Empresas que insistem no 100% presencial enfrentam desafios para reter talentos
27% dos trabalhadores estão em busca de novas oportunidades, muitas vezes motivado pela insatisfação com o retorno ao presencial
A pandemia da Covid-19 trouxe mudanças significativas para o trabalho, levando muitas empresas a adotar modelos híbridos ou remotos. Profissionais buscam mais flexibilidade e benefícios para se manter engajados e produtivos.
No início de 2020, quando a Covid-19 chegou ao Brasil, ninguém tinha ideia do impacto que a pandemia traria para todos. As mudanças de comportamento e estilo de vida aconteceram em todos os setores da sociedade. Agora, quase cinco anos depois, algumas mudanças parecem naturais, melhores e difíceis de voltar atrás. Um exemplo, e que impacta diretamente na vida de milhões de pessoas diariamente, é o trabalho presencial, que para muitos já não faz mais sentido.
Dados do 8º relatório anual “State of Hybrid Work”, da Owl Labs, mostram que 27% dos trabalhadores nos Estados Unidos estão em regime híbrido e 11% atuam remotamente. Mais da metade, 50%, acreditam que seus empregadores exigem presença física apenas para “ocupar” o imóvel vazio da empresa.
Além disso, o relatório revela um dado crucial: mais de 1 em cada 4 profissionais (27%) está em busca de novas oportunidades, muitas vezes motivado pela insatisfação com políticas de retorno ao presencial, já que 25% dos trabalhadores revelaram que a empresa em que trabalham mudou a política de trabalho remoto ou híbrido no ano passado.
Para a fundadora da QUARE e especialista em desenvolvimento de pessoas, Carolina Valle Schrubbe, a resistência ao modelo 100% presencial é um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas. “Durante a pandemia, experimentamos o trabalho remoto. Enquanto alguns não se adaptaram, muitos identificaram benefícios significativos nesse modelo”, destaca.
Ela ressalta que as organizações que exigem retorno total ao escritório precisam avaliar se a presença física é realmente indispensável para sua produtividade. Caso seja, um dos caminhos para não perder talentos é oferecer benefícios relevantes, como compensações financeiras, boas condições de trabalho e oportunidades de desenvolvimento.
Cultura empresarial e novos desejos dos trabalhadores
O estresse no ambiente corporativo também é um tema crescente. De acordo com o relatório, os gerentes enfrentam uma carga emocional 55% maior que a de outros colaboradores. Ao mesmo tempo, a percepção sobre produtividade mudou: 62% dos gerentes avaliam que suas equipes são mais produtivas em modelos híbridos ou remotos. No relatório de 2023, esse número era um pouco maior, 79%.
Convencer os profissionais a voltarem ao escritório exige mais do que benefícios superficiais. Em 2024, 91% dos trabalhadores afirmaram que podem ser atraídos para o modelo presencial, desde que as condições sejam atrativas. Entre as principais demandas estão aumento salarial (41%), trajetos mais curtos (28%) e ambientes mais privativos.
Resistir à cultura da dedicação integral é outra atitude em mudança. Segundo o relatório, 1 em cada 5 trabalhadores (22%) está estabelecendo limites mais claros, evitando assumir tarefas fora de suas funções. Além disso, cerca de 20% não respondem às comunicações corporativas fora do horário de trabalho.
Para Carolina, atender a essas expectativas exige uma abordagem estratégica. “A flexibilidade deixou de ser um diferencial e se tornou uma necessidade. Ignorar essa realidade pode aumentar a rotatividade e reduzir o engajamento das equipes”, alerta.
O impacto financeiro para trabalhadores e empresas
O custo do profissional para trabalhar no escritório também é uma preocupação crescente dos colaboradores. O estudo revelou que profissionais híbridos gastam, em média, US$61 por dia no trabalho presencial — um aumento de 20% em relação a 2023. Já o custo diário do home office subiu de US$15 para US$19 no mesmo período.
Essa disparidade faz com que muitos trabalhadores esperem aumentos salariais para compensar os gastos adicionais ou, em alguns casos, estejam dispostos a abrir mão de parte de sua remuneração em troca de maior flexibilidade.
A diretora da QUARE enfatiza que, além do impacto financeiro, é fundamental avaliar o custo do turnover. “A saída de um colaborador não engajado gera gastos com recrutamento, treinamento e integração, além de comprometer a produtividade durante o período de adaptação”, explica.
Futuro do trabalho: flexibilidade como palavra-chave
Com os avanços tecnológicos e mudanças culturais, o escritório tradicional já não é mais uma solução única. A adoção de modelos flexíveis tem se mostrado essencial para manter a satisfação e a produtividade.
“A flexibilidade permite que os funcionários adaptem seu trabalho ao seu estilo de vida, o que pode aumentar a satisfação, a retenção e a produtividade. Afinal de contas, o que promoveria um maior impacto positivo para empresa? Ter a presença física do colaborador ou tê-lo dedicado e engajado em fazer o que tem que ser feito, seja onde estiver. Ser feliz trabalhando! Uma frase que há pouco tempo era privilégio de poucos, hoje é o elixir da alta performance”, conclui.
Para empresas que desejam prosperar na nova realidade, a lição é clara: adaptar-se às demandas dos profissionais é o caminho para construir um ambiente de trabalho produtivo e sustentável.
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.