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Estatais perdem R$ 113,2 bi em 2 dias com 'Efeito Bolsonaro'

Exigência na troca do comando da Petrobrás e o receio de intervenções ainda maiores fizeram a B3 ter a maior queda desde abril de 2020

23 fev 2021 - 05h10
(atualizado às 07h19)
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A intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobrás, com a exigência de troca no comando da petroleira e reclamações sobre a alta no preço dos combustíveis, provocou forte turbulência no mercado financeiro e acabou respingando nas demais estatais. O risco de um intervencionismo maior e adoção de medidas populistas fizeram as ações das três principais estatais do País (Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás) perderem R$ 113,2 bilhões em dois dias - o que equivale a quase o valor de um BTG Pactual, segundo dados da consultoria Economática.

Pedestre passa em frente à sede da Petrobras no Rio de Janeiro
REUTERS/Ricardo Moraes
Pedestre passa em frente à sede da Petrobras no Rio de Janeiro REUTERS/Ricardo Moraes
Foto: Reuters

Só na Petrobrás (incluindo parcela da BR Distribuidora) a queda foi de R$ 99,6 bilhões. As ações da empresa, que já tinham caído quase 8% na sexta-feira, despencaram 20,48% (ON) ontem e podem manter o desempenho negativo nos próximos dias. Pelo menos seis casas rebaixaram a recomendação para as ações e reduziram o preço-alvo da companhia para os próximos 12 meses. No Banco do Brasil, o valor de mercado recuou R$ 12,6 bilhões em dois dias e, na Eletrobrás, quase R$ 900 milhões.

Nesse cenário, com as principais ações do Ibovespa em queda, a B3 recuou 4,87% no pregão de ontem, a maior queda para um único dia desde 24 de abril do ano passado, quando o ex-ministro Sérgio Moro deixou o governo em meio a denúncias de tentativa de intervenção do presidente na Polícia Federal. A Bolsa paulista perdeu quase 6 mil pontos e fechou em 112.667 pontos - o menor patamar desde 3 de dezembro.

O dólar também sofreu com o mau humor dos investidores e subiu 1,27%, para R$ 5,45. Na máxima do dia, chegou a bater R$ 5,53, o que exigiu atuação do Banco Central (BC) para acalmar os ânimos. No total, vendeu US$ 3,6 bilhões e ajudou a dar certo alívio à moeda. Outro efeito das incertezas com a indicação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobrás foi o avanço do contrato de credit default swap (CDS), que mede o risco do País. O CDS subiu 11% em relação ao fechamento de sexta-feira, para 163,25 pontos.

Na opinião de especialistas, o discurso de Bolsonaro nos últimos dias fez lembrar as medidas de intervenção adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff no setor elétrico em 2013 e que provocaram prejuízos bilionários para as empresas e toda a sociedade. Pior: jogou por terra mais uma promessa feita durante a campanha eleitoral.

"Para o mercado, a decisão do presidente é uma decepção. A agenda de privatização não foi adiante, e a anticorrupção também não", diz o presidente da RB Investimentos, Adalbero Cavalcanti. Do ponto de vista econômico, diz ele, a alta do dólar por causa da turbulência financeira pode ter um reflexo inflacionário tão danoso quanto a alta dos combustíveis.

Na avaliação do economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto, todos esses ruídos geram um ambiente de imprevisibilidade e afetam as decisões de investimentos. Para ele, as preocupações surgidas nos últimos dias só devem se dissipar um pouco se houver algum avanço nas decisões sobre o novo auxílio emergencial. /RENÉE PEREIRA, LUÍS EDUARDO LEAL, CYNTHIA DECLOEDT e ALTAMIRO SILVA JUNIOR

Estadão
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