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Coronavírus

'Entusiasmo do estrangeiro com o Brasil tem diminuído bastante', diz estrategista do JP Morgan Asset

Para Gabriela Santos, queda no otimismo se relaciona com as questões domésticas do País, como o compromisso com as âncoras fiscais, o andamento das reformas econômicas e o controle da pandemia

1 abr 2021 - 18h01
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O interesse de investidores estrangeiros com o Brasil baixou muito desde o início do ano, devido à lenta vacinação no País, o quadro fiscal e a tensão política, comentou em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast Gabriela Santos, estrategista global para mercados do JP Morgan Asset Management. "Infelizmente, nos últimos 3 meses este entusiasmo tem diminuído bastante e isto está relacionado ás tendências idiossincráticas e domésticas do Brasil. A questão sanitária é o ponto chave", destacou.

Gabriela Santos ressalta que com a alta dos juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os investidores estrangeiros ficaram mais seletivos a ativos de mercados emergentes. Para ela, a volta destes investidores só ocorrerá quando observarem "um compromisso com as âncoras fiscais no Brasil", com reformas econômicas. Também seria muito importante uma melhora da vacinação.

A executiva do JP Morgan Asset Management destaca que "a volatilidade no câmbio pode continuar se não tivermos uma mudança nas situações fiscal, política e na questão sanitária", o que não está no seu cenário-base para ser alterado neste ano. "O Brasil está ficando para trás nas alocações táticas e estruturais de estrangeiros". Leia os principais trechos da entrevista.

As agências de rating Moody's e S&P Global Ratings manifestaram ao Estadão/Broadcast na semana passada preocupação com pressões sobre a nota soberana do Brasil, sobretudo devido à lenta vacinação e perspectiva de alta de gastos públicos, além de tensões políticas. Como investidores estrangeiros estão avaliando o Brasil atualmente?

Devemos lembrar que para o investidor estrangeiro o Brasil não é mais uma alocação estrutural em suas carteiras, após uma década de crescimento extremamente baixo no País. Uma alocação no Brasil é uma decisão muito mais tática, mais relacionada com o que está ocorrendo com o ciclo econômico nacional e global. O que vimos no início de novembro, logo depois dos anúncios de descobertas de vacinas contra a covid-19, foi uma rotação nas carteiras dos investidores globais para mercados muito mais guinados à recuperação da pandemia e o Brasil se encaixava de uma maneira positiva. Começamos a ver uma volta de fluxos de capitais aos mercados do País em novembro e dezembro. Mas, infelizmente, nos últimos 3 meses este entusiasmo tem diminuído bastante e isto está relacionado às tendências idiossincráticas e domésticas do Brasil. A questão sanitária é o ponto chave. O Brasil está piorando muito nesta área, enquanto vem melhorando muito na Ásia, EUA e com uma perspectiva de melhora na Europa nos próximos meses. É uma questão triste, trágica, mas para a ótica do investidor é também muito importante, pois está impactando a perspectiva econômica, fiscal e política do País. Temos visto uma desaceleração do apetite do investidor estrangeiro e até uma realocação tática em relação ao Brasil ao longo dos últimos três meses.

Este cenário de aversão a risco de investidores estrangeiros em relação ao Brasil deve continuar nos próximos meses, enquanto não houver um avanço expressivo do ritmo da vacinação nacional?

Temos que lembrar que no contexto do desenvolvimento dessas tendências mais negativas no Brasil, o que está acontecendo também no cenário externo é o aumento das taxas de juros de (títulos do Tesouro) americano. E isso faz com que o investidor estrangeiro fique muito mais seletivo quando ele está em ativos emergentes, pois o custo de oportunidade está aumentando e continuará a aumentar na nossa perspectiva, pois os juros (dos treasuries) vão continuar a subir. Então, os contextos interno e externo permanecerão difíceis.

O Brasil não tem controle sobre o contexto externo, mas sim sobre o interno. No contexto interno, qual é a expectativa dos investidores internacionais para voltar a alocar capitais no Brasil sem avanço expressivo no ritmo da vacinação?

O Brasil não tem controle sobre o contexto externo, mas ele cria uma urgência para as decisões domésticas. O que será necessário é o investidor estrangeiro ver um compromisso com as âncoras fiscais no Brasil, com reformas econômicas e seria muito importante uma melhora das vacinações ou no controle da pandemia em termos de restrições econômicas.

O presidente Jair Bolsonaro demitiu 6 ministros nesta semana, inclusive o da Defesa, pois ele não concordava com a tentativa de Bolsonaro de politizar as Forças Armadas. Como os investidores estrangeiros avaliam as turbulências políticas no País?

É tudo parte da mesma história, como uma piora no cenário para o Brasil, que não é unicamente relacionada com as questões sanitária e fiscal, mas é mais abrangente, conectada a tensões políticas e seus impactos em termos de reformas econômicas e perspectivas para o País. O que vemos por parte dos investidores estrangeiros é que na alocação tática eles estão olhando para outros países, onde há uma perspectiva doméstica mais estável, como, por exemplo, o sul da Ásia, que apresenta valuations interessantes. Em relação a alocações estruturais, elas estão completamente dominadas para outros países da Ásia, como China, Coreia do Sul e Taiwan, onde temos visto potencial de crescimento muito superior a países desenvolvidos e com oportunidades de receita de longo prazo, em áreas de tecnologia e consumo. Então, o Brasil está ficando para trás nas alocações táticas e estruturais dos investidores estrangeiros.

Como o investidor estrangeiro vê o cenário fiscal para o Brasil com um quadro de baixas expectativas do avanço de reformas fiscais neste ano?

Podemos ver um reflexo deste quadro nos juros longos subindo no Brasil, com perspectivas de mais aumentos na Selic e a depreciação da moeda. Vemos os investidores reagindo a isso de forma negativa e com preocupação em relação à posição elevada de dívida pública do Brasil quando entrou na pandemia, depois com o aumento da dívida durante a pandemia, e agora, com a perspectiva de não ter uma âncora fiscal muito sólida e grandes mudanças neste ano. Já estamos vendo que o investidor não está gostando desta tendência e a questão fiscal é absolutamente critica, especialmente com o entorno externo, que está aumentando o custo para países emergentes que não melhoram a situação das contas públicas.

Neste contexto de dificuldades para o Brasil, o real continuará pressionado para se depreciar ante o dólar nos próximos meses?

Sem notícias melhores no contexto interno (do País) sobre reformas econômicas, âncora fiscal e vacinação, tudo isto continuará a pressionar o câmbio. Há também o contexto externo, de apreciação do dólar frente a outras moedas, pois a situação está melhorando muito mais nos EUA do que no Brasil e em alguns outros países emergentes. Em algum momento, a Selic chegará a um patamar que passará a compensar os riscos e começará a ficar interessante de novo para o investidor estrangeiro, mas ainda não chegamos neste ponto. É possível ainda ter alguns meses de depreciação e de volatilidade no câmbio no Brasil.

Neste contexto, é correta a avaliação de que na ótica do investidor estrangeiro o Brasil enfrentará tempos difíceis nos próximos trimestres?

Sim, é justo falar isto, que a perspectiva está piorando, que os riscos estão aumentando e o investidor estrangeiro vai pedir um prêmio para aplicar no Brasil. E até receber este prêmio ele preferirá investir em outros mercados, tanto para expressar uma alocação tática e capturar recuperação econômica global ou via uma alocação estrutural pensando no médio e longo prazos. E ambas as avaliações de curto e médio/longo prazos não estão favorecendo ativos brasileiros no momento.

O Banco Central precisará continuar fazendo intervenções no câmbio por mais algum tempo para evitar excessos de volatilidade no mercado deste ativo?

Essa é uma decisão do Banco Central. Mas pensando nos fatores que vemos pela frente, a volatilidade no câmbio pode continuar se não tivermos uma mudança nas situações fiscal, política e na questão sanitária.

E estas mudanças não estão no seu cenário-base, certo?

Sim, não estão pelo menos para este ano.

Estadão
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