curitibana Célia Cristina, 67. "Ela não vai [nas viagens], acha muita loucura. Eu acho que ela está perdendo uma grande oportunidade", diz. No momento, ele está na sua casa em Curitiba, fazendo pequenas viagens curtas no estado e em Santa Catarina. Ele tem o desejo de retornar aos Andes, possivelmente após o inverno.

"É uma coisa impressionante. Nada acontecia na minha vida e, em tão pouco tempo, vivi tantas coisas interessantes…", reflete. Boa parte da sua viagem está documentada em fotos publicadas no Instagram. Os registros da primeira viagem, no entanto, foram publicadas três meses depois do fim, entre abril e maio.

"Eu perdi algumas fotos quando me furtaram, mas tudo bem. E eu nem sabia como publicá-las, então eu demorei. Para mim, é um prazer saber que outras pessoas têm vontade de fazer o que eu faço e que elas podem se encorajar comigo a se aventurar, não tinha noção disso", diz.

Fröhlich diz que faz exames médicos com frequência, e que está "tudo em ordem". "Talvez esse modo de vida me proporcione essa saúde", considera. Hoje, ele afirma que teria orgulho de "assinar o nome na tela que pintou com a sua vida".

"Quando você nasce, ganha uma tela, aquarela e pincel, e vai pintando. Quando chegar o momento derradeiro, vai querer assinar o seu nome na tela?", questiona.

Estadão
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