Embraer terá desafios em 2023 para ampliar produção em meio à crise de suprimentos
Companhia anunciou hoje que registrou prejuízo líquido de R$ 93,8 milhões no terceiro trimestre
Mesmo com ambições de ampliar as vendas em todos os segmentos que atua, a Embraer terá desafios para entregar o volume de aeronaves previsto em 2023 e assim abrir espaço para obter novas encomendas. Segundo executivos da empresa, a crise na cadeia de suprimentos deve persistir no ano que vem, com restabelecimento integral dos fornecimentos somente a partir de 2024.
A fabricante brasileira reportou prejuízo líquido ajustado de R$ 93,8 milhões no terceiro trimestre deste ano, reduzindo perdas de R$ 179,7 milhões no mesmo período do ano passado. O resultado veio acompanhado de uma queda de 3% na receita líquida total, para R$ 4,8 bilhões, devido principalmente à retração no desempenho da defesa. As ações da Embraer abriram o pregão de hoje com ligeira alta, em resposta positiva ao resultado do trimestre, mas recuavam 3,95% por volta das 12h50, acompanhando o movimento de correção no mercado após um mês de forte elevação dos papéis.
Nesta segunda-feira, 14, por diversas vezes executivos da fabricante brasileira reforçaram durante teleconferência com investidores as previsões para 2022. "Notamos uma preocupação do mercado em relação às entregas do ano inteiro, mas nós reafirmamos nosso 'guidance' (projeção) de receita e entregas para 2022?, disse o CFO, Antonio Garcia, a investidores.
O guidance da companhia prevê entregas entre 60 e 70 aeronaves no segmento comercial e 100 a 110 unidades na executiva em 2022. No acumulado até setembro, a companhia entregou 27 jatos comerciais e 52 executivos. Garcia estimou que a Embraer deve atingir a parte inferior da projeção de entregas diante dos problemas na cadeia de fornecimento.
"Devido aos atrasos da cadeia, houve uma grande concentração de entregas no quarto trimestre, não vemos isso se solucionar no curto prazo. A cadeia está muito estressada. Em média, temos de 40 a 50 dias de atraso (nos fornecedores), vai ser uma luta até o último dia do ano", reconheceu.
De acordo com CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, a situação mais crítica ocorre na área de motores e interiores de aeronaves. "Temos várias pessoas dentro dos fornecedores e subfornecedores trabalhando para minimizar os impactos desse problema neste e no próximo ano. Essa situação deve se arrastar em 2023, mas estamos esperando menos atrasos ao longo do ano que vem", disse o executivo.
Os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen apontaram em relatório do Citi que, embora seja possível o aumento das entregas em 2023, não está claro se a Embraer voltará aos "dias de glória" de sua produção de aeronaves comerciais do pré-pandemia, que já chegou a ultrapassar 120 jatos anuais.
Paralelamente, o Citi acredita que é factível a projeção da Embraer de fluxo de caixa livre para 2022 de US$ 150 milhões ou mais. Os analistas Lucas Barbosa e Lucas Esteves escreveram em relatório do Santander que a revisão para cima da projeção de fluxo de caixa livre é positiva, diante dos avanços de eficiência operacional da Embraer. Para eles, a confirmação das projeções de entregas e receita também é um ponto positivo, em meio a dúvidas do mercado sobre o atingimento das metas.
No terceiro trimestre, a Embraer contabilizou uma redução de pedido firme da Republic Airways de 31 aeronaves. Inicialmente, o pedido era de 106 unidades. "A encomenda da Republic era de 2018 e os termos já não eram adequados nem para nós nem para eles. Foi positivo pelo aspecto financeiro e foi bom para liberar slots de produção para 2023 e 2024?, disse o CEO da Embraer.
Gomes Neto salientou que o segmento comercial vive um bom momento. "Principalmente no E2 (nova geração da família de jatos), são centenas de aeronaves em campanha (de vendas), algumas até com resultado no médio prazo, para meados do ano que vem", disse o executivo. "2023 deve ser o ano com maior número de entregas do E2 desde o lançamento do programa."
O jato E190-E2 acaba de receber certificação da autoridade de aviação civil da China, e a Embraer espera que a certificação do jato E195-E2, maior aeronave comercial da brasileira, ocorra em breve. "Já temos conversas adiantadas com aéreas na China, não posso abrir números ainda, mas estamos muito otimistas", disse Gomes. Questionado se a Embraer poderia voltar a produzir aviões na China, o executivo não descartou a possibilidade. "Estamos abertos a alguma cooperação local para novos negócios", afirmou.
Ainda nesta segunda-feira, o BNDES anunciou a aprovação de um financiamento de R$ 2,2 bilhões à Embraer para a produção e exportação de aeronaves comerciais. A linha deve auxiliar a fabricante a atravessar um longo período de desafios à frente. "A Embraer tem uma situação confortável nos próximos três anos para suportar qualquer volatilidade de mercado ou fato desconhecido na cadeia de fornecedores", disse Garcia.
Defesa
O CEO da Embraer observou que a companhia tem boas campanhas de vendas no segmento de defesa em andamento. Neste ano, a fabricante anunciou acordo definitivo com a Força Aérea Brasileira (FAB) para redução do contrato do KC-390 de 28 para 21 unidades. Na última sexta-feira, a companhia anunciou que o presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança, Jackson Schneider, decidiu deixar a fabricante em abril do próximo ano, quando se encerra o seu mandato. Para a posição, foi nomeado Bosco da Costa Junior, atual vice-presidente global de Vendas da Defesa.
"Temos uma licitação na Coreia que estamos participando, além de várias outras que não posso abrir ainda. As campanhas estão em estado avançado tanto no C390 quanto no Super Tucano. Esperamos ter notícias sobre isso no ano que vem", disse Gomes Neto.