Em São Paulo (SP), sex shops sobrevivem ao e-commerce com atendimento personalizado ao cliente
Mudança de público e atacarejo impulsionam o mercado de bem-estar sexual nas ruas paulistanas
Na 25 de Março, o maior setor varejista de São Paulo (SP), um mercado paralelo chama atenção dos olhares mais atentos: dentro dos comércios de moda íntima, normalmente subindo as escadas, estão localizados os sex shops. Frente a ameaça do e-commerce, que oferece os mesmos produtos por um custo mais baixo, as lojas de produtos de bem-estar sexual na cidade sobrevivem graças a um atendimento personalizado ao cliente.
Para Graciela Cerqueira, gerente da sessão no Universo das Calcinhas, loja aberta há 15 anos, é esse o diferencial que mantém o negócio de pé em pleno 2024 e com um faturamento que cumpre a meta do ano. "Nós temos algumas propostas de atendimento de poder tocar, ver o produto. Eles vêm aqui, conseguem ver a vibração, a sucção. Quando se trata de internet, você compra uma foto, não sabe realmente o que o produto faz".
Desde a pandemia da Covid-19, o mercado mundial está em alta e com uma previsão de faturamento de US$ 108 bilhões (R$ 614,5) até 2027, de acordo com dados da Allied Market Research. O sucesso do negócio, impulsionado pelas vendas online, poderia significar ao menos uma queda nas vendas presenciais, mas não foi isso que aconteceu, de acordo com Alexandre Giraldi, consultor de negócios do Sebrae.
"As lojas físicas de bem-estar sexual são praticamente impossíveis de desaparecer no cenário e têm uma grande participação no processo de venda. Isso porque a maior parte dos usuários não fazem ideia de quais são os itens que podem lhes satisfazer, eles precisam de uma curadoria e de uma orientação. Se não existir esse atendimento individualizado, pode acontecer muitos erros no processo de compra", explica o especialista.
Em março de 2020, mês que marcou o início do lockdown, o Universo das Calcinhas faturou R$ 20 mil só em brinquedos sexuais. "É um atendimento bem acolhedor e personalizado. Nós não estamos aqui para julgar fetiches, gênero, orientação sexual ou idade, e sim para explicar e atender a demanda de cada cliente", relata a gerente.
Quem frequenta os sex shops?
O público do sex shop também mudou. Se alguns anos atrás, jovens e LGBTQIAP+ eram os principais consumidores, hoje, mulheres idosas estão entre as frequentadoras mais assíduas no Musa Lingerie, na 25 de Março. "A nossa clientela é 80% feminina, temos desde o casal que quer fazer algo diferente, até mulheres divorciadas e a terceira idade, porque as pessoas estão entendendo que sexo é saúde", explica Julia Farias, gerente de compras.
A pandemia pode ter sido um ponto de virada no público interessado por esses produtos, segundo a psicóloga Michelle Sampaio, especialista em sexualidade humana pela FMUSP. "A busca pelos brinquedos eróticos aumentou bastante nesse período. Antes se pensava que só o público mais novo consumia produtos sexuais, mas na pandemia, diversas pessoas buscavam diferenciar, incrementar a vida sexual. Comecei a notar pessoas mais velhas, acima de 50, 60 anos, entendendo que podem vivenciar isso. Fernanda Lima tá com um podcast agora falando sobre sexo, atrizes comentando nas redes sociais, isso traz um encorajamento."
Atacarejo é aposta certeira
Tanto na Musa Lingerie, quanto na Passion Moda Íntima, as compras por atacado foram dando espaço ao varejo. "Antigamente, o público que visitava aqui era mais voltado para a revenda. Hoje, a gente ainda tem esse cliente, porém o fluxo da compra para uso próprio aumentou e muito", complementa a gerente de compras do Musa Lingerie.
Para Alexandre, do Sebrae, a melhor saída para as lojas físicas é apostar no atacarejo, modalidade de vendas que mistura o atacado e o varejo. "O mercado de brinquedos eróticos faturou em 2022 algo na casa dos U$ 2 bi (cerca de R$ 11,38 bi). Aqui no Brasil, temos um potencial de crescimento bem grande. Hoje, você pode comprar um vibrador, que é um produto durável, por R$ 1.500, um produto que foi adquirido pelo lojista por R$ 250. O volume de vendas pode até ser mais baixo, mas acaba que a margem de lucro é mais alta."
Antônia, 25, que pediu para não ter o sobrenome identificado, é advogada e frequentadora de alguns sex shops da cidade. A jovem contou que prefere a experiência presencial quando vai buscar algo novo. "Gosto de poder sentir, tocar, cheirar os produtos e poder conversar com a vendedora de uma forma mais próxima. Por ida na loja física, gasto em média R$ 150 a 170 em lubrificantes que proporcionam sensações diferentes."
Na rua Augusta, o Sex Shop do Thiago Los Neves já tem uma pegada mais underground. Na vitrine, as fantasias eróticas param os mais curiosos. "Aqui é um espaço sem julgamentos, o que é uma vantagem competitiva. Tem muitos submissos que vêm aqui com as donas, saem da loja na coleira, não estamos aqui para julgar, só para acolher", afirma o vendedor Neto Martins, amigo de Thiago.
A dica para não perder esse atendimento personalizado é cuidar com a linguagem técnica, de acordo com o consultor do Sebrae. "Boa parte das pessoas que nos atendem acabam utilizando a linguagem que o fabricante repassa para o lojista. Porém, a troca precisa ser simplificada para que você consiga dar uma orientação melhor para esse consumidor final", explica Alexandre.
As quatro lojas apontaram o Dia dos Namorados como a época do ano com maior fluxo de vendas. Mas o Natal segue como um segmento importante, principalmente na hora de presentear. "Vamos tentando acompanhar as coisas novas que chegam. Aí tem aqueles clientes que vêm pela internet, falam e nós corremos atrás para não perder venda", afirma a gerente de atendimento da Passion, Suelen Brito.